Falas homofóbicas de Sikêra Jr. da Rede TV! mobilizaram as redes digitais e geraram a debandada de patrocínios do programa comandado por ele.

“Essa raça desgraçada”. “Vocês não reproduzem”. “Nojo de vocês”. “Vocês são nojentos”. “Não é normal não. Pode ser pra você e seu macho dentro da sua casa”. “Se você quer dar esse rabo, dê, mas não leve as crianças juntos não, raça desgraçada, tudo maconheiro”.

As frases foram proferidas pelo apresentador bolsonarista Sikêra Jr. em rede nacional em 25 de junho. O motivo? O comercial da rede de fast food Burger King com o tema LGBTQIA+ sob a ótica infantil. Expressões homofóbicas que, ditas sem nenhum receio, explicitam a lama preconceituosa pela qual o Brasil é formado. Além de mostrar que mesmo sendo considerado crime desde 2019, homofóbicos continuam desferindo ódio contra essa população, sem medo das consequências.

Enquanto a justiça não engata a primeira marcha e coloca em prática o que diz o Código Penal, a internet toma a frente e em minutos, dissemina os absurdos ditos por pessoas públicas. No caso de Sikêra, desde a fatídica sexta-feira, ativistas, entidades LGBTQIA+ e usuários não descansam das críticas ao apresentador. As hashtags #DesmonetizaSikera e #DesmonetizarHomofobia não saem do top trends do twitter desde então.

A reação contra o apresentador ganhou mais força quando o grupo de ativistas digitais que combate discursos de ódio, Sleeping Giants Brasil, entrou na jogada e mobilizou um boicote contra o apresentador. A rede passou a expor as empresas brasileiras que patrocinam o programa Alerta Nacional apresentado por Sikêra na RedeTV!. A movimentação tem dado certo, até esta sexta-feira (2), 21 patrocínios já haviam sido cancelados, uma perda de 57% do intervalo comercial, segundo o site UOL.

Além da internet, a verborragia alcançou âmbitos superiores. O Ministério Público Federal entrou com uma ação contra a RedeTV! e Sikêra por homofobia. O órgão pede indenização de R$10 milhões por danos morais coletivos, além de uma retratação do apresentador. A ação civil pública é assinada em conjunto com a associação Nuances – Grupo Pela Livre Expressão Sexual, que atua na defesa dos direitos humanos da população LGBTQIA+. 

O apresentador Sikêra Jr. virou alvo da internet após desferir frases homofóbicas em rede nacional. (Foto: Reprodução/ TV A Crítica)

O deputado federal David Miranda (PSOL) também protocolou uma representação contra Sikêra Jr. por homofobia e transfobia. A solicitação foi encaminhada à Procuradoria dos Direitos do Cidadão do Ministério Público Federal, cobrando apuração da existência de eventual que leve a responsabilização administrativa ou criminal de Sikêra.

A emissora REDETV! soltou uma nota em que afirma reporvar “veementemente todos os tipos de discriminação e preconceito e vem a público manifestar condenação a qualquer expressão de homofobia”.

O “pedido de desculpas” ao doer no bolso

Diante da perda de rentabilidade de seu programa, Sikêra Jr. entrou no ar na terça-feira (29), um dia depois da data do Orgulho LGBTQIA+, para pedir desculpas, se é que podemos chamar assim, já que no discurso ele diz “mantenho minha palavra”. O apresentador usou do “quem me conhece sabe”, uma velha tática para pormenorizar o que foi dito. 

“Estou recebendo milhares de mensagens incomodadas com o comentário que fiz sobre um comercial que se utilizou de crianças para falar sobre homossexuais. Recebi muito apoio e ataque. E colegas que trabalham nesse canal também foram atacados. Tudo que falo nesse programa é de minha responsabilidade. Nunca fugi [de minha responsabilidade] e não vai ser agora. Mantenho a minha palavra. Quem trabalha comigo sabe do respeito que tenho por todos, independente da religião, cor da pele, sexo. Desafio qualquer um que me critica a encontrar tantos homossexuais trabalhando na frente e por trás das câmeras”, justificou. 

Sikêra Jr. é um exímio defensor de Jair Bolsonaro. (Foto: Reprodução / Internet)

Por fim, ele reforçou sua posição e se manifestou contra a propaganda do Burger King. “Como falei, tenho a responsabilidade de pedir desculpas publicamente. Aprendi muito com essa lição. Vou seguir defendendo a família tradicional, mas sem desrespeitar. Esse programa não tem censura. Vou continuar defendendo a família brasileira, vou continuar defendendo as crianças. Deixem nossas crianças brincarem, crescerem, respeitem esse direito. Eu falei como pai e avô! Você que disse que não assiste a esse programa, você que se sentiu ofendido: lhe peço perdão. Extrapolei como nunca, revoltado com o que vi naquele comercial, e continuo contra, minha opinião continua a mesma. Mas você que se sentiu ofendido, o que eu posso dizer é que me perdoe. Extrapolei como nunca, revoltado com o que vi naquele comercial, e continuo contra, minha opinião continua a mesma. Mas você que se sentiu ofendido, o que eu posso dizer é que me perdoe”, concluiu.

Sikêra Jr. é conhecido por defender a família tradicional (branca, patriarcal e rica), o apoio à violência policial e proteger Jair Bolsonaro. Aliás, ele aparece em primeiro lugar na lista de patrocinados pelo governo federal. Segundo reportagem da Folha de São Paulo, o apresentador recebeu R$ 120 mil para realizar campanhas publicitárias, entre elas a defesa do chamado “tratamento precoce” contra a Covid-19, comprovadamente ineficaz no combate ao vírus. 

Agora nos resta esperar a resposta da justiça para saber se Sikêra Jr. vai beber do próprio veneno.

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