Jana Gularte apresenta na próxima quinta-feira (18), às 20h, o espetáculo Fados, Cravos e Rosas, no Teatro Álvaro de Carvalho (TAC), em Florianópolis. A intérprete lança mão de toda sua potencialidade dramática com um repertório que mescla canções populares portuguesas com músicas brasileiras e textos autorais. Com direção artística de Tatiana Cobbett, o show conta com a participação da flautista Larissa Galvão, do violonista Pedro Lock e do guitarrista Rafael Meksenas na execução e interpretação de arranjos.

Fados, Cravos e Rosas provoca reflexões sobre o momento político ao evocar a memória da insurgência portuguesa que derrubou o regime salazarista, em 1974, conhecida como Revolução dos Cravos. Marcado pela dramaticidade do fado, o espetáculo é uma ode à liberdade e à revolução por meio da luta, representada pelos cravos, e do amor e empatia, pelas rosas. Surgiu da urgência da artista de levar questões políticas ao palco e propor um trabalho “revolucionário”. “Graças às experiências da Tatiana em Portugal, passei a entender que o gênero fado, longe de ser a música do nosso colonizador, era a expressão artística de um povo frente suas emergências urbanas e suas dificuldades”, afirma Jana.

Esta segunda edição do show, depois de um ano da primeira apresentação, traz mudanças no repertório de textos e músicas, como a inclusão da obra “Tudo o que vivi”, composta por Iara Germer especialmente para a intérprete. A música foi cantada pela primeira vez no palco do Sonora Ciclo de Compositoras e no espetáculo Elas por Elas. “Temos muito mais em comum do que a língua portuguesa entre nós, e cantarmos nosso destino, nosso fado em comum, é o convite que fazemos a quem vai assistir ao espetáculo”, diz a cantora.

Foto: Luiza Filippo

Marginalidade e transgressão
O primeiro contato da artista com a música portuguesa foi no início de 1995, quando, ainda adolescente, esteve em Portugal, por três meses. Convidada a desenvolver um trabalho de música brasileira com um artista conterrâneo, conviveu com Ranchos Folclóricos e Tunas Universitárias. “Ouvi muita música folclórica, participei de ternos de Reis e fiz um contato breve, mas profundo, com o fado. Quando voltei ao Brasil, cheguei a fazer alguns shows de fado, mas depois voltei ao meu eixo que era a música brasileira”, conta.

Ao estudar o fado no desenvolvimento do espetáculo, ela passou a entender a sua força enquanto música de protesto. Nascido nos contextos populares, o gênero conhecido pela dramaticidade da voz à marginalidade e à transgressão. “Há um equívoco associá-lo ao colonizador. Seria algo como pensar o blues estadunidense como música imperialista. Um povo, não é necessariamente, partícipe das ações de seus governantes, reis ou imperadores. Muitas vezes eles são também vítimas destes poderosos”, defende.

Ao contrário de valorizar o poder vigente, o fado aponta as fraturas sociais expostas, cantando suas dores e amores de forma explícita: denunciando-as.  “Buscamos, no show, amalgamar este espírito aguerrido e ao mesmo tempo doce e dramático do fado, ao nosso destino e sofrimento enquanto povo brasileiro. Fado significa destino. Cantar de forma visceral nossas angústias, costurando as músicas com textos e falando dessa irmandade na dor, enquanto povo que é vilipendiado nos aproxima da música e da cultura portuguesa. Misturando tudo isto de forma poética”.

“As sete mulheres do Minho
Mulheres de grande valor
Armadas de fuso e roca
Correram com o regedor

Essa mulher lá do Minho
que da foice fez espada
há-de ter na lusa história
uma página doirada

Viva a Maria da Fonte
com as pistolas na mão
para matar os Cabrais
que são falsos à nação”

Foto: Luiza FilippoImportância das mulheres
O fado traz também referências da luta feminista ao ter como ícones mulheres como a cantadeira de fados Maria Severa. Severa era cantadeira, tocava guitarra portuguesa e dançava. Prostituta na Lisboa do século 19, foi uma grande expoente do estilo, que era marginalizado assim como mulheres como ela. “Chamou-me muito a atenção ela ser a personagem que tem o crédito de tirar o fado da zona marginal e o levar às outras classes. Como tenho me envolvido mais na luta feminista, consegui enxergar com lentes mais precisas o quanto o gênero tem de interessante nesta questão”.

 

 

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