Na última quinta-feira, um caminhão parou de funcionar na SC-401, no bairro João Paulo. O caso foi suficiente para deixar toda a região com trânsito intenso. A situação não é novidade para os moradores de Florianópolis, e um dos motivos de a cidade registrar tantos congestionamentos é o formato particular do sistema viário, chamado de espinha de peixe.

O doutor em Urbanismo e professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Elson Manoel Pereira, explica que a mobilidade da cidade depende de uma via central, que recebe o fluxo de outras ruas, e é responsável pelo acesso a diversos pontos da cidade, como o que acontece com a SC-401, que liga o Norte com o Centro da Ilha. Se essa avenida principal registra congestionamento, “tudo que é ligado nela vai sofrer os efeitos”, explica.

Outro aspecto que contribui para o trânsito intenso é a forma de ocupação dispersa da Ilha. “Você tem população no território inteiro e isso faz com que as pessoas precisem se deslocar muito”, diz o professor. Além disso, o deslocamento em Florianópolis é feito, majoritariamente, de carro individual – ou seja, são muitos veículos nas ruas, o que facilita a formação de congestionamentos. 

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Soluções passam por vontade política

Apesar de todos esses fatores, a mobilidade urbana de Florianópolis tem soluções que passam, invariavelmente, pela vontade política, destaca o professor Elson Manoel Pereira.

Primeiro, é preciso fortalecer o órgão de planejamento: “Hoje ninguém pensa a cidade de Florianópolis”, diz. O pensar pode incluir intervenções estruturantes no sistema viário como um todo – e não só em partes isoladas da cidade. Além de evitar que as pessoas façam deslocamentos desnecessários, com concentrações maiores de postos de trabalho, por exemplo, no norte e no sul da ilha.

Outro ponto é a execução de um projeto de mobilidade. O professor cita o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis (Plamus), que foi elaborado pelo governo de Santa Catarina há 10 anos e ainda não saiu do papel. 

Conforme Pereira, o projeto prioriza os ônibus de trânsito rápido (conhecidos como BRT) com pista exclusiva – assim o transporte coletivo não enfrentaria os congestionamentos, tornando-se uma opção mais rápida e atrativa do que os carros – o que, consequentemente, reduziria o número de veículos nas ruas.

O Plamus, no entanto, exige alto investimento, estimado em cerca de 1 bilhão de dólares. Mas o professor ressalta que as obras e melhorias poderiam ser executadas aos poucos. “Se você assume esse plano, pode fazer em etapas. Nos últimos 10 anos a gente fez várias obras em Florianópolis que poderíamos ter feito através do Plamus, que prioriza ônibus que anda em pista exclusiva”.

Por último, é necessário rever qualquer possibilidade de implantar “equipamentos” que envolvam a circulação de veículos sem que haja contrapartida: “Implantar shopping é um terror, já que atrai muitos carros”, exemplifica. Pereira defende que seria melhor ter pequenas soluções de comércio nos bairros do que ter um grande empreendimento dentro da ilha. 

“Parece simples ao falar, mas se não houver vontade política para implantar isso a longo prazo, não vai sair”, finaliza.

E o que os candidatos prometem?

A Expresso analisou os planos de governo dos candidatos à prefeitura de Floripa, cadastrados no site do Tribunal Superior Eleitoral, em busca de propostas para a mobilidade urbana da cidade. Veja alguns trechos:

Brunno Dias (PCO): cita que “problemas de trânsito se resolvem com uma maior organização da malha urbana e mais transporte público e não com multas” no tópico do plano de governo chamado “radares e a indústria da multa”. 

Carlos Muller (PSTU): destina uma parte do plano de governo para debater a mobilidade urbana. Diz que Florianópolis é “uma das capitais brasileiras com pior mobilidade urbana”, que “a saída para toda essa situação já foi apontada pelas enormes mobilizações pelo passe livre” e defende a estatização dos transportes públicos e dobrar o número de ônibus em circulação. Além disso, critica a inexistência de transporte marítimo pelas baías sul e norte da capital e diz que a implementação das balsas também reduziria o trânsito nos deslocamentos entre Florianópolis, São José, Palhoça e Biguaçu. “A única forma de se implementar o transporte marítimo na Grande Florianópolis é através da municipalização dos transportes e criação de uma empresa pública de transporte do município”.

O candidato afirma, ainda, eu seu plano de governo que o trânsito na Grande Florianópolis é sobrecarregado devido à especulação imobiliária. “Os aluguéis caríssimos na capital, em especial nos bairros mais favorecidos, levam a que a população trabalhadora seja obrigada muitas vezes a morar fora de Florianópolis, nas cidades próximas, em busca de aluguéis mais baratos, mas distantes de seus locais de trabalho, o que gera um fluxo diário pelas pontes, atravancando o conjunto do sistema viário da cidade. O combate à especulação imobiliária, que explicamos mais adiante, também é parte da solução do problema da mobilidade urbana”.

Dário (PSDB): “Planejar a mobilidade urbana da ilha em função de um novo modelo de morar, trabalhar, ter lazer e viver. Tudo mais perto da moradia para diminuir o tempo de viagem, incentivando o modal a pé, de bicicleta e transporte público. Incrementar o transporte circular nos bairros levando as pessoas ao terminal, incentivar as empresas a se instalarem nos distritos e empregar as pessoas ao seu redor. Deve-se ampliar as ciclovias existentes”.

O candidato fala também de mudanças que incluem o trânsito ao tratar da infraestrutura da cidade, em que sugere:

  • Execução da segunda etapa da construção da Beira-Mar do continente
  • Continuidade de construção das marginais da terceira faixa da SC-401, do elevado do Itacorubi até o trevo de acesso ao Cacupé e do Cacupé ao elevado de acesso à Jurerê. Da mesma forma, serão realizadas obras de construção da 3ª faixa na SC 401, principalmente na subida do Morro das Madeireiras e Cacupé
  • Implantação da quarta faixa na SC-404, do cemitério do Itacorubi até o Morro da Lagoa
  • Projeto para viabilizar uma nova faixa no Morro da Lagoa
  • Execução de duas faixas na Beira-Mar Norte, uma de cada lado, entre o elevado do Rita Maria até a UFSC. Com uma nova alça no elevado do CIC, sentido Beira-Mar/Praias. Fazendo também uma nova faixa na reta da Avenida da Saudade
  • Duplicação na SC-405, entre o Trevo da Seta até o Trevo do Campeche, com execução de um elevado no Trevo do Campeche, sentido Avenida Pequeno Príncipe ao Sul da Ilha
  • Efetuar pavimentação asfáltica com drenagem em todas as ruas da cidade
  • Construção de trapiches e marinas em 5 (cinco) Regiões (praias) da ilha e 2 (duas) do continente servindo para passeios e transporte marítimo. Instalação de passarelas entre a praia da Joaquina e o Morro das Pedras
  • Implantação de Anel Viário: da Antônio Edu Vieira até a Via Expressa Sul. Ampliando a capacidade em mais duas pistas da Antônio Edu Vieira, desde a UFSC até o entroncamento com a via Expressa
  • Execução das obras de ampliação da Beira-Mar até UFSC e da ampliação da Rua Antônio Edu Vieira até via Expressa Sul

Lela (PT): introduz o assunto de mobilidade urbana falando do crescimento desordenado das cidades que produz “reflexos negativos sobre os transportes urbanos e leva a cidades menos acessíveis para todos os habitantes”. “Nós queremos mudar isso, através de uma política de investimentos que favoreça o transporte público e uma política de uso de solo que leve em conta a mobilidade urbana” Como medidas propõe:

  • Implementação de Tarifa Zero Progressiva, iniciando com estudantes e população de baixa renda
  • Investimento em frota elétrica de ônibus urbano
  • Infraestrutura pública para ciclistas, inclusive com pelo menos mais 70 quilômetros de ciclovias no município;
  • Criação da Lei de Municipalização das calçadas, permitindo o município atuar no calçamento da cidade;
  • Implantação da rede pública de transporte hídrico.

Marquito (PSOL): contextualiza a questão da mobilidade urbana e cita o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável (Plamus) que, há 10 anos, “reforçou a importância e a urgência de investir em um transporte público estruturado e de qualidade, apontando para a construção de sistema de BRT (ônibus de trânsito rápido)”. Elenca 11 propostas para melhorar a mobilidade urbana:

  • Priorizar o investimento em transporte público, buscando a ampliação das linhas e horários, especialmente durante os finais de semana e feriados. Realizaremos estudos para identificar as principais demandas por novas linhas, visando a integração nos bairros e reduzir os tempos de deslocamento. Buscaremos também a implementação de veículos menores para itinerários específicos;
  • Criação do Fundo Municipal de Mobilidade Urbana por meio de estudos sobre formas de financiamento, visando ampliar o investimento em transporte público, em infraestrutura e na redução da tarifa;
  • Pautar a atualização e implementação do Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis (PLAMUS) a partir do diálogo com as prefeituras da Grande Florianópolis. Buscaremos a integração do transporte público metropolitano e a implementação gradual de sistema BRT, iniciando pela construção de corredores exclusivos de ônibus a partir de investimentos federais; 
  • Implementar a Tarifa Zero, de forma gradual, no transporte público por meio do Fundo Municipal de Mobilidade Urbana, garantindo a sustentabilidade orçamentária e a qualidade do transporte;
  • Reestruturação dos contratos de concessão do transporte público, buscando substituir a forma de financiamento via tarifa pela remuneração por viagem realizada e a recomposição dos quadros de funcionários;
  • Pautar a substituição gradual da frota por ônibus elétricos, junto ao governo federal e o BNDES, visando a redução do impacto ambiental e dos custos de rodagem;
  • Fortalecer o Conselho Municipal de Mobilidade Urbana (CONMURB), garantindo seu funcionamento com representatividade dos distintos setores e integrando-o ao Sistema Municipal de Participação Social (SMPS); 
  • Realização de estudos para redução de velocidade em vias residenciais e de grande circulação de pedestres, implementando equipamentos como faixas elevadas (lombofaixas);
  • Promover a integração entre diferentes modos de deslocamento, integrando de forma eficiente ônibus, veículos particulares, bicicletas, pedestres e o sistema aquaviário, criando uma rede de transporte coesa e sustentável;
  • Criar programa de reformas e instalação de calçadas, vinculado a políticas de acessibilidade em calçadas e para uso de transporte público para idosos, pessoas com deficiência ou pessoas com mobilidade reduzida;
  • Realizar programa de ampliação e melhorias da rede cicloviária do município, priorizando a implementação de ciclovias de forma integrada e a construção de bicicletários públicos. Vamos implementar também medidas de segurança para os ciclistas, especialmente nas rodovias e vias de alta velocidade;

Mateus Souza (PMB): introduz o assunto falando que “a humanização do trânsito está entre as prioridades” e propõe implantar “amplo programa educativo, com abordagens de orientação a crianças, jovens e adultos de todas as idades, objetivando resgatar valores de respeito e solidariedade e de reduzir acidentes”. Diz que “a política de multar será antecipada pela política de educar”. Depois, cita que “realizaremos um amplo estudo viário, com mapeamento de pontos (e horários) críticos de trânsito intenso, para providências pontuais e planejamento de ações de curto, médio e longo prazos. Pretendo estabelecer mecanismos de incentivo para o uso de transporte coletivo por meio de programas de micro-mobilidade. É preciso também criar meios para auxiliar o cidadão a tomar melhores decisões de itinerários, horários e modos de transporte usando a tecnologia”.

Propõe, ainda, a ampliação de corredores exclusivos de ônibus e o aprimoramento da integração com o transporte metropolitano é essencial para reduzir o tempo de transporte do usuário e garantir uma qualidade de vida melhor. “Pretendo realizar melhorias do entorno das áreas de estações de transporte coletivo, pois muitos usuários necessitam de caminhar um trajeto a pé até sua residência ou trabalho, ou até mesmo, realizar baldeações”, finaliza.

Pedrão (PP): dividiu o plano de governo em eixos temáticos. A mobilidade urbana está no eixo Desenvolvimento Urbano Sustentável, mas não há a explicitação de propostas para melhorar a mobilidade no plano de governo. “Vamos promover um desenvolvimento urbano responsável, pensado e alinhado com o futuro que desejamos, “com menos não e mais sim”, com segurança jurídica e clareza de regras, sempre respeitando a realidade ambiental do nosso território. Neste eixo reunimos as áreas de Saneamento Básico, Planejamento Urbano, Infraestrutura, Mobilidade, Meio Ambiente e Segurança Pública”, diz o texto.

Portanova (Avante) No TSE, registrou uma “síntese inicial do plano de governo”, com os principais princípios a serem seguidos pela chapa. Entre eles, o “transporte público coletivo e individual de massa (bicicletas e

ciclovias)”

Topázio (PSD): diz quea mobilidade urbana eficiente é fundamental para Florianópolis, contribuindo para a redução do tempo de viagem, diminuindo o estresse do trânsito e impulsionando o desenvolvimento econômico ao melhorar o acesso aos serviços e às oportunidades de emprego”. Diz que, “além de continuar os investimentos nas medidas já estabelecidas na última gestão”, pretende implementar 11 novas estratégias para melhorar a mobilidade urbana:

  • Criação de eixos de BRT
  • Novas linhas de ônibus para praias
  • Integração das linhas metropolitanas de ônibus
  • Ampliação do Formiguinha
  • Transporte marítimo
  • Ampliação do parque semafórico inteligente
  • Programa de reestruturação e qualificação das calçadas
  • Melhorar Ecossistema de bicicletas
  • Ampliação da Infraestrutura de acessibilidade
  • Plano Distrital de Impulsionamento e Fortalecimento das Microrregiões
  • Masterplan dos aterros
  • Simplificação da legislação dos espaços públicos.

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  • Raphaela Suzin

    Jornalista freelancer formada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), com especialização em Jornalismo Digital pel...

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