Fotografar mulheres lésbicas no espaço universitário, sendo eu mesma lésbica também, foi uma experiência marcante e transformadora. Com namorada ou solteira, em turma ou sozinha, celebramos o amor entre mulheres. A pergunta que eu fiz para propor uma atitude durante as fotos “como você gostaria de andar pelo campus sem se preocupar em ser apontada ou agredida?” foi respondida somente com um sorriso, e as fotos fluíram com a leveza de estarem sendo elas mesmas, quase uma dança de tanta alegria.

Acolhidas e amparadas pela turma e pelo evento “tomada fotográfica”, ao se juntarem mais mulheres, o tema passa a ser “existimos, sim!”. Da celebração da homoafetividade passamos a ocupar os espaços que nos contaram que não era nosso. Mas também é nosso.  Interrompemos o tráfego em uma das avenidas que cortam a universidade – entre buzinadas raivosas e acenos de “é isso aí!”.

Interrompemos o andar nervoso dos estudantes no Restaurante Universitário na hora do almoço, trocamos cumprimentos lésbicos, brincamos com o guarda chuva “arco-íris” nas filas, escadarias, na Reitoria. Até que recebi um pedido: “queremos ser fotografadas nos espaços onde fomos agredidas.” Na pausa entre uma tomada e outra, sentamos na mesa de um dos bares mais conservadores da UFSC, e passamos a conversar sobre nossas vidas como lésbicas, aceitação ou não da família, namoros, e chegamos a uma conclusão insólita. A última barreira para sair do armário não são os pais, mas as avós.

Nossa maneira de amar nos acompanha todos os minutos do dia: uma parte de nós que nos proporcionou maturidade, engajamento, autoconhecimento, para viver relações afetivas por inteiro. Processo que nenhum heterossexual passa, o de se questionar o porquê, se posso ou não posso, se deus castiga ou não. Uma parte nossa porque continuamos sendo estudantes, profissionais, mães, filhas, amigas, cidadãs plenas. Uma parte nossa que durante uma tarde foi nosso vínculo eternizado em imagens. Foi a nossa vez – e rara vez – onde o que somos foi devidamente celebrado.

E a cada geração o processo de aceitação tem seu tempo diminuído. E a cada dia que passa, o que nesse dia celebramos e vivemos como gostaríamos de viver todos os dias, vai ser vivido todos os dias. Sem medo, sem precaução, sem olhares espantados, tanto de desprezo quanto de admiração. Aí sim, realmente, nossa orientação sexual será apenas isso: orientação sexual.

 

 

 

 

*Mostra de fotografias Entre elas: amor, visibilidade e resistência lésbica!, resultado do trabalho das fotógrafas Chris Mayer e Maria Luísa Coura. Uma exposição idealizada e produzida pelo CEDGEN/SAAD para o Dia da Visibilidade Lésbica na UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina.

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  • Chris Mayer

    Chris Mayer é fotógrafa, jornalista, escritora e palhaça. Dedica-se à fotografia de palco, dramaturgia cômica, crônicas...

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