Dia Nacional do Orgulho Lésbico: 40 anos do "happening político" do Ferro's Bar

Por Joá Bitencourt

Em 19 de agosto de 1983, houve um protesto no Ferro’s Bar, em São Paulo, após a proibição da distribuição do ChanaComChana (CCC), um dos periódicos do Grupo de Ação Lésbica-Feminista (GALF) à época.

Desde 2003 — articulada por Luiza Granado, da Rede de Informações Um Outro Olhar, e Neusa Maria de Jesus, da Associação da Parada LGBT de SP — a data é celebrada como Dia Nacional do Orgulho Lésbico.

O Relatório da Comissão da Verdade do Estado de São Paulo “Rubens Paiva”, de 2015, recomendou que o Ferro’s Bar fosse resguardado como um espaço de memória LGBT. Porém, nada foi feito até então.

Rosely Roth foi uma antropóloga e ativista pioneira do Movimento LGBTQIA+ no Brasil. Em sua trajetória acadêmica, dedicou-se aos estudos lésbicos. No ano de 1990, aos 31 anos, foi vítima de suicídio.

Durante o happening, Roth discursou contra as atitudes autoritárias do bar. Mas não buscava representar “a líder”, porque a luta do GALF afirmava horizontalidade — como conta a quarta edição do CCC.

Nem revolta, nem levante. Para Martinho, “happening político” — como escreveram Carlos Brickman e Vanda Frias — é o termo que melhor explica o que houve.

“O Ferro’s não era a Bastilha nem o GALF alguma milícia popular para o episódio ser chamado de levante”, relatou Martinho em uma nota de esclarecimento no site Um Outro Olhar (UOO), em 2022.

No final da década de 80, substituindo o CCC, o UOO foi boletim (1987–1994) e, depois, virou revista (1995–2002). Desde 2004, Martinho o mantém como site, compondo um importante acervo digital.

Quem estudou sobre essas e outras publicações lésbicas (1981–1995) foi Paula Silveira-Barbosa, diretora-geral do Arquivo Lésbico Brasileiro, com a sua dissertação sobre a Imprensa Lésbica no Brasil.

Para ela, “uma questão fundamental nessas publicações é que elas se colocaram como um canal plural”. E afirma que, com essa experiência, a imprensa pode aprender a olhar para fora do próprio umbigo.

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