Em Pílulas de Discernimento, Joanna Burigo, mestra em Gênero Mídia e Cultura (LSE), conselheira editorial do Portal Catarinas e coordenadora Emancipa Mulher, traz pequenas notas informativas e analíticas sobre temas do cotidiano social e político que estão em debate nos fóruns das redes sociais.

Olimpíadas de Tóquio

Estas já entraram para a História como as Olimpíadas da explosão dos padrões duplos de tratamento para os uniformes esportivos de acordo com gênero. E também as com o maior número de boas histórias LGBTQIA+.

Usar a tocha olímpica para tocar fogo no patriarcado: correto.

O poder das fadas

Os influenza, no dia que a Fadinha Rayssa Leal papou a medalha de prata nas Olimpíadas de Tóquio, eram todos skatistas desde criancinhas, notaram? Chorão, por que choras?

Sensual para qual olhar?

Quando falo de #femininofeminismo não é para problematizar a sensualidade, mas sim as discrepâncias de gênero que existem em demonstrações de sensualidade.

As linguagens da sensualidade são quase todas feitas para olhares cujo desejo se manifesta num pênis, reparem. Acontece que existem muitos olhares cujo desejo não se manifesta num pênis, e é escassa a imagética correspondente.

Tem que ver isso aí. Não dá mais para não ver isso aí.

Uma tarefa feminista

É fundamental que o feminismo esteja atento a toda e qualquer possibilidade de uma interação sexual ser violenta, tanto quanto é também preciso atenção às múltiplas manifestações e infinitas permutações para agir no desejo.

A tarefa feminista é batalhar pela garantia de autonomia, consentimento, respeito e segurança no sexo. 

Já as formas como as pessoas transam… não é da conta de ninguém além daquelxs com quem transam, com autonomia, consentimento, respeito e segurança.

Discernimento, gente.

Saúde mental

Estes dias, bloqueei no Facebook, uma mulher cuja trajetória e trabalho eu respeito com profundidade. A bloqueei porque ela não me deixa esquecer que a recíproca não é verdadeira: no pouco que interagiu comigo nestes muitos anos em que estivemos em contato, a constante foi o escárnio. Não me incomoda (mais) que as pessoas não gostem de mim ou achem ruim o que eu faço. Mas não é saudável receber sem motivo o desgosto que causamos em quem mal conhecemos. 

As redes sociais abriram portas e janelas para coisas que, antes delas, não víamos ou nem sabíamos que existiam. Embora eu ache ok que cada um destile seu veneno como quiser nas suas próprias páginas, o ato de ir até o perfil do outro pelo prazer da distribuição não requisitada de mágoas subjetivas não constitui nenhuma dinâmica da qual eu queira participar. (Deve ser por isso que detesto o Twitter.)

Arco-íris na F1?

A dobradinha do Lewis Hamilton e do Sebastian Vettel, com o primeiro usando um tênis com arco-íris nos treinos, e o segundo ostentando uma máscara e camiseta de arco-íris enquanto caminhava pelo pódio e dava entrevistas no Grand Prix da Hungria esteve de parabéns. Na Fórmula 1 o que não falta é indício de patriarcado. Mas Ham the Man manja, e Vevettel aliou todo. Vamo.

Picaretagem mitológica

Eu não sei se foi a internet, porque charlatanismo sempre existiu, mas o grau de penetração mental da picaretagem mitológica da época em que estamos vivendo é assustador.

Começo com o ápice do charlatanismo mitológico, que é o presidente do país. Mas não falta picaretagem. Tem poser de psicanalista internacional escrevendo em jornalão e lecionando sobre gênero sem absolutamente nenhum conhecimento teórico atual. Tem performer de professorinha de qualquer roteiro que pague. Tem quem se venda como arco-íris sagrado. (Ou nenhum corpo é sagrado, ou todos os corpos o são. Se for só o seu, sinto informar, mas não é que você seja sagrada, você só se acha superior, mesmo. Se decidam aí, representantes da hipsteria do mistério. E viva as vacas profanas). 

Tem bruxona fazendo publi de chá em saquinho. Tem sarado sem camisa nem leitura crítica sendo poster boy de revolução de esquerda com pose e técnica de agrado ao algoritmo do Instagram. Tem ansioso vendendo fórmula mágica pra ansiedade, instituto de ensino vendendo comunicação como se fosse educação, e traidores e traídas vendendo platitudes que prometem bons relacionamentos.   

Eu sei, eu sei. Somos muito chatos, nós que apelamos pela razão. Mas não se enganem: não apelamos pela razão para anular a emoção ou o mistério. O fazemos para que a emoção e o mistério não sejam as únicas forças que informam decisões, e porque o que não falta é picareta e charlatão querendo lucrar na curva misteriosa dos nossos sentimentos.

Discernimento, gente!

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  • Joanna Burigo

    Joanna Burigo é natural de Criciúma, SC e autora de "Patriarcado Gênero Feminismo" (Editora Zouk, 2022). Formada pela PU...

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