Lembranças de uma mulher que seguia as linhas do bordado e da vida social se transformam em um trabalho que transgride moldes. “Essa mulher que tecia e bordava é minha mãe, sempre muito obediente às regras”, explica a artista plástica Itamara Ribeiro que abre sua exposição “Linha do Tempo”, hoje (4), às 19h, na Fundação Cultural Badesc. O livro homônimo, com desenhos e frases será lançado no evento.

A artista que sempre trabalhou com a temática do feminino traz como elementos centrais em seu processo de criação o desenho de uma mulher, os moldes de revistas antigas e o bordado que representa essa linha entre o passado e o presente. As obras foram construídas com base nas memórias da infância, quando a artista observava a mãe fiando suas peças em bordados e costuras.

Itamara Ribeiro Iniciou sua carreira artística em Florianópolis, onde desenvolveu sua pesquisa em Poéticas visuais na linha de processo de criação. Atualmente vive e trabalha em Ribeirão Vermelho (MG) e pesquisa as dobraduras do desenho com colagens e bordado. Autora do livro de desenhos Frouxidão (2015), é formada em Artes Visuais pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc). Em entrevista ao Portal Catarinas, ela fala sobre essa exposição inédita.

linha da mão (1)

Você poderia falar um pouco mais sobre as lembranças maternas que traz em seu trabalho?
 Minha mãe usava moldes de revistas para compor tanto os bordados quanto as costuras, eu observava tudo sem entender muito dos gráficos de revistas que ela usava para compor os trabalhos. Lembro que ela sentava-se, colocava o dedo nos gráficos e se punha a contar baixinho, nesse momento eu tinha que ficar bem quieta, pois se ela perdesse as contas ou errasse o dedo do lugar certo, começava a praguejar. Então eu pegava um pano, uma linha e fazia minhas coisinhas, porém não seguia as “regras” das revistas, fazia o que dava na cabeça.

Por que a escolha dessa temática?
Escolhi a temática Linha do Tempo porque sempre trabalhei com linhas no desenho grafite sobre papel, eu tinha várias folhas desenhadas, sempre desenhos rápidos referentes ao meu cotidiano. Quando morava em Florianópolis tinha uma vida corrida, a maioria dos desenhos é dessa época. Em agosto do ano passado, fui morar na roça em Minas Gerais. O tempo da roça é outro, bem mais lento e os desenhos rápidos não davam conta. Eu tinha muito tempo disponível, foi então que encontrei algumas revistas da minha mãe e resolvi bordar, usando-as como suporte para o trabalho. Agora a linha rápida do grafite encontrava a linha lenta do algodão e as duas traçam de certa forma a minha linha do tempo.

O que suas memórias dizem sobre sua relação com essa mulher que tecia e bordava?
Essa mulher que “tecia e bordava”, é minha mãe, sempre muito obediente às regras, aquelas impostas pelas revistas, as sociais. Ela era a típica mulher do lar. Confesso que esse comportamento da minha mãe sempre me causou medo, admirava, porém nunca quis isso pra mim. Quando me vi morando na roça esse sentimento de mulher do lar tomou conta de mim, então comecei bordar e interferir em cima das regras impressas: alguns desenhos sou eu me despindo desse tal padrão imposto.

De que forma sua mãe inspirou você nesse trabalho? Que outras mulheres te inspiram?
Minha mãe conhece o trabalho que faço, porém ela não entende muito o porque eu não faço “bonitinho” ou da forma certa. Atualmente, ela mora em Laguna, trocamos receitas e técnicas de bordado quando eu a visito, às vezes até por telefone.  Já com os desenhos em andamento, comecei a pensar na artista Edith Derdyk  que trabalha com linhas e na Artista Louise de Bourgeois que ressuscita sentimentos da infância através dos desenhos.

Serviço
Exposição: Abertura da exposição Linha do Tempo, de Itamara Ribeiro
Quando: 4 de agosto (quinta-feira), às 19h. Visitação até 8/09/2016
Onde: Fundação Cultural Badesc. Rua Visconde de Ouro Preto, 216, Centro, Florianópolis
Quanto: Entrada gratuita. Livro R$ 50.

 

 

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