O Portal Catarinas lança nesta quarta-feira, dia 25, o quarto e último episódio da quinta temporada do podcast Narrando Utopias. Com o título “Saberes para adiar o fim do mundo”, a produção narra a criação da Licenciatura em Educação do Campo (LEdoC), a partir das histórias de Magdielly Lima, de Santa Catarina, e Maria Sales, do Maranhão: duas professoras que foram as primeiras de suas famílias a acessar o ensino superior.

Ambas têm trajetórias que refletem o potencial transformador do curso. Magdielly cresceu no distrito de Volta Grande, uma comunidade rural onde viveu boa parte da infância sem energia elétrica. Enquanto Maria é filha de assentados da reforma agrária. As duas superaram barreiras para chegar à universidade e hoje trabalham para fortalecer nas novas gerações uma relação diferente com a terra, com a biodiversidade e com a própria vida, tendo a agroecologia como horizonte, prática e filosofia.

O episódio conta com as participações de Mônica Molina, professora da Universidade de Brasília (UnB) e referência na luta pela Educação do Campo, e de Marília Gaia, professora de agroecologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e consultora desta temporada. Gaia destaca que a agroecologia, dentro da LEdoC, vai muito além de ensinar técnicas agrícolas; é uma lente para compreender, cuidar e intervir nos territórios, sejam eles rurais, indígenas, quilombolas, urbanos ou periféricos.

A produção apresenta ainda um panorama da história da LEdoC, fruto das mobilizações do Movimento Nacional de Educação do Campo (MNEC). Entre os marcos estão o I Encontro Nacional dos Educadores e Educadoras da Reforma Agrária (ENERA), em 1997, e a Primeira Conferência Nacional de Educação do Campo, em 1998. O processo levou, em 2002, à criação das Diretrizes Operacionais para a Educação Básica das Escolas do Campo e, em 2007, à formalização das Licenciaturas em Educação do Campo como política pública.

A LEdoC surge como enfrentamento direto à lógica do agronegócio, baseada na monocultura, no esvaziamento dos territórios e na negação dos sujeitos do campo. O curso foi pensado para garantir que camponeses, povos das florestas, das águas, quebradeiras de coco, quilombolas, ribeirinhos, geraizeiros e outras comunidades tradicionais pudessem ingressar na universidade sem abrir mão de seus territórios, saberes e modos de vida.

Para isso, adota a pedagogia da alternância, que articula Tempo-Escola, dedicado às atividades teóricas na universidade, e Tempo-Comunidade, quando os estudantes aplicam os conhecimentos em seus territórios, desenvolvendo projetos, diagnósticos e práticas que fortalecem a realidade local. “Se não fosse a Educação do Campo, eu jamais teria conseguido. E ouso dizer que talvez eu nunca tivesse me formado. A condição financeira da minha família era muito difícil”, relembra Magdielly Lima.

Por meio de uma narrativa sensível e potente, o episódio mostra como a Educação do Campo transforma vidas e oferece respostas concretas à crise climática. Mais do que uma estratégia de resistência, essa formação fortalece modelos de vida sustentados na diversidade, no cuidado com a terra e na justiça social.

O podcast está disponível nas principais plataformas de áudio e no canal do Portal Catarinas no YouTube, com versão acessível em audiodescrição. Nesta temporada, Narrando Utopias contou histórias que ajudam a adiar o fim do mundo, como propôs o líder indígena e pensador Ailton Krenak.

A produção foi selecionada no Edital Camp Serrapilheira 2024: Podcasts e tem apoio do Instituto Serrapilheira. Além disso, também conta com a parceria da Editora Expressão Popular, vinculada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que contribuiu com indicações de leitura, aprofundando os temas abordados em cada episódio, entre eles agroecologia, educação do campo, história, cultura e justiça social.

Expediente:

Inara Fonseca: locução, pesquisa e roteiro

Kelly Ribeiro: locução, pesquisa e roteiro

Ananda Omati: identidade sonora

Thially Lima: identidade visual

Marília Gaia: consultoria

Natália Silva: mentoria

Daniela Valenga: redes sociais 

Paula Guimarães: diretora executiva do Portal Catarinas