Professora de carreira do município de Joinville há mais de 30 anos, Vanessa da Rosa, 49 anos, é candidata a deputada estadual de Santa Catarina, nas Eleições 2022, pelo Partido dos Trabalhadores (PT) na coligação Federação Brasil da Esperança – PT/PCdoB/PV. 

Mulher preta, cisgênero e heterossexual, Rosa conseguiu o feito histórico de ser a primeira mulher negra a comandar uma secretaria de Joinville, a pasta da Educação. É a terceira candidata a responder ao questionário proposto pelo Catarinas para divulgar as candidaturas de mulheres comprometidas com a agenda política feminista, antirracista e LGBTinclusiva no estado. 

As entrevistas serão publicadas diariamente por ordem de chegada. Se você é uma candidata comprometida com a agenda de direitos mencionada acima, ou conhece uma candidatura com esse perfil, responda o formulário

Acompanhe a entrevista de Vanessa da Rosa.

Conte sobre sua trajetória de vida/militância e quais motivações a levaram a disputar essas eleições.

Sou professora de carreira do município de Joinville há mais de 30 anos. Dei aula desde o ensino infantil até às universidades. Com o passar do tempo fui me qualificando até coordenar o ensino de jovens e adultos, sendo até Secretária de Educação da maior rede de ensino de SC. Em todas estas funções eu senti na pele o que é ser mulher e negra em uma cidade que ainda carrega um estigma muito grande, um racismo muito estrutural.

E quando descobri que a última deputada estadual negra foi Antonieta de Barros, em 1934, ou seja, há mais de 80 anos o estado não elege uma mulher negra como deputada, eu não pensei duas vezes: coloquei meu nome para a disputa pela primeira vez na vida.

Mais que defender o gênero feminino ou os negros, eu quero melhorar a educação. Precisamos pensar a educação para além da sala de aula. Precisamos garantir mais segurança às mulheres, dando a elas a certeza que seus agressores estão sendo vigiados. Colocando neles tornozeleiras eletrônicas. Precisamos criar varas especializadas para investigar e julgar os crimes contra as mulheres. Precisamos dar voz e vez à comunidade LGBTQIA também. E só quem viveu na pele tudo isso, no dia a dia, sabe das necessidades.

Você tem conseguido verba para a campanha? Como são divididos os fundos eleitoral e partidário entre as candidaturas? Você recebeu apoio e recursos do seu partido?

Segundo a divisão do fundo partidário do PT, eu fiquei com uma pequena parte. Valor que ainda não recebi. Por enquanto a verba usada é própria e de uma vaquinha virtual, que arrecadou pouco mais de R$4 mil. 

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Imagem: reprodução.

Quais as principais questões a superar hoje em relação à desigualdade de gênero? E quais suas propostas para resolver essa questão no cargo que você quer ocupar?

Precisamos de fato colocar as mulheres nos espaços que até então não nos foram dados. Política é um destes lugares. Cada vez que uma mulher ocupa um espaço como este, sua voz é mais ouvida, e o respeito vem. Com mais mulheres em cargos de gestão nas empresas, teremos salários iguais aos dos homens, e as mesmas oportunidades profissionais que eles. Quanto mais mulheres participarem de políticas públicas, menos desigualdades teremos, afinal seremos mais ouvidas, seremos vozes ativas. E para isso, me coloco à disposição para fazer minha parte, levando comigo mais vozes ativas. 

Quais os principais temas a serem debatidos, hoje, em Santa Catarina e no Brasil? Quais propostas você apresenta para pautá-los?

O Brasil está carente de educação. Educação não somente de escola, mas de valores, de conhecimento, de pertencimento. Se a fome é a maior preocupação, temos que discutir maneiras do alimento chegar de forma acessível a todos. Precisamos de inclusão, voltar a termos programas de incentivo público ao conhecimento, como o Ciência sem Fronteiras. Vimos ao longo dos últimos anos a verba para educação e ciência minguar. E isso fatalmente reflete em questões sociais mais amplas, como o desemprego, o abandono escolar e por aí vai.

Como deputada estadual, quero articular o verdadeiro papel das instituições públicas de ensino do estado. Udesc, UFSC, IFSC e Cedups precisam ter condições de ofertar a qualificação necessária e gratuita aos jovens e até adultos que precisam. Dar condições aos professores se qualificarem sem precisar sair de suas cidades para estudar…

E também que o salário dos professores não seja uma bandeira de governo, mas de Estado. Ou seja, garantir sua valorização não só em um período de governo. 

Como você pretende atender as diferentes especificidades das mulheres, contemplando em seus projetos as mulheres negras, indígenas, lésbicas e mulheres trans?

Como mulher negra eu sinto na pele as dificuldades.  E como eu disse antes, quanto mais participarmos de movimentos, quanto mais formos vistas, mais respeito ganharemos. Quanto mais nos unirmos, mais força teremos e conquistaremos espaços antes nunca alcançados. Eu fui a primeira mulher negra a comandar uma secretaria de Joinville, a pasta da Educação. Isto foi histórico. E também quero ser a segunda deputada estadual eleita de SC. O exemplo será seguido, porque quando a gente faz história, viramos exemplo. E como a educação é meu lema, tratarei esse tema na raiz. Com conceitos de inclusão já na formação das crianças. Trazendo as famílias para esse processo. Onde todos têm voz e vez. Tudo isso passa por articulações e políticas públicas. Precisamos estar na política para ajudarmos a criar essa realidade.  

Na sua opinião, quais questões mais graves afetam as vidas da população LGBTQIA+. Quais suas propostas para enfrentá-las?

Sem dúvida a segurança e educação. A segurança para ir e vir sem ter sua integridade física violada. E educação para criarmos, aos poucos, uma cultura de respeito, de integração, onde a religião não seja inimiga, mas sim parte integral do convívio amoroso e construtivo. A educação transforma as pessoas e precisamos ser mais fortes nesta questão. Como deputada estadual quero articular junto às comissões da Assembleia, e junto aos setores da sociedade, medidas e planos para que isso seja cada vez mais cuidado.

Que a vida escolar não seja uma ameaça a ninguém, que as polícias sejam mais preparadas para este público e que as escolas sejam de fato as protagonistas no respeito e construção social. 

E sobre as desigualdades raciais, quais suas propostas para superá-las?

Indo no mesmo caminho da resposta que dei antes. A escola precisa andar lado a lado com a realidade das famílias, da sociedade. Ser parte integrante do respeito e do conhecimento social. Entre minhas lutas, está a manutenção das Cotas. 

Enquanto uma candidata feminista, como pretende atuar de forma a enfrentar os discursos reacionários que não admitem que as mulheres tenham autonomia plena sobre seus corpos, que acreditam na existência de uma “ideologia de gênero” e comprometem a implementação de políticas públicas, principalmente na área da educação, voltadas à equidade de gênero?

A participação cada vez maior da mulher, da mulher negra e de todas as outras mulheres, incluindo as transgêneros, será o caminho para o respeito. Nunca tive medo de questionar valores e como deputada estadual levarei essa discussão também. Quando ocupamos espaços políticos, onde se tomam as decisões importantes, o debate acontece e as mudanças, aos poucos, ocorrem. Pode ser um trabalho de formiguinha, mas aos poucos vai aparecendo resultado. Quanto maior nosso número de representantes, maior será nossa voz. E maior será o resultado.  

A sua plataforma política prevê o incentivo à participação da sociedade na discussão e elaboração de políticas públicas. De que forma?

As redes sociais hoje são uma ferramenta incrível. Este formulário é um exemplo disso. Em pouco tempo acabamos tendo acesso às informações que levaria meses para alcançar. A sociedade está em grande parte integrada a esta rede social, precisa apenas ser direcionada. Por meio de escolas, de conselhos e até mesmo de igrejas, teremos acesso à realidade vivida pelas comunidades. Garantindo a todos o direito da participação social, fato que muitos desconhecem ou não se interessam. 

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