Sinapse e o paradoxo
Axônio manda. Dendrito recebe. É a lei da comunicação neuronal. Nunca se encontraram, nem se viram uma única vez. Axônio mandando e Dendrito recebendo. Sempre.
Enquanto Axônio dá, Dendrito ganha. Axônio envia, Dendrito pega. Axônio atira, Dendrito…
– Dendrito?
– Essa não! Isso daí, não quero, não.
– Como não quer? Você não tem querer, tem que pegar!
– Essa coisa? Nem pensar!
– Você não pensa, você recebe!
– Não, não e não.
Arma-se uma grande confusão na sinapse, neurotransmissores se alvoroçam confusos e apavorados, sem saber o que fazer com a informação desprezada.
– Leva de volta! – grita o insultado Dendrito.
– Não posso! – exclama Axônio, que só sabe dar.
– Então aprende, porque esse negócio daí não recebo mesmo!
Uma ala urgente de peptídeos aparece em meio ao tumulto, ameaçando severamente Dendrito, amarrando seu terminal:
– Engole! – vociferam.
Sem chance de quebrar a lei da rede neuronal, Dendrito engole o sapo inteiro. Humilhado. Devastado. Quimicamente derrotado.
Mas essa história não precisa terminar aqui. Depois do sapo engolido e da humilhação vivida, Axônio para de mandar informações que possam machucar nosso corajoso Dendrito.
Ou, não?