Carta aberta às minhas amigas Lésbicas
Bruna Benevides afirma que a aliança entre mulheres é a força que vai derrubar toda forma de violência.
Queridas amigas Sapatonas,
É com um coração cheio de amor e gratidão que me dirijo a vocês hoje, no dia da visibilidade lésbica. Como travesti, quero logo de início reconhecer a importância da nossa luta conjunta contra o silenciamento e apagamento, o patriarcado e a misoginia, e toda a opressão que enfrentamos dentro de um movimento LGBTQIA+ que muitas vezes ainda segue dominado por vozes masculinas.
A aliança entre nós, mulheres, é fundamental para vencer o machismo e avançar em direção a maior visibilidade, representação política e ocupação de lugares estratégicos na nossa luta. Ao contrário do que muitos podem pensar, a luta das mulheres lésbicas se constitui na mesma resistência e intensidade que a das mulheres trans e travestis, e elas também são maioria enquanto nossas aliadas. A transfobia é incompatível com os processos históricos de alianças que temos construído até aqui e por isso não podemos deixar que uma minoria nos afaste daquilo que construímos ao longo dos últimos 45 anos, juntas.
O levante do Ferro’s Bar, em 1983, é um marco essencial dessa história. Celebramos sempre Stonewall e suas figuras importantes como o fato histórico de nossa resistência enquanto o dia 19 de agosto segue invisibilizado mesmo após mais de 40 anos. Mesmo assim, a data é importante para reafirmar a força de mulheres cis lésbicas, como propulsora da mobilização coletiva no decorrer da busca por direitos de nossas comunidades.
Minhas companheiras lésbicas, sobretudo aquelas mobilizadas em movimentos sociais, sempre estiveram na linha de frente, defendendo nossos corpos e a possibilidade de sermos reconhecidas como agentes políticas. E isso reforça as históricas alianças entre mulheres cis lésbicas, trans e travestis. E desde então vivemos em constante chamado à união e à força coletiva, onde mostramos ao mundo que nossas lutas estão interligadas e que juntas somos invencíveis.
Este acolhimento e solidariedade que sempre recebemos de nossas companheiras, especialmente de minhas amigas queridas Heliana Hemetério, Lidiane e Francis, Dayana Gusmão, Verônica Lima, Lélia de Castro, Iracema Miranda, Fátima Lima, Camila Marins, Daiana dos Santos, Carla Ayres, Leo Ribas, Denise, Zazá, Nanda Machado, Melissa Navarro, Rosangela Castro, Yone Lindghen, Luanda Pires, Michelle Seixas, Janaína Oliveira, Bel Sá, Malu Aquino, entre outras, nos humanizam tratando como iguais e nos dão a força para continuar.
Afirmo de forma super tranquila que se faz urgente que a comunidade trans, que mesmo dentre tantos desafios alcançou alguma visibilidade, se volte para fortalecer e dar as mãos à luta das mulheres lésbicas, reconhecendo o papel que desempenharam para nossa chegada e permanência no movimento nacional.
Devemos nos comprometer nos levantes contra o lesbocídio, pelos direitos sociais, políticos e econômicos, e por justiça reprodutiva para nossas companheiras lésbicas. Traçar estratégias de lutas pelo 8M e em todos os espaços feministas, assim como em partidos e coletivos de mulheres para que se tornem nossos, de todas.
Finalizo afirmando que amo profundamente cada uma de vocês e acredito que a aliança entre mulheres é a força que vai derrubar toda forma de violência que não pode mais habitar e ser aceita em nossos espaços. Vocês me fortalecem e me tornam uma pessoa melhor. Juntas, somos poderosas e, com nossas alianças, derrubaremos as barreiras que tentam nos impedir de seguir juntas, firmes e vivas.
Com carinho e solidariedade,
Bruna Benevides