O pedido feito nas ruas de Florianópolis, ontem (12), foi ouvido em partes. Duas horas depois do fim ato que reuniu cerca de mil pessoas, o deputado Eduardo Cunha foi cassado por uma maioria no Plenário da Câmara dos Deputados. Cunha é considerado o inimigo das mulheres por ser o autor do Projeto de Lei Nº 5.069 que dificulta o acesso à pílula do dia seguinte e ao aborto legal às vítimas de estupro e exige exame de corpo de delito para comprovação da violência. A proposição causou tanta revolta que desencadeou o movimento Primavera Feminista no final do ano passado. Aprovado pelas comissões, o texto aguarda para ser votado em plenário.

O trajeto foi decidido em assembleia geral na concentração do ato/Foto Catarinas
Trajeto foi decidido em assembleia geral na concentração do ato/Foto Catarinas

O trajeto foi decido horas antes da passeata em uma assembleia geral no Largo da Alfândega, onde ocorreu a concentração. Manifestantes optaram por seguir na avenida Mauro Ramos, eliminando as alternativas Beira-Mar e Ponte. Próximo ao shopping Beira-Mar, no entanto, a manifestação ocupou as duas pistas e seguiu para a avenida bloqueando o trânsito em algumas sinaleiras. Todo o percurso foi acompanhado pela Polícia Militar. Indignados com a parada, muitos motoristas e motociclistas buzinaram e gritaram contra a ação.

Manifestação ocupou as duas pistas e seguiu para a avenida Beira-Mar/Foto: Catarinas
Manifestação ocupou as duas pistas e seguiu para a avenida Beira-Mar/Foto: Catarinas

Golpismo é sinônimo de machismo

A quantidade de policiais em frente à Igreja Universal, na avenida Mauro Ramos, chamou a atenção de manifestantes, fotógrafos e de quem passava pelo local. Cerca de 50 policiais se postaram em posição de barreira para proteger a igreja. No primeiro ato após a posse de Michel Temer o “templo” foi o principal alvo de pichações e destruição. Este foi o quarto ato desde que Temer assumiu a presidência. A defesa do estado laico é umas principais pautas do movimento.

A cavalaria fez uma barreira em frente a igreja Universal/Foto: Catarinas
A cavalaria fez uma barreira em frente a igreja Universal/Foto: Catarinas

Manifestantes pediram Fora Temer, Fora Cunha e fora todos os demais “golpistas”. O golpismo é sinônimo de machismo para manifestantes que em vários momentos cantaram contra a desigualdade de gênero na sociedade. “Se cuida, se cuida seu machista, a América Latina vai ser toda feminista”, cantaram homens e mulheres.

Manifestantes gritaram contra o machismo/Foto: Catarinas
Manifestantes gritaram contra o machismo/Foto: Catarinas

A atriz Isadora Foreck de 23 anos, de Curitiba, estava a trabalho na cidade e seguiu o ato, acompanhada de sua mala de rodinha. “Encontrei esse pessoal com glitter e me identifiquei. A gente se reconhece, sabe que veio do mesmo lugar. É muito emocionante. Enquanto uns continuam sentados no sofá, outrxs lutam por um mundo melhor”, afirma.

As ruas avisam que a revolução será feminista/Foto: Catarinas
As ruas avisam que a revolução será feminista/Foto: Catarinas

Midiã Fraga, 27 anos, do coletivo Contrataque diz que o ato ocorreu especialmente na segunda-feira, dia da votação na câmara, para pedir a cassação de Eduardo Cunha. “Primeiramente Fora Temer. Cunha é o exemplo de caráter conservador que não representa mulheres e negros. O movimento feminista tem presença muito forte nessas manifestações pelo diálogo que estabelece com as minorias não representadas no poder”, diz.

A ativista explica que antes mesmo da queda da Dilma Rousseff, o Contrataque já estava nas ruas, mas os atos não tinham visibilidade na mídia tradicional. “A violência policial de certa forma quebrou a barreira midiática. A mídia tradicional só vem quando o movimento não pode ser ignorado. Por outro lado, as mídias independentes sempre contribuíram para a divulgação. O ato da última terça-feira provou nossa versão de que a violência começou pela PM. Se fossemos encurralados aqui na Beira-mar todos iriam ver”, afirma.

Foto: Paula Guimarães
Habeas Corpus garantiu manifestação sem prisões/Foto: Catarinas

Mediação
Assim como no ato de terça-feira, um habeas corpus coletivo pedido pela Defensoria Pública do Estado, condicionado ao não fechamento da ponte, garantiu a livre manifestação sem que isso levasse a prisão. O salvo-conduto, no entanto, não prevê liberdade para os casos de pichação, depredação do patrimônio público e outros.

A advogada Daniela Felix do Coletivo Catarina de Advocacia Popular que vem acompanhando os atos explica que xs manifestantes precisam estar atentos à violência e prisão no retorno para casa. “As prisões de atos anteriores ocorreram ao final da manifestação. Os policiais filmam e depois seguem manifestantes para identificação e revista, afirma a advogada.

O diálogo feito nas ruas/Foto: Catarinas
O diálogo feito nas ruas/Foto: Catarinas

No dia do ato, integrantes da Rede Fora Temer Floripa foram convidados pelo Comando Geral da Polícia Militar de Santa Catarina para uma reunião sobre as manifestações. O coletivo negou-se a comparecer e publicou uma nota de repúdio afirmando que não concorda com o sigilo, e que a reunião teria que ser aberta ao público, estendendo o convite ao governador do Estado. “Nosso diálogo é nas ruas”, disse o coletivo no documento.

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