Abertura da programação do 8M, em Florianópolis, ocorre neste carnaval com a batida do bloco Cores de Aidê
Com o tema “Da terra aos nossos corpos: respeitem nossas histórias” é que a frente feminista 8M abre a programação alusiva ao 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres, em Santa Catarina. Pelo menos quatro atividades oficiais estão programadas para ocorrer na Capital. Integrantes do movimento em outros municípios também articulam atividades locais.
O Carnaval das Injustiças, que ocorre nesta segunda-feira (28), às 18h, no Largo da Catedral, promete botar o bloco feminista na rua para denunciar inúmeras violências sofridas pelas mulheres, especialmente as indígenas, quilombolas e agricultoras familiares, que são atacadas em seus territórios diante do avanço do agronegócio. A campanha também chama atenção para todos os ataques violentos direcionados aos corpos femininos como os feminicídios, estupros, racismo, destituição do poder familiar e todos os tipos de violências e abusos.
“A ideia nasceu com o caso da mãe Gracinha que a Justiça de Santa Catarina, em uma atitude bem racista, tirou as duas filhas dela. A tentativa era fazer um diálogo entre o caso mãe Gracinha e o caso Andrielli. Mas várias outras pessoas injustiçadas também se manifestaram e trouxeram questões como a LGBTfobia e os oito feminicídios que ocorreram em 2022 em SC, por exemplo. Não tem como falar de uma única injustiça”, avaliou a advogada feminista e ativista do 8M, Iris Gonçalves Martins.
A campanha de 2022 também promete uma homenagem à Elza Soares. O material de divulgação foi todo pensado a partir de trechos de suas composições, uma vez que as músicas da cantora conversam com as demandas trazidas pelas mulheres nas reuniões deste ano.
“A gente começou o debate dizendo que seria importante ter o nome da Elza [na campanha] por toda a luta que ela levantava através da música. É uma forma de denunciar todas as coisas que estão acontecendo [hoje], fazendo uma referência ao que ela chamou de ‘planeta fome’ quando apareceu em público pela primeira vez [aos 13 anos]”, revelou Ingrid Sateré Mawé, que além de integrante do 8M é membra do Movimento Bem Viver e conselheira do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim).
Para representar essas violências trazidas para o debate ao longo de sete encontros que ocorreram entre janeiro e fevereiro, um varal com nomes de vítimas será pendurado no ato que ocorrerá nesta segunda-feira de Carnaval. O bloco Cores de Aidê é quem vai rufar os tambores na abertura do evento.
Andrielli Amanda dos Santos, 21 anos, que teve a bebê Suzi tirada dos braços ainda na maternidade pelo Conselho Tutelar, vai abrir a roda de conversa trazendo o seu relato. Após seis meses lutando pela recuperação da guarda da filha, tendo o direito a visitas reduzido a videochamadas, ela finalmente adquiriu a guarda provisória da criança. O microfone também estará aberto para que outras pessoas se manifestem.
Marcha
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No dia 5 de março está programada para ocorrer a Feira Feminista, na Avenida Hercílio Luz, para ajudar artesãs e produtoras na geração de renda. O evento também vai contar com rodas de conversas sobre violência política e de gênero, além de economia solidária.
A programação fecha no dia 8 de março com a tradicional tenda que será montada na frente do Terminal Central (Ticen). O evento principal começa às 13h com rodas de conversa e distribuição de material e vai até as 18 horas, quando ocorre a Marcha do 8M. “As mulheres estão bem animadas, a gente tem visto a movimentação de outros setores que estão anunciando participação na marcha com a gente. O 8M é o pontapé das lutas na cidade e a marcha vai ser grandiosa novamente”, comemorou Mawé.
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8M nas Escolas
Ativistas do movimento já deram a largada em uma das atividades que promete levar as pautas para dentro das escolas. O 8M nas Escolas promete expandir as pautas do movimento para as turmas do ensino médio das escolas da região. Na última terça-feira, um grupo de mulheres do movimento instigou a discussão sobre a Cultura do Estupro nas salas de aula da Escola Estadual Aderbal Ramos da Silva. “Colocamos para os alunos o que queremos com a luta e fizemos a apresentação do 8M”, explicou Mawé.
As inserções em sala de aula devem ocorrer para além da programação do 8 de Março e serão realizadas a partir das demandas colocadas pelos professores e profissionais que atuam nas escolas e que tenham interesse em promover esse tipo de discussão.
O movimento que é articulado por grupos de mulheres e mulheres independentes já esteve presente em vários espaços importantes de debate público como a Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SC).
“O 8M é uma frente bem importante para o debate do feminismo na cidade. A gente queria acabar com a violência contra as mulheres, só que a gente não tem essa força, porque precisa de uma transformação social muito grande. Mas a gente vai fazendo de pouquinho em pouquinho”, disse Martins.
“Nós conversamos com mais de 200 adolescentes sobre a Cultura do Estupro na Aderbal Ramos e foi muito bom. A gente leva o tema de uma forma que não desrespeita as ideias que eles têm, mas causa algum desconforto para que eles olhem o mundo por outra ótica. Então, a gente não vai dar a solução dos problemas, mas vai causar desconfortos e levantar a bola para que a sociedade debata”, completou a advogada.
Serviço:
O que: Carnaval das Desigualdades – abertura da programação do 8M Elza
Quando: segunda-feira, 28 de fevereiro, às 18h
Onde: Largo da Catedral
Quanto: gratuito