A chica que escreve da semana é a mineira Marcela Dantés que formou-se em Comunicação Social pela UFMG e possui pós-graduação em Processos Criativos em Palavra e Imagem pela PUC-MG. Trabalhou como redatora publicitária por cinco anos até abandonar o ofício para se dedicar à literatura. Publicou em 2016 uma coletânea que captou a atenção de leitores e críticos. Em 2020 publicou seu primeiro romance “Nem Sinal de Asas”.
Vamos a entrevista! 😊
Como de costume, para começar você poderia contar um pouco de sua trajetória como escritora? Por que começar a escrever? E mais, por que continuar escrevendo?
Eu sempre fui uma leitora voraz e começar a escrever foi um processo natural: do grande interesse pelas redações de escola, diários e cadernos a perder de vista, até as dezenas de arquivos salvos em uma pasta chamada “ideias”. Escrever se tornou, mais que um hábito, uma necessidade, uma forma de tentar organizar a cabeça, de entender aquilo que me toca, de encontrar respostas. E, mais que tudo, escrever é um jeito de me autorizar a observar as pessoas, algo que me fascina.
O processo passa dessa escrita intuitiva e natural por uma busca pela racionalização. Fiz oficinas, cursos, contei com a indispensável leitura de grandes escritores e mestres, até que me senti mais segura para tornar público aquilo que até então era algo muito íntimo.
Continuar escrevendo sempre, pra continuar respirando.
Agora, enquanto leitora. Quais foram suas influências? Poderia nos contar um livro que te marcou?
Eu sempre gosto de falar de leituras que me transformaram, mais do que influências. Digo isso porque acho meio arriscado dizer que os grandes autores da minha vida me influenciaram, porque estou léguas e léguas longe de produzir qualquer coisa parecida com eles. Descobrir Guimarães Rosa e ler O Grande Sertão foi um acontecimento na minha vida – é um livro a que eu sempre volto, pela sua força, pela potência e pela grande transformação que ele trouxe pra mim. Lygia Fagundes Telles, Saramago, João Gilberto Noll.
Dos contemporâneos, uma leitura que me atravessou foi “Uma vida pequena”, da Hanya Yanagihara. E o Brasil tá cheio de gente incrível produzindo muito. É impossível acompanhar, mas tenho tentado. Pra citar alguns: Morgana Kretzmann, Micheliny Verunschk, Deborah Dornellas, André Timm, Carol Bensimon, Carlos Eduardo Pereira, Nara Vidal, o Michel Laub, Daniel Galera e tantos outros.
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Você publicou “Sobre pessoas normais” pela Editora Patuá que foi semifinalista do Prêmio Oceanos. Poderia nos contar um pouco sobre os contos do livro? Qual o eixo temático?
Sobre pessoas normais é um livro que me é muito especial: foi meu primeiro livro, lançado em 2016 e me trouxe muitas alegrias. Eu acho que ele é um retrato do que falei, esse grande interesse pelas pessoas, seus encantos, suas contradições. O livro, então, é uma coleção de pequenos dramas humanos e seus reflexos na vida e no psicológico de cada um. São vinte e dois recortes em momentos banais ou decisivos, em histórias que poderiam acontecer com a gente, com a vizinha, ou com alguém do outro lado do mundo – o que importa pra mim, é como esses acontecimentos são digeridos e transformados por cada um.
Falando de futuro, você está trabalhando em algum projeto atualmente? Se sim, poderia nos contar um pouco sobre esse livro?
Eu acabei de lançar o meu primeiro romance, Nem sinal de asas. É um projeto em que estou mergulhada desde 2017, que me demandou muito trabalho, muita energia e um grande envolvimento. Então, agora, estou naquela fase de respirar, de olhar pra fora um pouco, deixar as coisas acontecerem. Eu tenho algumas ideias e projetos na gaveta, mas preciso de um tempo para que possa voltar a me dedicar a eles.
No momento, também, estou bastante envolvida com a divulgação do Nem sinal de asas. O romance nasceu de uma notícia de jornal, uma mulher que morre sozinha em seu apartamento e só é encontrada cinco anos depois. Esse é o ponto de partida para a construção de Anja Santiago, a minha protagonista – o livro é narrado em dois tempos e duas vozes: no momento de sua morte, em terceira pessoa e quando o corpo é encontrado, cinco anos depois, pela voz do Ramiro, o porteiro do prédio. É um livro sobre solidão, sobre os laços, sobre as nossas escolhas.
Como foram suas experiências de publicação? O que mais te marcou no processo?
Publicar um livro é um evento muito emocionante, é o momento em que um processo que é tão íntimo e muitas vezes solitário, se torna público. De alguma forma, é mostrar pro outro as suas feridas, e isso pode ser bem difícil, né? Mas é também muito feliz: a troca com os leitores sempre me emociona. Uma mensagem dizendo que a leitura foi marcante tem o poder de transformar o meu dia.
Eu tenho a sorte de ser publicada pela Editora Patuá. O editor, Eduardo Lacerda, é uma pessoa incrível, um leitor super atento e cuidadoso. Então, minha experiência é a melhor possível, ver o livro nascer e chegar aos leitores me deixa muito feliz.
Por fim, há algo que você gostaria de dizer para outras mulheres que escrevem? Ou, alguma mensagem final?
Escrevam! Resistam. E vamos juntas, sempre.
Além dessa entrevista a Marcela fez a gentileza de enviar as seguintes dicas:
Livro: Uma vida pequena, Hanya Yanagihara
Série: The Leftlovers
–
Gostaria de agradecer imensamente a Macela Dantés por ter aceitado por ter aceitado meu convite para participar e disponibilizar seu tempo para esse bate-papo online. Por hoje é só, por favor, lembre-se, leiam mais e leiam mulheres!