Durante coletiva à imprensa, na manhã desta segunda-feira, 24, a Polícia Civil esclareceu com detalhes a autoria e a motivação do homicídio qualificado por motivo fútil que vitimou Jennifer Célia Henrique, 38 anos, na noite de 10 de março deste ano. Assassinada a pauladas, ela foi encontrada numa construção, no bairro Ingleses, no Norte da Ilha. Um morador de rua de 22 anos – procurado há pelo menos três semanas – foi preso na noite de ontem (26) e confessou o crime.
“Mesmo desacordada, ele a golpeou mais três vezes o que resultou em sua morte ainda no local. Descartamos o crime de homofobia. A vítima foi morta por ameaçar o autor e não por ela ser transexual”, afirmou o delegado da Delegacia de Homicídios da Capital, Eduardo Mattos.
De acordo com Mattos, o preso revelou que manteve relações sexuais com a vítima e após uma breve discussão, em que a mulher trans ameaçou contar aos amigos do acusado a relação amorosa de ambos, este teve uma reação e a golpeou com um pedaço de pau a atingindo na região do pescoço.
Após o crime, o suspeito permaneceu na região do bairro Ingleses e somente no dia seguinte começou a ser indagado sobre o crime por outros moradores de rua. “Ele confessou a autoria para alguns deles, que pediram que ele saísse do local. Começamos a procura-lo a partir do dia 31 de março, quando foi deferido o mandado de prisão temporária em desfavor dele”, conta o delegado.
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Transfobia
“Jennifer não foi morta por ameaças. Foi morta por quem ela era”, afirmou Mariana Franco, representante da União Nacional LGBT (UNA). Para a ativista fica evidente na fala do delegado que o assassino matou Jennifer porque ele não queria que descobrissem seu relacionamento com uma mulher transgênero. “O delegado em questão não sabe nem do que se trata. Homofobia é relacionada a gays. Jennifer era uma mulher transexual. Esse crime, havendo morte cruel já é caso de transfeminicídio. O silenciamento de mortes de pessoas LGBT vem daqueles que deveriam nos proteger”.
A ativista atenta para a vulnerabilidade da população trans diante da falta de atendimento humanizado nos órgão públicos de forma geral. “Em São Bento do Sul, uma trans com um grave problema de falta de alimento em casa foi pedir cesta básica na Assistência Social do município. A assistente social de plantão mandou ela ir fazer programa pra comprar comida”, exemplifica.
Kelly Vieira, representante da Associação Catarinas e da Estrela Guia, também acredita que a morte de Jennifer foi motivada por transfobia. Para ela, crimes contra mulheres trans têm relação direta com a misoginia, com o agravante de que se trata de um corpo feminino considerado “ilegítimo”. “O lugar de homem do assassino seria balançado pela afirmação de uma Jennifer. Isso é transfobia sim, selada à misoginia, só que às avessas porque é um feminino socialmente não considerado completo”, afirma a ativista.
A polícia vai pedir a prisão preventiva do suspeito. O atual delegado substituiu Ênio Matos, titular da Delegacia de Homicídios da Capital nas investigações. Ênio causou revolta na comunidade LGBT depois de tratar Jennifer no masculino e afirmar que o crime teve como motivação “uma transa mal resolvida”.
A morte de Jennifer causou comoção e manifestações pelos movimentos LGBT. Ela militava contra o preconceito e buscava classificar assassinatos de pessoas trans como crimes de ódio contra essa população.