A história nos mostra que as mulheres são parte fundamental das greves e paralisações por todo o mundo. Muitas dessas manifestações são convocadas por mulheres em um movimento de visibilidade que envolvem as questões de gênero. São exemplos atuais a construção internacional do 8M e a Marcha Mundial de Mulheres (MMM) que atuam fortalecendo organizações locais.

No Brasil as reivindicações das mulheres perpassam geração, classe, raça, etnia, gênero e feminismos. Um universo abrangente e complexo que marca uma arena de disputas políticas, ideológicas, culturais e econômicas. Nas avenidas de Florianópolis, durante a Greve Geral no último dia 14, a voz dessas mulheres ecoaram entre os prédios da Beira-Mar. Além de seguirem na linha de frente da marcha e protagonizarem as falas no carro de som, elas produzem faixas, pintam seus corpos, relatam, fotografam, desenham momentos de resistência na memória.

Com o apoio da trajetória das diferentes mulheres que inspiram a existência de cada uma de nós, Catarinas traz um pouco do que pensam sindicalistas, professoras, estudantes e profissionais de diferentes categorias que participaram da #GreveGeral14J.

Assista ao vídeo com algumas das entrevistadas:

Segundo Anna Julia Rodrigues, presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), em cerca de 30 cidades ocorreram manifestações por toda Santa Catarina. Todas com o apoio de mulheres, não podemos deixar de lembrar. Neste ano, com a posse do novo governo, as lutas se intensificaram contra a retirada de direitos e o corte de investimentos em serviços de atenção básica, motivados por políticas destrutivas que colocam o país em uma situação de subserviência, em condição de colônia responsável pela acumulação primitiva de países desenvolvidos.

Anna Julia Rodrigues, presidenta da CUT, seguiu mobilizando a marcha com falas políticas/Foto: CUT Santa Catarina

“Não queremos nenhum ataque aos seus direitos. Não vamos aceitar emenda nenhuma na reforma. É uma reforma que não presta, senão nós vamos morrer trabalhando. Por isso nós temos que dizer não. Ninguém tem condições de fazer uma aposentadoria e pagar uma poupança. Nenhum direito a menos! Nenhum trabalhador vai ser prejudicado se depender das centrais sindicais, se depender das centrais que estão na luta e dos estudantes. Por isso a nossa luta unificou: é estudante junto com trabalhador”, afirmou a sindicalista.

A professora Cristiane Leopoldo conversou com o Catarinas sobre os retrocessos sociais trazidos pela reforma/Imagem: Karol Braga

“A reforma de previdência acaba com toda a seguridade social e ela acaba com o direito do trabalhador se aposentar, aumenta o período de trabalho, aumenta o período principalmente para professores, para o pessoal do campo, para a agricultura familiar e acaba com a seguridade social para aquele que não tem a contabilização dos períodos trabalhados, aqueles que são baixa renda e no final da vida não conseguem ter um mínimo, um digno de um salário mínimo e uma aposentadoria. Então é por isso que a gente está na rua lutando contra a reforma”, comenta a professora Cristiane Leopoldo.

A arquiteta Monique Ramos apontou a importância da mobilização coletiva /Imagem: Karol Braga

“O governo parece que está querendo regredir na questão dos avanços da questão trabalhista e eu acho que é importante todo mundo estar aqui, todo mundo estar junto e se unir. Tentar evitar o máximo que esses direitos que custaram tanto para gerações passadas conseguirem pra gente que se desfaçam e prevaleçam interesses pessoais da galera aí que está no comando”, lembra a arquiteta Monique Ramos.

Edileuza Fortuna, dirigente do SindSaúde, falou sobre os avanços da mobilização/Imagem: vídeo ao vivo

“Nós trabalhadores da saúde paralisamos o serviço e estamos aqui junto na construção da greve geral. É o início da derrota do governo federal. As mobilizações continuam, continuam as coletas do abaixo-assinado contra a reforma da previdência. Enquanto o governo federal não retroceder e tirar a reforma da previdência da pauta do Congresso Nacional e enquanto não revogar a questão dos gastos na Educação a gente vai permanecer se mobilizando”, afirma Edileuza Fortuna, diretora de Relações Intersindicais do Sindicato dos Trabalhadores na Saúde de Florianópolis e Região (SindSaúde).

“A reforma da previdência para nós enquanto mulher e enquanto mulher negra nos mata porque o tempo mínimo de aposentadoria é quando você não consegue mais ter vida e nós somos a população maioria no país e por essa razão nós vamos ser as mais atingidas”, diz Cirene Candido, integrante do coletivo de mulheres negras do PT.

Aline Ramalho, do curso de Jornalismo da UFSC, falou sobre a participação destes estudantes na greve/Imagem: vídeo ao vivo

“Geralmente jornalistas geralmente se reúnem para cobrir manifestação e não para participar. A gente está fazendo uma tentativa desde o dia 15, dia 30 e hoje de estar reunindo os estudantes para esse momento de unificação. Estamos com dois problemas: a gente não tem previsão de se formar e depois não tem provisão de se aposentar. Então estamos na rua para não ter corte na Educação, para conseguir se formar e se aposentar melhor”, assinala Aline Ramalho, estudante de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Ingrid Assis, dirigente da CSP Conlutas, fala da satisfação de ver a multidão ocupando as ruas/Imagem: vídeo ao vivo

“É um dia vitorioso. Hoje a gente conseguiu trazer a classe trabalhadora em cena de fato. Desde 2017 a gente não tem uma greve geral. No dia 15 e 30 de maio nós mostramos a força dos trabalhadores e da juventude contra os ataques do governo Bolsonaro. Agora a nossa luta não pára aqui neste dia de greve geral. A campanha contra a reforma da previdência e contra os cortes na Educação e em defesa do emprego vai seguir. Se for preciso nós vamos fazer outras greves gerais”, enfatiza Ingrid Assis, dirigente da Central Sindical e Popular Conlutas e integrante do movimento indígena.

Carolina Souza Peruzzolo da União dos Estudantes Secundaristas (UES) falou sobre a mobilização desta frente na greve/Imagem: vídeo vivo

“Os estudantes secundaristas e universitários já vem fazendo grandes mobilizações desde o 15 de maio, chamando os estudantes e trabalhadores pra luta contra essa reforma absurda que nos tira direitos todos os dias, contra os cortes na educação que acabam com as perspectivas de vida dos estudantes de entrar na universidade, de muitas vezes serem os primeiros da família a terem acesso à universidade. É por isso que estamos aqui”, afirmou Carolina Souza Peruzzolo da União dos Estudantes Secundaristas (UCES).

Tânia Ramos, professora de Letras da UFSC, estava emocionada com a força do movimento estudantil/Imagem:

“Mais uma vez estou emocionada de ver alunos, colegas, amigos, conhecidos nesta luta contínua, neste protesto e não desistir: tem som, tem força, tem coragem. Estou aqui por várias razões, já tenho tempo de aposentadoria, estou aqui para vocês que estão vindo. A minha luta especialmente é pela universidade pública, gratuita e de qualidade, que ela continue e permaneça”, afirmou Tânia Ramos, professora de Letras da UFSC.

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