Manuela Campagna, 20 anos, estudante de Teatro na Udesc estreou no cinema como protagonista do longa catarinense “Lua em Sagitário” e o papel já lhe rendeu o primeiro prêmio como Melhor Atriz, no Festival de Avanca, em Portugal. Ela vive Ana, jovem que mora em Princesa, cidade de cinco mil habitantes no interior de Santa Catarina, e se apaixona por Murilo (Fagundes Emanuel), nascido e formado no Movimento Sem Terra (MST), com quem inicia uma aventura de moto para chegar a um festival de rock.

Lua em Sagitário marcou a última participação de Elke Maravilha no cinema/Foto Cristina Gallo
Lua em Sagitário marcou a última participação de Elke Maravilha no cinema/Foto Cristina Gallo

Além de ser protagonizado por uma mulher, descompromissada com os padrões sociais, o filme com estreia em 8 de setembro, em Florianópolis, tem na direção a documentarista Márcia Paraíso, carioca radicada na capital catarinense. A equipe, em sua grande maioria, também é feminina.  Ao mesmo tempo em que é leve, “Lua em Sagitário” aborda temas geralmente negligenciados pela produção cultural como a disputa pela terra e o preconceito, reflexos da luta de classes no Brasil. A ficção marca ainda a última participação de Elke Maravilha na tela do cinema.

Manuela Campagna faz sua estreia como atriz/Foto Cristina Gallo
Manuela conviveu no assentamento antes mesmo de ser convidada para o filme/ Foto Cristina Gallo

“A força das mulheres é latente no filme. Espero que isso repercuta para que mais pessoas possam assistir”, afirma a atriz. Na pré-estreia realizada para jornalistas, na manhã de ontem (23), no Shopping Iguatemi, Manuela revelou no estilo despojado e visão de mundo, porque sua interpretação foi tão orgânica.

Antes mesmo de gravar o teste, a atriz já havia sido escolhida pela diretora. “Ela entrou toda séria, sentou e foi passar o texto. Vi a Ana dentro dela”, conta Márcia Paraíso.

Por coincidência, meses antes de ser convidada para o filme, Manuela viveu seu “laboratório” no assentamento Conquista, em Dionísio Cerqueira, na fronteira com a Argentina, onde parte das gravações ocorreu. A estudante participou como bolsista do “Arte no Campo”, projeto de pós-graduação da Udesc, que transforma aviários desativados nos assentamentos em espaços culturais. As cenas com imagens de oficinas de arte e apresentações musicais foram gravadas em um desses espaços, chamado de “Aviário das Artes”. “No mesmo ano, experimentei muito do que Ana viveu, tanto em relação ao acampamento, quanto à convivência com as pessoas. Eu fiz parte disso tudo”, revela a atriz.

O amor na juventude é abordado com leveza/Foto Cristina Gallo
O amor na juventude é abordado com leveza/Foto Cristina Gallo

A jovem atriz, que recentemente participou do OcupaMinc SC, movimento de ocupação de um dos prédios históricos em Florianópolis contra a extinção do Ministério da Cultura, está entusiasmada com a estreia em um filme que dá visibilidade ao principal movimento social do país, contribuindo para desconstruir estereótipos. “Sou apaixonada pelo MST. Os integrantes estão animados para assistir. É um filme que traz a representatividade de forma sutil. Tem falas muito importantes e ao mesmo tempo não é panfletário”, diz.

Nos assentamentos, ela percebeu a força das mulheres como líderes. “O movimento ainda tem contradições como qualquer outro, mas as mulheres são empoderadas. Elas têm muito poder de fala”, assegura.

Empoderamento 

Márcia fala sobre os desafios de ser mulher e chegar à direção de um filme/ Foto Andrea Buzato

Aproximar os jovens das questões agrárias do país foi o ponto de partida para o roteiro do filme, como explica a diretora, que antes utilizava fundamentalmente a abordagem documental nas suas produções e agora salta para a ficção. “Amor, rock e liberdade movem o mundo. O roteiro sempre tem muito da gente, como por exemplo, o namorado motoqueiro, a família tradicional e o desejo de liberdade. É um filme que trata da liberdade dos jovens de pensarem sobre si mesmos e formularem suas opiniões livres dos preconceitos de seus pais”, explica Márcia.

Márcia em sua juventude não cumpria o protocolo de uma menina comportada, resgate que fica evidente na personalidade da protagonista, angustiada com as limitações da cidade interiorana. “Cresci numa família tradicional e fui o terror quando criança. Eu queria fazer exatamente o que meu pai dizia que menina não podia. Você não pode deixar de fazer determinada coisa pelo fato de ser mulher. Quis trazer isso para a personagem”, relata a diretora.

Se é um filme sobre empoderamento feminino Márcia diz que só cabe ao público avaliar. É, antes de tudo, uma produção que revela o empoderamento de uma mulher, dona de casa e mãe, que chega à direção de um filme numa sociedade marcada pela desigualdade entre homens e mulheres. A diretora, que sempre precisou viajar no exercício profissional, sentia o peso da cobrança social em relação à sua ausência no espaço doméstico. “O tempo todo, a mulher precisa provar sua capacidade para chegar ao topo da cadeia, tanto no cinema, como em qualquer outro universo de trabalho. Pesa sobre a mulher a dificuldade maior de conciliar a vida doméstica e profissional. A divisão ainda é muito desigual. Nesse sentido, posso dizer que sou empoderada porque dei conta da casa, das filhas e do filme”, afirma.

Com estreia prevista para 15 de setembro, em São Paulo e Rio de Janeiro, “Lua em Sagitário” tem ainda no elenco Andrea Buzato, Raquel Stüpp, Jean Pierre Noher e  Chico Caprário. Como parte da campanha de divulgação do lançamento está o show acústico com Johnny Hooker, em 3 de setembro, no Célula. A trilha sonora do filme conta com músicas do cantor e de Tulipa Ruiz, Mallu Magalhães, Marcelo Jeneci, Boogarins, Skrotes, entre outras bandas. 

 

 

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  • Paula Guimarães

    Paula Guimarães é jornalista e cofundadora do Portal Catarinas. Escreve sobre direitos humanos das meninas e mulheres. É...

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