Uma prática que parece apenas instintiva é bem mais complexa do que presume o senso comum. Amamentar exige informação correta, paciência, empenho e persistência. Para incentivar a prática é que existe a  Semana Mundial de Aleitamento Materno no mês de agosto, período instituído pela Aliança Mundial de Ação Pró-Amamentação (World Alliance for Breastfeeding Action – WABA). A WABA é uma plataforma ligada à Organização Mundial de Saúde (OMS) e UNICEF encarregada de promover os compromissos previstos na “Declaração de Innoceti”, documento adotado por organizações governamentais e não governamentais de vários países em defesa do aleitamento.

A intenção deste esforço é enfocar os benefícios da amamentação e elevar os baixos índices de aleitamento materno como forma de reduzir a mortalidade infantil mundo afora, já que bebês que amamentam sofrem menos risco de mortalidade e adoecem menos. Ao mesmo tempo, a amamentação também beneficia as mães que amamentam nas primeiras horas após o parto, ajudando nas contrações uterinas e diminuindo o risco de hemorragia.

Mesmo assim – e apesar de o Brasil ser considerado referência mundial no assunto – nem metade das crianças brasileiras nascidas recebem leite materno exclusivamente até o sexto mês de vida e de forma complementar até os dois anos ou mais, como recomenda a Organização Mundial da Saúde. A taxa de aleitamento por aqui é de de 41%, o dobro de países como os Estados Unidos, Reino Unido e China.

Para além de habilidades maternas, a garantia de crianças e mães a este direito depende de apoio da sociedade em geral, incluindo pais, empregadores e familiares. Para debater o tema, Catarinas preparou conteúdo especial que será publicado a partir de hoje. Na primeira parte, vamos falar dos desafios da amamentação no puerpério.

 

Dedicação e persistência na primeira fase da amamentação

A mãe disposta a amamentar esbarra com os primeiros empecilhos logo nos primeiros dias após o parto.  Dificuldades como a baixa produção de leite, pega incorreta, ingurgitamento mamário, mamilos rachados e dor durante a amamentação estão entre as mais recorrentes, segundo a psicóloga e doula Carol Rutz.

A farmacêutica Caroline Junckes enfrentou vários destes problemas na hora de amamentar Agatha. Mesmo após um curso de amamentação on-line e orientação de enfermeiras especializadas, sofreu de mastite e fissura no bico do seio. O resultado foi quase um mês de antibiótico, o que também fez com que a produção de leite diminuísse. A dor foi vencida apenas com muita persistência. “Ela mamava e eu chorava. Mas ficava pensando em como ela era pequena e precisava mamar para ter defesas. Então, eu me esforçava. Leite é amor líquido e eu não podia deixar esta experiência acabar”, conta.

Caroline e Agatha: dor da amamentação foi vencida apenas com muita persistência / Foto: Arquivo pessoal
Caroline e Agatha: dor da amamentação foi vencida apenas com muita persistência / Foto: Raphaela Cavalheiro

Raphaela Cavalheiro

Raphaela Cavalheiro

Mãe e filha ainda aprendem juntas todo dia a fazer a “pega”, como é chamada a relação da boca do bebê com a mama da mãe. Este ato aparentemente trivial pode ser intrincado: é preciso ensinar o bebê a sugar a partir da auréola, e não do bico do seio, evitando novas fissuras. Após quatro meses de prática e insistência, Agatha já consegue mamar sem a ajuda de bico de silicone.

Mesmo as mães experientes se deparam com desafios, como constatou a jornalista Ingrid Bezerra.  “Meu primeiro filho mamou durante três anos e por isso eu pensava que a amamentação nunca teria segredos. Estranhei muito o quanto foi diferente e bem mais difícil amamentar agora, na segunda vez”, relata a mãe de Ozzy e Vinícius.

Por ser um bebê maior do que a maioria, pesando mais de quatro quilos, o caçula Vinícius tinha a recomendação médica de mamar muito bem desde as primeiras horas de vida para evitar hipoglicemia. No começo, deu tudo certo. “Durante o tempo que ficamos na maternidade ele mamou direto. Na primeira noite em casa comecei a ter problemas. Os dois mamilos ficaram muito machucados, não conseguíamos acertar a pega. Ele chorou a noite inteira com fome porque não estava mamando direito e eu fui ficando nervosa, então o leite começou a empedrar”, recorda.

Ingrid
Ingrid Bezzera e seu companheiro, Thiago Skarnio, com o filho Vinícius / Foto: Arquivo pessoal

Ingrid enfrentou sangramento nos mamilos. Como Carol, também precisou tratar com antibiótico e recorreu à homeopatia. Dois meses e meio depois, o desafio parece ter sido vencido. Ingrid amamenta tranquilamente e produz todo o leite que Vinícius precisa. Mas para que isso fosse possível, ela contou com assistência da equipe de enfermagem do posto de saúde que frequenta, no Bairro Trindade e atendimento domiciliar da parteira e de uma doula. Também teve apoio de grupos virtuais de amamentação e maternagem. “Os grupos me auxiliaram diariamente a ter paciência e continuar tentando até conseguir amamentar sem dor, após cerca de duas semanas de sofrimento”, conta a mãe de Vinícius.

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  • Ana Claudia Araujo

    Jornalista (UPF/RS), especialista em Políticas Públicas (Udesc/SC), mãe de ninja.

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