Apesar da votação entre organizadoras/es ter sido favorável ao adiamento do protesto por conta da chuva, ato reuniu cerca de 10 mil pessoas no centro da capital catarinense.

Em todo o país, manifestantes foram às ruas para protestar contra o governo do presidente Jair Bolsonaro no sábado (2). Foram registradas manifestações em 94 cidades, dos 26 estados e Distrito Federal. Mesmo com previsão de chuva em parte de Santa Catarina, os protestos ocorreram em oito cidades. Em Florianópolis, organizadoras/es do ato decidiram, em votação, pelo adiamento do evento. Mesmo diante da deliberação oficial, a atividade foi mantida e cerca de 10 mil manifestantes saíram às ruas, segundo dados da organização.

Por 10 votos a 9, forças sindicais, movimentos sociais e partidos políticos decidiram pela suspensão do ato em reunião realizada na parte da manhã de sábado. Ainda assim, aqueles contrários ao adiamento fizeram um chamado pelas redes sociais e foram para as ruas.

Às 14h, sob um céu nublado, a praça começou a receber um mar de pessoas portando bandeiras coloridas, camisetas com frases e imagens simbólicas em crítica ao governo. Com faixas extensas, alguns manifestantes levaram os seus cachorros, vestidos de acordo com a ocasião. No local, diversas crianças manifestaram com cartazes produzidos por elas mesmas.

Ato Fora Bolsonaro reuniu diversas bandeiras/Foto: Carina Castro.

Durante a concentração no Largo da Alfândega, líderes de sindicatos, organizações e movimentos sociais evidenciaram a controversa questão sobre manter ou não a manifestação diante da possibilidade de chuva. “Não vamos deixar para protestar contra este governo genocida, fascista apenas em 2022. A hora é agora”, disse uma das vozes ao microfone.

Diante das últimas revelações da CPI da Covid – e com 57,56% da população da capital completamente imunizada – a expectativa era de que os protestos contariam com um público ainda maior. Partidos mais alinhados à esquerda, como PT, PDT, PCO, PCB, PDT, PSB e PCR participaram da organização e deram corpo ao ato.

A surpresa se deu no não comparecimento do Partido Comunista do Brasil (PCDoB), da União da Juventude Socialista e do PSOL. Os três partidos votaram pela não realização do ato por temerem a chuva. Marcaram presença organizações nacionais como Central Única dos Trabalhadores (CUT), Movimento dos Sem Terra (MST), Movimento Negro Unificado (MNU/SC), União de Negras e Negros Pela Igualdade (Unegro) e Frente Feminista 8M, entre outras.

Foto: Bianca Taranti

Entre tantos rostos maduros, notáveis militantes desde as Diretas Já, poucos eram os jovens misturados na multidão. Apesar da beleza em ver cabelos grisalhos enrolados em faixas e gritando palavras de ordem, houve pouca presença da juventude. Os que estavam presentes chamaram atenção, com canções que tinham como refrão, por exemplo: “Meu sonho é jogar bola com a cabeça de fascista”.  

Entre faixas e cartazes, manifestantes criticaram a atuação do governo federal durante a pandemia da Covid-19, a alta dos preços de combustíveis, alimentos e do gás de cozinha. A defesa da democracia, e o fim da miséria e da fome estavam entre as reivindicações. Marchantes também levaram em suas bandeiras de luta a resistência das populações LGBTQIA+, negra e indígena, diretamente atingidas pela política de morte do governo, além de demandas históricas feministas, incluindo a legalização do aborto.

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Foto: Carina Castro

Fabrício Bogas, presidente da Acontece Arte e Política LGBTI, lembrou a importância da participação da sociedade civil nos atos. “É muito importante a sociedade esteja nas ruas porque essa política de morte do governo Bolsonaro afeta a todos, principalmente a população LGBTQIA+, os negros, as mulheres e os pobres. Essas fake news que propagam remédios que matam é inaceitável, nós trabalhamos com os direitos humanos e temos que nos articular para derrubar esse governo”, afirmou ao Portal Catarinas.

Foto: Carina Castro

A coordenadora da Unegro em Florianópolis, Jussara Lima, chamou atenção para a piora da situação da periferia no governo atual. “Nossa população está passando por um processo muito difícil nos anos de governo Bolsonaro. Estamos aqui como mãe, irmã, mulheres e representando a periferia que está passando fome, estamos reivindicando os direitos básicos para nossa população”, afirmou.

Apesar do ato ter como foco principal o governo Bolsonaro, diversos manifestantes também portavam cartazes e faixas com críticas ao prefeito Gean Loureiro e contra a privatização da Comcap (Companhia de Melhoramentos da Capital). 

Foto: Gabriele Oliveira

A força da manifestação vista de cima

Como em todos os atos Fora Bolsonaro realizados durante a pandemia na capital, o #2outForaBolsonaro também percorreu ruas importantes da cidade. Organizado em duas fileiras e acompanhado pela polícia militar, desta vez o ato não contou com carro de som à frente do protesto. Os brados ficaram por conta dos manifestantes que preencheram a Avenida Mauro Ramos – de onde se ouviu alguns buzinaços a favor da manifestação – e seguiu pela Avenida Hercílio Luz, esbarrando com bolsonaristas contrariados das janelas.

Diante de um prédio, um senhor debruçado na bandeira brasileira pendurada na varanda dava risadas dos manifestantes. Um clima de tensão e conflito se instaurou no trecho da Avenida Hercílio Luz. Notado pelos manifestantes, recebeu vaias e gestos contrários.

Durante a passeata, bolsonaristas bisbilhotavam das varandas de suas casas/Foto: Juliana Rabelo

De uma forma geral, o protesto se manteve sem intercorrências e percorreu um trajeto curto em relação aos atos anteriores. Uma hora e trinta minutos depois da partida, já estava de volta ao largo da alfândega. Segundo organizadoras/es, as vias percorridas são escolhidas por uma comissão que prefere mantê-la longe da Beira-Mar Norte por questão de segurança dos militantes.

O próximo ato Fora Bolsonaro está marcado para ocorrer em 15 de novembro.

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  • Juliana Rabelo
  • Gabriele Oliveira

    Estudante de Jornalismo (UFSC) dedicada à escrita de reportagens, com foco na cobertura de direitos humanos. Estagiária...

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