Neste 1º de maio é Dia da Literatura Brasileira. Acho que é um dia bastante auspicioso para dar as boas novas, de que o projeto Chicas que escrevem que mantive via Newsletter e Instagram vai passar a habitar esse cantinho aqui do Portal Catarinas. É uma felicidade pura ter essa coluna!

Acesse o arquivo com as entrevistas da News. 

Aproveitando a data gostaria de apresentar o projeto para todos vocês. E, como sempre, falar um pouco de literatura. Para quem não sabe, a data escolhida para celebrar o dia da literatura brasileira é uma homenagem ao escritor José de Alencar que nasceu em 1º de maio de 1829.

Informação dada, e com todo meu respeito a Alencar, queria usar a data para enaltecer as mulheres que fazem literatura no Brasil de hoje. Parece-me tão necessário abrir espaço para elas, falar delas, escrever sobre elas. E as estatísticas não discordam desse meu anseio.

Segundo a quarta edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” realizada em 2016, as mulheres representam os leitores mais assíduos da população, 59% das entrevistadas eram leitoras. Além disso, para 33% dos entrevistados que disseram ter tido uma pessoa que influenciou seu hábito de leitura, as mulheres eram 11%, o grupo mais representativo.

Infelizmente, embora sejam o maior grupo que consome literatura, as mulheres não têm o mesmo reconhecimento quando passam ao papel de autoras como se observa na pesquisa de Regina Dalcastagnè publica no livro “Literatura Brasileira contemporânea – um território contestado”. Ali os dados são alarmantes, 72% dos escritores publicados no Brasil são homens, 93,9% são brancos, e quase metade, pelo menos, vive no eixo Rio-São Paulo.

Isso sem falar nas premiações. Por exemplo, dos 116 vencedores do Nobel de Literatura apenas 15 são mulheres. Ou dos 40 membros da Academia Brasileira de Letras, somente 5 são mulheres. E segundo o site americano VIDA, que mantém porcentagens sobre questões de gênero em publicações literárias, em 2012 somente 22% dos livros resenhados pela importante New York Review of Books eram de mulheres, já no jornal The Nation a porcentagem era de 23%.

Esses dados me fazem questionar uma série de coisas: Onde é que estão as mulheres que escrevem? O que elas têm a dizer? Por que escrever? Quais as vozes femininas brasileiras contemporâneas? Quantas escritoras conseguem publicar, e se conseguem quantas tem acesso a mídia para divulgação?

Quantos livros de escritoras brasileiras foram lidos no último ano? Quantas escritoras contemporâneas você conhece?

Faço essas perguntas como escritora e como árdua leitora. Bem da verdade, o projeto Chicas é uma junção das duas ansiedades em mim. E por isso, acho necessário falar a respeito brevemente.

A questão da leitura de mulheres me acertou um dia. Devia ser uma quarta, estava estudando no sofá de casa e, de repente, parei uns minutinhos para olhar a prateleira. Foi em cheio na minha cara. Dei-me conta, com tristeza, que quase só havia homens ali, estrangeiros e brancos. O que por si só não é um problema, mas quando só consumimos isso, o que estamos colocando para dentro? O que eles tinham para me falar? Senti uma falta desesperada da companhia e das vozes femininas. Desde então venho consumindo literatura feita por mulheres sempre que posso. É um lugar onde posso respirar.

Depois, como escritora, publiquei livros por editoras pequenas. Tentei algumas casas grandes, mas a experiência foi dura, ouvi de editores que importava mais meu número de seguidores que a qualidade do meu texto. Desanimei. Aceitei a publicação discreta que mal chega na livraria, e, finalmente, com o livro em mãos, bateu a pergunta, e quem é que vai ler isso? A mídia era cara, e não era uma realidade para mim.

Anos depois dessa primeira pergunta, em meio a leituras de escritoras brasileiras contemporâneas as duas coisas se encontraram. Ia conhecendo cada vez escritoras incríveis, mulheres que mereciam serem ouvidas, lidas, estarem nos circuitos. Mas, quase nunca, ou nunca, estavam. O que eu podia fazer a respeito?

A resposta foi a criação do projeto Chicas que escrevem. Com o intuito de ajudar a disseminar o trabalho de escritoras brasileiras contemporâneas, entrevisto semanalmente autoras cedendo espaço para contarem um pouco de suas inspirações e obras. Um espaço para entrarem em contato direto com o público via internet.

Agora, as entrevistas ao invés de serem enviadas por e-mail vão morar aqui nessa coluna do Portal Catarinas, que tão gentilmente abriu os braços para o projeto do Chicas e para mim. Gostaria de agradecer o espaço e convidar a todos para acompanhar semanalmente as entrevistas, aproveitando para conhecer um pouco mais do trabalho de escritoras contemporâneas. Ler e dialogar com mulheres reais que lutam para manter a literatura viva. Espero vocês, semana que vem, aqui!

E, lembrem-se, por favor, leia mais, leia mulheres!

Bibliografia
FAILLA, Zoara. (org.) Retratos da Leitura no Brasil 4. Rio de Janeiro: Sextante, 2016.

DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Rio de Janeiro: Editora da UERJ; Vinhedo: Editora Horizonte, 2012.

VIDA: https://www.vidaweb.org/

*Laura Elizia Haubert é doutoranda em Filosofia pela Universidad Nacional de Córdoba, Argentina. Graduada e Mestre em Filosofia pela PUC-SP. Autora do livro “Memórias de uma vida pequena” publicado pela Quintal Edições em 2019, e “Sempre o mesmo céu, sempre o mesmo azul” publicado pela Patuá Editora em 2017. Já teve contos publicados na Revista Ponto do SESI-SP, na Revista Gueto e na Revista Subversa. Além de participações em antologias como “As coisas que as mulheres escrevem” da editora Desdêmona publicado em 2019.

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    Laura Elizia Haubert é doutoranda em Filosofia pela Universidad Nacional de Córdoba, Argentina. Graduada e Mestre em Fil...

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