Encerramos este ano de 2020 com mais de 42.714 casos confirmados, 897 mortos em 161 diferentes povos indígenas afetados até o momento, em boletim de 22/12, da Plataforma de monitoramento da situação indígena na pandemia do novo coronavírus (Covid-19) no Brasil.

Segundo o monitoramento Emergência Indígena, o Amazonas foi o primeiro estado a ter a confirmação de indígenas contaminados e hoje concentra o maior número de mortes entre indígenas. As organizações indígenas chamam a atenção para o fato da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI) ser um dos principais vetores de expansão da doença dentro dos territórios indígenas, alcançando a região com maior número de povos isolados do mundo: o Vale do Javari.

Nesse período de isolamento social muitas lives com apresentações, discussões e seminários online revelam um Brasil indígena nas redes sociais que luta contra a Covid-19, contra o genocídio, o racismo institucional e ambiental, contra processos coloniais, contra o desmatamento, o garimpo e o agronegócio, contra violências de gênero direcionadas às mulheres.

Durante a produção da série Filhas da Terra, todas as 25 mulheres indígenas entrevistadas foram infectadas com o novo coronavírus ou tiveram algum parente próximo infectado. A situação continua instável e o número de casos confirmados crescem, assim como os subnotificados.

Organizações indígenas que atuam monitorando a Covid-19

Em razão de um contexto de conflitos, muitos povos indígenas lançaram monitoramentos semanais próprios, uma forma de alertar indígenas e não indígenas sobre a Covid-19 entre outras violências vividas. Conheça algumas organizações:

ARPINSUL – A Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul é uma organização que, desde 2006, tem o intuito de desenvolver meios para articular o movimento indígena da região Sul e unir os povos indígenas Kaingang, Xokleng, Xetá e descendentes de Charrua, com o objetivo de acumular forças políticas para se contrapor à avalanche de ameaças e agressões provenientes dos setores anti-indígenas.

ARPINSUDESTE – A Articulação dos Povos Indígenas da Região Sudeste inclui os estados de São Paulo e Rio de Janeiro. De acordo com o Censo do IBGE de 2010, no Estado de São Paulo, vivem 41.794 indígenas autodeclarados. No estado do Rio de Janeiro, vivem 15.894 indígenas autodeclarados, totalizando 57.688 pessoas. Se for aplicada a taxa de crescimento geral estimado pelo IBGE 2010-2020, de 11%, a população indígena residente nos estados em que a regional atua pode ser de mais de 64 mil pessoas.

APIB – A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil foi criada pelo movimento indígena no Acampamento Terra Livre de 2005. O ATL é a nossa mobilização nacional, realizada todo ano, a partir de 2004, para tornar visível a situação dos direitos indígenas e reivindicar do Estado brasileiro o atendimento das suas demandas e reivindicações.

APOINME – A Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo é uma Organização Indígena regional, criada em maio de 1990, durante o 1º Encontro de articulação de povos indígenas da região Leste e Nordeste do país, realizado na Terra Indígena do Pataxó Hãhãhãe, em Itabuna, Bahia. Com mais de 20 anos de existência, atua junto a uma população constituída por mais de 213 mil indígenas, em territórios e comunidades de 10 Estados compreendidos em sua área de abrangência (Alagoas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe).

ATY GUASU – A Grande Assembleia do Povo Guarani e Kaiowá é a organização mais antiga do movimento indígena, tendo iniciado sua atuação durante os anos 70, no estado do Mato Grosso do Sul e sendo uma importante força de articulação dos povos Guarani e Kaiowá na recuperação e defesa de suas tradicionais terras indígenas (tekoha).

COIAB – A Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira foi criada em 1989, tendo sua base territorial nos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins. A consolidação do movimento indígena organizado e as perspectivas de futuro dos povos indígenas do Brasil se fortaleceram mais a partir da década de 1990, tendo a Coiab um papel importante nesse cenário, tanto em nível regional, como nacional.

COMISSÃO GUARANI YVYRUPA (CGY) – é uma organização indígena que congrega coletivos do povo guarani das regiões Sul e Sudeste do Brasil na luta por território. O ato de fundação da Comissão foi uma grande assembleia, ocorrida em 2006, onde estiveram presentes mais de 300 lideranças políticas e espirituais na Aldeia Peguaoty, localizada no Vale do Ribeira, estado de São Paulo. As atividades oficialmente tiveram início em 29 de março de 2007, em cerimônia realizada junto à 6ª Câmara do Ministério Público Federal, em Brasília. Desde então, a CGY vem se apoiando nos modos próprios de organização guarani, nos quais se escutam os anciões e as lideranças para definição das estratégias de ação política na luta por direitos.

CONSELHO TERENA – O Conselho do Povo Terena foi constituído em 2012, e se localiza no estado do Mato Grosso do Sul. Desde a Guerra do Paraguai, o povo Terena do pantanal não se reunia. Após 177 anos, as lideranças Terena se reuniram, juntamente com representantes do povo Guarani, Kaiowá e Kinikinau, na terra indígena Taunay/ Ipegue, na aldeia Imbirussú nos dias 01, 02 e 03 de junho de 2012 para a as principais tomadas de decisão. O Conselho é então composto pelas lideranças de 24 aldeias no território, Associação dos Moradores indígenas do distrito de Taunay, juntamente com seus anciões, professores, diretores, acadêmicos indígenas, agente de saúde e suas organizações.

MARACÁ – Emergência Indígena: uma plataforma guarda-chuva de diferentes planos regionais e projetos voltados ao enfrentamento contra a pandemia. Para unificar todas essas ações, tocamos nosso “Maracá”, que é a frente de mobilização de todo esse processo amplo da nossa luta pela vida.

Mais de 50% dos povos indígenas do Brasil já foram atingidos diretamente pelo novo coronavírus

Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), juntamente com todas as suas organizações de base, lançou uma mobilização internacional Emergência Indígena. Com mais de 50% dos povos diretamente atingidos pela pandemia da Covid-19 neste mês de dezembro foi lançado o Relatório Covid-19 e Povos Indígenas: o enfrentamento das violências durante a pandemia.

“O primeiro caso confirmado da Covid-19 entre os povos indígenas, registrado no Brasil, foi de uma jovem Agente Indígena de Saúde (AIS) do povo Kokama, de 20 anos, no município de Santo Antônio do Içá, no Amazonas. Hoje os Kokama são os mais afetados em casos de mortes. Esse caso revela um padrão que irá persistir na entrada do vírus em muitos territórios, evidenciando a política anti-indígena do governo Bolsonaro”, revela o relatório. De acordo com o levantamento, o contágio foi feito por um médico vindo de São Paulo a serviço da Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI).

O trabalho de monitoramento realizado de maneira independente pelo movimento indígena com a divulgação de dados específicos diante da negligência histórica por parte do Estado é a luta pela garantia dos direitos de acesso à saúde diferenciada. São outros grupos culturais que fazem parte da sociedade civil, que se organizaram para realizar uma identificação comunitária de controle social para as atuações no território e no enfrentamento à pandemia.

“Muito mais do que números, foram nossos pajés, nossas rezadeiras e rezadores, parteiras, anciões e anciãs, cacicas e caciques que partiram. Perdemos os nossos velhos que guardavam as lembranças da memória de nossa ancestralidade, guardiões do conhecimento, dos cantos, das rezas, da nossa espiritualidade. Lideranças que dedicaram suas vidas à luta pela defesa do território, da integridade e da existência física e cultural de seus povos. Sofremos em nosso luto por essa tragédia que atinge não somente nós, indígenas, mas toda a humanidade”, diz o documento.

A pandemia não acabou e seguimos lutando pela vida!

*A série do Portal Catarinas Filhas da Terra: Mulheres indígenas em luta contra a pandemia Covid-19 publica textos que abordam o contexto de como as mulheres indígenas estão vivendo na atualidade e de que forma o novo coronavírus vem afetando o cotidiano dos povos indígenas. Esta é a última postagem da série nesse ano. Agradecemos o apoio de todas as mulheres indígenas que participaram e nos deram as mãos durante o processo de produção. Para 2021 iremos rever o formato e as publicações serão eventuais, diluídas no conteúdo do Catarinas.

Equipe: Vandreza Amante (jornalista), Inara Fonseca (jornalista), Paula Guimarães (jornalista) e Pietra Dolamita Kuawa Apurinã (conselho editorial).

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  • Vandreza Amante

    Jornalista feminista, antirracista e descolonial atua com foco nos olhares das mulheres indígenas. A cada dia se descobr...

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