No último sábado, um dia após o ato que reuniu milhares de manifestantes em Florianópolis, rappers da Batalha das Minas foram abordados de forma truculenta pela Polícia Militar de Santa Catarina, no chamado Terminal Velho, no centro de Florianópolis, onde o encontro ocorre todas as semanas. Segundo representantes do movimento, a abordagem foi violenta e preconceituosa, especialmente contra uma mulher transgênero. De acordo com as vítimas, a PM tentava identificar possíveis pichadores que deixaram prédios da cidade marcados nos últimos dias.

Uma MC que não quis se identificar conta que a batalha não havia começado ainda quando a polícia chegou. Segundo ela, é comum a passagem da PM pelo local durante as apresentações. Desta vez, no entanto, foi diferente. Uma viatura encostou antes mesmo de o movimento iniciar, enquanto integrantes aguardavam a chegada das demais rappers. Dois policiais fardados saíram do carro sem identificação nos coletes. “Se isso não representa tempos obscuros, não sei o que dizer. Agrupamento de pessoas já é motivo para abordagem policial cheia de acusação, hostilidade e grosseria. Senti muita vontade de chorar ao ver um movimento sério sendo alvo de preconceito e militarismo”, afirmou ela em denúncia feita nas redes sociais.

Abaixo parte do relato:

“(…) Chegaram gritando “atenção” e indagando quem que tava fazendo pichação pela cidade. A galera negou e eles insistiram perguntando quem portava sprays de tinta e caso não assumíssemos, eles iriam “passar a geral” em todo mundo e revistar um por um. Um amigo e uma amiga assumiram que portavam e que trabalhavam com grafite. Foram grosseiros desde o princípio e tivemos que conversar/explicar/justificar muito para que não levassem as tintas. Falaram a clássica “aqui é ‘sim senhor’ e ‘não senhor’!’. Perguntaram o que a gente tava esperando ali. Tentei conversar calmamente com um dos policiais para explicar sobre o movimento, ele gritou e disse que não estava falando comigo e logo em seguida me indagou se eu também possuía tinta. Eu disse que não e então ele mandou eu me calar. Eles pareciam muito raivosos, sempre falavam em tom acusativo e quando notaram que uma amiga trans estava filmando a ação deles, ficaram indignados e disseram que poderiam levá-la para a delegacia como testemunha se quisessem! Argumentaram que não estavam fazendo nada de errado e então rebatemos dizendo que filmar não é crime e que se não estavam fazendo ‘nada de errado’, não tinham o que temer. Disseram que se a gente apagasse do celular, estaria tudo certo. Foram transfóbicos, repetiram inúmeras vezes ‘fala pra essa, essa… pessoa apagar o vídeo’ e quando rebati que ela era uma mulher e que era assim que deveria ser mencionada, um deles foi muito sarcástico/grosseiro me respondendo que não a conhecia pra saber se era homem ou mulher e que para ele era uma pessoa e ponto. Por fim, depois de pôr a maior pressão na galera dizendo que iriam descobrir se fôssemos nós os pichadores, entraram na viatura e foram embora. (…)”

Batalha
A Batalha das Minas é um movimento que nasceu para denunciar o machismo presente no rap, especialmente porque suas representantes não tinham o mesmo espaço na Batalha da Alfândega, hegemonizada pelos homens. A truculência policial também é um dos temas frequentes nas rimas improvisadas pelas participantes que, entre outras pautas, lutam pelo fim da cultura de violência.

A equipe do Portal Catarinas tentou contato com a PM pelo celular do plantão da assessoria de imprensa, porém o telefone estava fora de área ou desligado.

 

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