Um grupo de eleitores do presidente tentou tumultuar o ato filmando as ativistas com celulares.
Texto de Izabel Santos e fotos de Bruno Kelly da Amazônia Real.
Para marcar o ato “Basta de Feminicídio e Retirada de Direitos” em Manaus (AM), milhares de mulheres de todas as idades reuniram-se no centro da cidade, no 8 de Março, Dia Internacional das Mulheres. Elas protestaram contra os assassinatos de mulheres, por motivação de ódio ao gênero feminino, e contra a Reforma da Previdência, apresentada à Câmara dos Deputados pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL). No final da marcha, um grupo de três eleitores do presidente invadiu o ato com celulares nas mãos para gravar e intimidar as ativistas, mas eles foram contidos pelos manifestantes. A Polícia Militar (PM) informou que “um rapaz passou e falou ‘Bolsonaro”, porém não houve registro de ocorrências durante o protesto.
Segundo a coordenação do ato em Manaus, cerca de 3 mil pessoas participaram da marcha, que começou na praça da Saudade, às 16h, percorrendo o trecho das avenidas Epaminondas, Sete de Setembro e Eduardo Ribeiro, debaixo de chuva, e chegando na praça do Congresso às 18h30. A PM disse que registrou, ao menos, 800 pessoas na manifestação.
O ato Basta de Feminicídio e Retirada de Direitos contou com as participações de representações de mais de 40 de grupos de mulheres feministas, entre eles, dos movimentos negro, indígena, LBT, fóruns, coletivos, maracatu e organizações não governamentais. Nas mãos, as mulheres levaram cartazes e faixas com as seguintes frases: “Assassinos e estupradores de mulheres não são doentes, mas filhos saudáveis do patriarcado”; “A independência da mulher começa quando ela decide arregaçar as mangas e ir à luta!’’; “Lute como uma garota”; “Ele Não”; “Lula Livre” e até frases com temas políticos para além dos direitos das mulheres como “Tirem as mãos da Venezuela”.
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Na abertura do ato, ainda na praça da Saudade, uma das coordenadoras, Apoena Grijó, 27 anos, leu os nomes mulheres que foram assassinadas no Amazonas, entre elas, a policial militar Deusiane da Silva Pinheiro, a líder comunitária Dora Priante, ambas em 2015, a professora Maria Lídia França de Lima, em 2017, e a vereadora Marielle Franco, assassinada no Rio de Janeiro em 2018. A cada nome lido, as mulheres gritavam “Presente!” e pediam por “Justiça!”. No final, realizado um minuto de silêncio. “É uma homenagem as essas mulheres que morreram. Nós estamos aqui por elas e por todas”, disse a coordenadora do 8M.
A dignidade na previdência
Como parte do ato “Basta de Feminicídio e Retirada de Direitos”, um outro grupo de mulheres fez manifestações na frente das sedes do Instituto Nacional de Previdência Social (INSS) e da Caixa Econômica Federal (CEF), também no centro de Manaus. Elas protestaram contra a Reforma da Previdência, o fim das políticas de incentivo à casa própria, e a privatização dos bancos públicos. A agricultora Tânia Chantel, 35 anos, que também é membro do Movimento de Mulheres Camponesas, classificou como injusta a atual proposta de Reforma da Previdência, apresentada na Câmara Federal, pelo governo de Jair Bolsonaro. “A Previdência tem que continuar pública, universal e solidária, para que todas as pessoas possam manter a dignidade na velhice. Se hoje um salário mínimo já é pouco, imagina R$400 reais?!”, disse Chantel.
Bolsominios tentam filmar mulheres
Durante a manifestação das mulheres não aconteceram incidentes, segundo a Polícia Militar, apenas uma tentativa de tumulto por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Três homens, dois usando roupas pretas e um deles vestido com uma camiseta preta com a foto e frase de “Bolsonaro Presidente” no peito, usaram celulares para filmar as mulheres, mas eles foram reprimidos pelas ativistas, que pediram que “caíssem fora”.
A reportagem da agência Amazônia Real encontrou apenas três policiais militares de prontidão na esquina da avenida Eduardo Ribeiro com a Praça do Congresso. O sargento da PM, Josué Rodrigues, disse que havia presenciado a tentativa de tumulto por parte de eleitores do Bolsonaro. “Foi um rapaz que passou e falou ‘Bolsonaro’. Aí, uma mulher que estava falando no microfone falou um palavrão e as outras manifestantes quiseram se manifestar contra o rapaz, que estava sozinho. Aí, as moças viram a nossa presença e tudo voltou ao normal.”
A situação envolvendo eleitores de Bolsonaro não afetou o ato, diz a organização do protesto. “Reunir todas essas pessoas espontaneamente, sem a disponibilização de transporte, numa sexta-feira pós-Carnaval, é um ato exitoso”, avalia a professora de História, Beatriz Calheiro, do ato Basta de Feminicídio e Retirada de Direitos, em Manaus.
Colaboraram para essa matéria Kátia Brasil, Elvira Eliza França, Elaíze Farias, Maria Cecília Costa, César Nogueira e Bruno Kelly.
Esse material integra a cobertura colaborativa Catarinas do 8 de março.