“Nosso movimento tem como foco justamente a ocupação dos cargos de poder. É um movimento que se espalha pelo Brasil. Que todas as cidades tenham seu núcleo feminista em formação, de mulheres feministas, de mulheres que vão se filiar aos partidos de esquerda, que vão lutar por hegemonia dentro dos partidos e disputar com os homens o lugar. A gente tem de se fazer maioria. Temos de sair desse lugar precarizado e miserável e parar de querer só um pouquinho. Nós temos de querer tudo.” Esse foi o recado principal da filósofa Márcia Tiburi no seminário “Os Direitos das Mulheres – na Perspectiva dos Novos Tempos”, realizado na manhã desta terça-feira (7), na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc). Ela falou a um público formado majoritariamente por mulheres e lançou o desafio de construção política estratégica para a disputa das eleições gerais em 2018.

Segundo Marcia Tiburi, as mulheres precisam abandonar a posição “não gosto do poder”. “Pega o poder e transforma numa outra coisa. Mas pega! O machismo e o capitalismo são tecnologias políticas que administram o medo, que impedem a evolução e o desenvolvimento das mulheres na sua própria luta. O feminismo luta contra o medo, a sociedade de controle”, destacou ela, incentivando a criação de uma bancada feminista no Congresso Nacional, de intelectuais e de professoras.

Ao lado da deputada Ana Paula Lima (PT), Márcia falou sobre representatividade das mulheres na política/Foto: Fábio Queiroz
Ao lado da deputada Ana Paula Lima (PT), Márcia falou sobre representatividade das mulheres na política/Foto: Fábio Queiroz

Marcia analisou a relação entre o poder e a violência em que concerne a experiência contemporânea das mulheres. “Nós acostumamos lutar contra a violência contra as mulheres. A luta por direitos passa sempre pela luta contra a violência, que é exercida contra as mulheres por uma sociedade sustentada por esse parâmetro machista. O capitalismo, machismo e neoliberalismo – que é uma versão contemporânea do capitalismo -, são formas violentas de ação na sociedade. Não tem capitalismo sem violência. E o neoliberalismo nada mais é do que o uso técnico programado da violência com fins de lucro, o que vem acontecendo nos campos da segurança e da saúde.”

Ela disse ainda que concorda com o pensamento da filósofa alemã Hanna Arendt de que violência não é poder. “Eu acho que ela tem razão pelo seguinte: notam que um Estado autoritário, por exemplo, como esse que estamos vivendo. Quando um governo autoritário se instaura, se instaura sem poder, pela violência. O golpe [contra a ex-presidenta Dilma Rousseff], não podemos esquecer, foi uma grande violência, uma tremenda violência”, argumentou ela, lembrando que Dilma recebeu 54 milhões de votos.

Marcia convocou as mulheres para assumirem a programação política pela frente e dominarem a representação no parlamento brasileiro. “A nossa representação é pífia, ridícula.” Citou exemplo de Santa Catarina, onde apenas três mulheres ocupam um universo de 40 cadeiras na assembleia. “Não dá nem 10%. A média é de 10%”, indignou-se.

O papo reto de Marcia Tiburi
Ao longo da palestra, Marcia Tiburi mandou um papo reto com pitadas de humor. Além de provocar a reflexão sobre a relação de poder e violência que pertence à experiência contemporânea das mulheres, ela chamou atenção para a importância de escutar o outro, falou sobre relação entre filosofia e feminismo e antecipou que lançará um livro em  junho “O ridículo político”.

Márcia participou do seminário "Os Direitos das Mulheres”, nesta terça-feira (7)/Foto: Fábio Queiroz
A palestrante falou para um público formado por cerca de 800 pessoas/Foto: Fábio Queiroz

“Quando uma pessoa não escuta a outra é sinal de burrice. Precisamos tomar muito cuidado. Se o meu desejo de entender o outro morrer, eu também me torno pouco curioso. Quem é pouco curioso do ponto de vista cognitivo também é pouco curioso do ponto de vista político e ético.”

Brincou com a plateia, mas sem perder a seriedade que o assunto merece: “Vocês sabem que não existe feminista de direita, mas tem? Se vocês conhecerem alguém que está padecendo desse pequeno problema de contradição espiritual rola de bater um papo legal com as manas [risos]”.

Segundo ela, ainda estamos sob o estigma do golpe. “Estamos vivendo uma fase muito difícil de desentendimento do que significa política.” Isso porque, conforme a filósofa, as mulheres estão preocupadas com todas as propostas que restringem seus direitos.

 

 

 

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