Motivos não faltam para as mulheres brasileiras ocuparem as ruas no próximo dia 8 de março. A aprovação da reforma trabalhista, o congelamento dos investimentos em áreas essenciais, a iminência de uma reforma da previdência, a tutela do estado sobre o corpo da mulher, os altos índices de violência e feminicídio são razões contundentes para as brasileiras aderirem à mobilização mundial que promove, em 2018, a segunda Greve Internacional de Mulheres do século XXI.  As cinco regiões do país farão atividades e paralisações, com expectativa de superar a marca de 2017 e conquistar adesão de mais mulheres.

A partir de construções coletivas, a pauta articula, nas reivindicações gerais das brasileiras, as especificidades dos movimentos contra a opressão feminina.

O Brasil ocupa o quinto lugar no ranking mundial de feminicídios, com 5 assassinatos a cada 100 mil mulheres. O recorte racial é preponderante. As mulheres negras são as mais atingidas, segundo o Atlas da Violência no Brasil, que verificou em 2017 o aumento em 22% de morte de mulheres negras, enquanto entre as mulheres brancas houve uma redução de 10%.

Diferentes regiões, iguais reivindicações

Na Bahia, estado que vai sediar o Fórum Social Mundial entre 13 e 17 de março, o apelo “Parem de nos matar” sintetiza a luta contra o genocídio, o racismo, o machismo, o fundamentalismo, a xenofobia, o ódio religioso e as demais formas de intolerâncias, conforme aponta Lilian Fatima Barbosa Marinho, da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos. “Negras, brancas, indígenas, marisqueiras, gordas, trans, feministas, mulheristas, trabalhadoras urbanas e rurais e domésticas, figuras políticas, religiosas de matrizes africanas, quilombolas, ativistas de saúde mental, estudantes, todas nós vamos ocupar as ruas em defesa de nossas vidas”.

A vida das mulheres também é central para as maranhenses. Tendo no nordeste as maiores taxas de aborto com cerca de 39% dos casos registrados, o direito ao acesso de métodos seguros é uma pauta que reforça 0 8M no Maranhão. O tema ganha as ruas sob defesa do direito de escolha da mulher. “Nós queremos debater nossos direitos reprodutivos. Nenhuma mulher acaba abortando ou tirando a própria vida porque quer, muitas estão colocadas em uma situação de extrema pobreza e abandono”, reflete Thays Campos coordenadora estadual da União Brasileira das Mulheres (UBM) do Maranhão.

No Sul, haverão atos em 16 cidades, com expectativa de uma adesão maior do que no ano passado. Organizadas desde o final de 2017, as mulheres de Florianópolis programaram um dia intenso de atividades no centro da capital que começa nas primeiras horas da manhã e termina com uma marcha ao final do dia.

A luta contra a violência às mulheres é pauta presente em todos os atos. | Foto: Daniel Fagundes / 8M 2017 em São Paulo.

Seguindo o horizonte das reivindicações nacionais, as mulheres do Mato Grosso se mobilizarão contra as reformas trabalhista e da previdência. De acordo com Jocilene Barbosa, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público do Mato Grosso – SINTEP/MT, as trabalhadoras foram as mais penalizadas com as mudanças das leis trabalhistas. “Somos nós, mulheres, que ocupamos as funções de salários mais baixos, as funções terceirizadas e precarizadas. Essa reforma colocou mais um obstáculo para a luta de igualdade no trabalho e na vida entre homens e mulheres”, explica.

Em ano eleitoral, o debate de participação das mulheres na política também é tema dos manifestos para as mulheres pernambucanas. Dados primários do Banco Muncial (BIRD) indicam que o Brasil ocupa a 115º posição entre 138 países no índice de participação das mulheres no parlamento, com destaque para o baixo número de representação de mulheres negras. “A luta é antissistema, contra o racismo, contra o patriarcado e contra o capitalismo e com este contexto iremos às ruas também para gritar que estamos contra a intervenção militar”, salienta Analba Brazão Teixeira do Movimento SOS Corpo, que participa da organização do 8M em Pernambuco.

Em São Paulo, além de todas as pautas das mulheres, o tema democracia ganha destaque na mobilização do 8 de março. Na avaliação de Marcia Regina Gonçalves Viana, Secretaria das Mulheres Trabalhadoras da CUT-SP , houve um golpe de estado que atacou diretamente uma mulher, a primeira eleita presidenta do Brasil. “Nosso tema é ‘Pela vida das Mulheres, Democracia e Soberania! Temer sai, fica aposentadoria!’, construímos unidade em torno da democracia após o duro golpe que sofremos em 2016, que acarretou uma sequência de ataques aos direitos sociais, em especial às mulheres”.

Tainá de Paula, da organização do 8M no Rio de Janeiro, ressalta que a expectativa é unir nossas vozes e bandeiras numa marcha que sirva de marco na resistência feminista e consiga dialogar com mulheres de fora do ativismo, alertando sobre o que está em risco. “Usaremos nossas vozes, corpos, músicas e cartazes para dialogar com todas as mulheres e assim avançar na eliminação das opressões. O 8 de março historicamente traz à discussão as lutas das mulheres e garante o debate social urgente a ser travado sobre a vida de todas nós, seja sobre a sua condição enquanto essência (violência no SUS, direitos reprodutivos, etc), seja em relação à seu lugar social (autonomia socioeconômica) ou sua condição enquanto ator político e o quanto as mulheres são consideradas verdadeiros atores políticos de transformação”, explica.

8 de março unificadas é o slogan do 8M em Brasília. O mote da capital federal sintetiza a unificação das pautas e do diálogo de diferentes grupos políticos. Leonor Costa, do Coletivo de Mulheres Jornalistas do DF, destaca que a cada ano o debate da unidade tem amadurecido, com respeito as diferenças. “É um marco na luta das mulheres a união de diversas matizes do feminismo, com várias lógicas de organização, que se debruçam na organização de um dia unificado de luta. Todas nós temos a compreensão do momento que estamos vivendo e que somos os principais alvos do ajuste fiscal e do governo ilegítimo do Temer. É momento de unificar nossas pautas e valorizar as nossas convergências”, argumenta.

Ao menos 42 manifestações em 40 cidades de 16 estados marcarão o 8 de março de 2018 no Brasil. O mapa de protestos, promovidos por inúmeras organizações do movimento feminista, foi apurado por jornalistas voluntárias que participam da cobertura colaborativa do Portal Catarinas. O levantamento contempla informações obtidas diretamente com as organizações e em pesquisas na internet relacionando ao 8M aos 89 municípios brasileiros com mais de 300 mil habitantes.

Atividades mapeadas pelo Portal Catarinas

UF Cidade Local Horário
AM Manaus Praça da Saudade 15
BA Salvador Praça da Piedade 13
BA Feira de Santana Praça do Nordestino 15
CE Fortaleza Terminal da Lagoa 8
DF DF e entorno Museu Nacional da República 13
ES Vitória Praça de Jucutuquara 13
ES Viana Praça de Marcílio de noronha 8
GO Goiânia Assembleia Legislativa 8
MG Belo Horizonte Memorial da Vale 19
MG Belo Horizonte ALMG 8
MG Belo Horizonte Floresta 19
MG Uberlândia Praça Ismene Mendes 16
MG Itajubá Unifei-Praça do Engenheiro 17
MG Ouro Preto Praça Tiradentes 15:30
MG Juiz de Fora Praça da Estação 17
PA Belém Av. Nazaré 8
PB João Pessoa Praça João Pessoa 8
PE Recife 13
PR Curitiba Praça da Mulher Nua 16:30
PR Londrina Monumento à Bíblia 14
PR Foz do Iguaçu Zoologico bosque Guarani 18:30
PR Francisco Beltrão (marcha unificada da região sudoeste do Paraná) Praça central 9
PR Maringá Praça Raposo Tavares 17
PR Cascavel Praça Wilson Jofre 17:30
PR Ponta Grossa Praça Barão do Rio Branco 16
MA São Luis Colégio Liceu Maranhense 16
RJ Petrópolis Praça da Inconfidência 17
RJ Rio de Janeiro Candelária 16
RJ Niterói Praça Arariboia 16
RN Natal Praça Vermelha 8
RS Porto Alegre Esquina Democrática 17
RS São Leopoldo Praça do Imigrante 10
RS Caxias do Sul Praça Dante Alighieri 08:30
RS Pelotas Mercado Público 17
SC Joinville Praça da Bandeira 15
SC Florianópolis Praça da Alfândega 17
SC Chapecó Praça Coronel Bertaso 9
SC Blumenau Praça da Prefeitura 18:30
SC Seara Praça Dr Hari de Quadros 17
SC Lages Rua Presidente Vargas 9
SP São Paulo Praça Osvaldo Cruz 16
SP Campinas Largo do Rosário 17
SP Atibaia (e região) Praça da Matriz 17
SP Sorocaba Praça Cel. Fernando Prestes 14
SP Ubatuba Casarão Do Porto Ubatuba 16
SP Sâo Luiz do Paraitinga Pracinha do Calçadão 10
PR Guarapuava Terminal da Fonte 9

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