Neste domingo (6), os mais de 410 mil eleitores de Florianópolis escolhem seu próximo prefeito e vereadores. Foram 50 dias de campanha eleitoral, com discussões sobre temas da cidade – como mobilidade urbana, saúde e moradores em situação de rua – e trocas de acusações nas redes sociais e em debates.
Desde o início, as pesquisas Quaest, encomendadas pela NSC, mostravam o candidato à reeleição Topázio Neto (PSD) na liderança e um empate técnico entre Dário Berger (PSDB) e Marquito (PSOL).
“São duas grandes questões que envolvem o resultado do próximo domingo em Florianópolis, a primeira delas é se vai haver segundo turno”, diz Daniel Corrêa, professor de Relações Internacionais, Direito e Comércio Exterior da Univali.
“E havendo segundo turno em Florianópolis, nós também temos uma questão que é: esse segundo turno vai se dar com o candidato do PSOL, Marquito, ou vai ser com o ex-prefeito Dário Berger?”, complementa.
A reeleição de Topázio em primeiro turno também não é “descartada completamente” pelo professor de Administração Pública Daniel Moraes Pinheiro, pesquisador da área de Cultura Política da Udesc.
No entanto, Florianópolis tem histórico de eleições para a prefeitura com segundo turno. “Até porque na última semana da campanha eleitoral, os candidatos tendem a vincular campanhas mais agressivas em relação àquele candidato que desponta como favorito para vitória em primeiro turno”, analisa o mestre em Sociologia Política Eduardo Guerini, professor da Univali.
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Os possíveis cenários de 2º turno, segundo a pesquisa Quaest
A Quaest, divulgada em 17 de setembro, aponta Topázio com 43% das intenções de voto, Dário com 15% e Marquito com 14% – com esses dois últimos empatados tecnicamente, devido à margem de erro, e disputando, nessa reta final, a preferência do eleitorado para se garantir no segundo turno.
Lela (PT) aparecia com 6%; Pedrão (PP), 5%, Brunno Dias (PCO), 1%, Mateus Souza (PMB): 1% e Rogério Portanova (Avante) e Carlos Muller (PSTU), com 0%. Indecisos somavam 10% e branco/nulo, 5%. A pesquisa entrevistou 852 pessoas, tem nível de confiança 95% e margem de erro de três pontos percentuais para mais e para menos.
“A gente tem aí uma possível disputa interessante num segundo turno, que pode ser uma disputa de visões”, já que Dário e Marquito “são candidatos com ideologias e perfis bem diferentes”, diz Pinheiro.
Um segundo turno entre Topázio e Dário, avalia o professor da Udesc, “seria uma disputa de grupos políticos tradicionais, mas de propostas que hoje estão em rota eu diria de colisão. Mas aquela colisão do mesmo lado”.
Para Daniel Corrêa, caso Dário vá para um segundo turno, “existe uma possibilidade de transferência maior de votos de candidaturas da oposição, como o próprio Marquito, e também candidaturas como a de Pedrão e Lela”.
O professor lembra que, em 2022, Dário era filiado ao PSB e foi candidato ao Senado numa coligação entre o seu partido e o PT. “Essa conjunção de fatores pode ameaçar uma reeleição do atual prefeito Topázio Neto, na medida em que ele teria mais dificuldades de reunir votos das candidaturas de oposição”.
Já uma eventual ida de Marquito para segundo turno mostraria “um perfil diferenciado do eleitor da capital catarinense, onde a esquerda não reduziu tanto quanto em outros locais do Estado”, explica Daniel Pinheiro. Além disso, a população decidiria entre dois planos de governo que são bem diferentes.
Para Guerini, se isso ocorrer, “a esquerda vai tomando envergadura no processo eleitoral de Florianópolis, retomando espaços perdidos a partir de 2016”.
Debates sobre a cidade e sem atuação de Lula e Bolsonaro
A campanha eleitoral para a Prefeitura de Florianópolis “teve uma série de temáticas que são bastante específicas de um debate municipal”, na avaliação do professor da Univali Daniel Corrêa. Ele aponta as discussões sobre mobilidade urbana, moradia e especulação imobiliária, “além do debate sobre pessoas em situação de rua e a forma de dar algum tratamento mais adequado a esse público”.
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Outro assunto que predominou na campanha eleitoral foi a questão da saúde, “porque os indicadores tiveram uma deterioração nos últimos anos, não só na administração desse atual prefeito, mas há pelo menos três administrações”, explica Corrêa.
Pinheiro pondera que a campanha poderia ter discutido, ainda mais, a cidade.
“Novamente, a gente está discutindo muito mais a disputa política do que a cidade em si”, avalia.
Diferente de muitas capitais brasileiras, a campanha em Florianópolis não foi nacionalizada e polarizada entre Lula e Bolsonaro. Lela (PT) apostou na imagem do atual presidente da República e tentou explorar o apoio do governo federal aos projetos de mobilidade e conscientização ambiental.
“Mas a figura de Lula especificamente passou ao lado da campanha de Florianópolis. O mesmo aconteceu com o ex-presidente Jair Bolsonaro, que esteve em Santa Catarina e sequer teve agendas de campanha em Florianópolis”, pontua Corrêa.
Câmara de Vereadores: perfil dos candidatos e a campanha eleitoral
Floripa tem 308 candidatos à Câmara de Vereadores: 64% são homens e 36%, mulheres, segundo o TSE. A maioria, 235, se autodeclara branca; 38 são pretos; 32, pardos; dois indígenas e um não informado.
Entre as principais ocupações dos candidatos estão empresário (12,6%), vereador (6,17%), advogado (5,84%), administrador (5,19%) servidor público municipal (3,57%), professor de ensino fundamental (3,57%), estudante, bolsista, estagiário e assemelhados (3,57%).
O professor Daniel Pinheiro diz que a disputa por cadeiras na Câmara ainda está em aberto, “porque nessa reta final a presença junto ao eleitorado de base é muito importante e isso vai ser determinante nessa semana, nos últimos dias, antes das eleições”.
Guerini pondera que a disputa para o cargo de vereador em Florianópolis exigirá bons puxadores de votos individualmente, “já que não existem coligações e partidos que consolidem uma vinculação representativa junto ao eleitorado. Portanto, nós poderemos ter uma disputa por cadeiras bastante acirrada”.
No entanto, as federações formadas na eleição de 2022 seguem juntas nesse pleito – inclusive para candidaturas de vereadores. Com isso, pode-se ter um fortalecimento de partidos da federação na estrutura da Câmara, entende Guerini. Hoje, o Brasil tem três federações: Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), Federação PSDB/Cidadania e PSOL/Rede.
Nessa busca por uma das 23 cadeiras, percebem-se estratégias diferentes adotadas pelos candidatos. Há aqueles que estão na rua, conversando com a população, mas há muitas candidaturas mais tímidas, de bastidores, pontua o professor Daniel. Para ele, a esquerda está bem mobilizada para, pelo menos, manter as quatro cadeiras que conquistou em 2020: PSOL tem três e o PT, uma.
O professor Daniel Corrêa analisa que, neste pleito, o cenário é mais favorável ao PT em comparação às eleições passadas, “tendo novamente o governo federal e com muito mais máquina e recurso para fazer campanha”, com chance de que a sigla conquiste mais uma cadeira.“No entanto, isso não me parece que ampliará o que seria uma bancada de esquerda na Câmara de Vereadores de Florianópolis, essa ampliação de uma cadeira a mais do Partido dos Trabalhadores têm boas chances – obviamente, isso é algo incerto – de se dar em torno da perda de uma das cadeiras do próprio PSOL”, avalia.
Além disso, a tendência é de que partidos de direita mantenham sua força na casa legislativa. Corrêa pontua, inclusive, o fortalecimento de pautas de segurança pública entre as candidaturas da direita. Tradicionalmente, a estrutura da Câmara de Florianópolis é formada por cerca de seis vereadores mais de oposição ao prefeito, com as demais vagas ocupadas por partidos de centro e de direita. “O que tende a se manter é uma uma composição da Câmara de Vereadores”, resume.