A partir do fim da tarde de ontem, (2), as/os manifestantes começavam a se concentrar no Largo da Alfândega. A maioria, jovens. Muitas mulheres, estudantes, trabalhadores/as. Todos carregando um sentimento único: a indignação com o golpe parlamentar que levou o vice-presidente Michel Temer à presidência. Enquanto faixas e cartazes pediam a volta de Dilma Rousseff, gritos de ordem reforçavam a campanha por novas eleições.

Concentração ocorreu no Largo da Alfandega/Foto: Catarinas
Concentração ocorreu no Largo da Alfândega/Foto: Catarinas

Policiais armados acompanharam toda a manifestação, deixando visíveis seus intimidadores sprays de pimenta. A caminhada saiu do ponto de encontro por volta das 19h30, subindo em direção à rua Tenente Silveira, de onde seguiu para a avenida Rio Branco. Neste ponto, a manifestação foi barrada pela PM, que impedia o acesso à avenida Beira-Mar.

Manifestantes pediam a saída de Michel Temer/ Foto: Catarinas

O protesto seguiu, então, em direção à Praça Getúlio Vargas, mais conhecida como Praça dos Bombeiros. Ao descer pela rua Crispim Mira, a caminho da Avenida Mauro Ramos, ocorreu o confronto entre a polícia e a manifestantes. Segundo relatos, a PM disparou balas de borracha dentro de um posto de gasolina.

O músico André Berté foi atingido na perna por uma bala de borracha. “A todo momento, a PM nos cercou com rispidez, impedindo que andássemos livremente e optássemos por trajetos. Numa das tentativas de ampliar a caminhada, a repressão foi violentíssima com cavalaria, cassetetes, tiros com bala de borracha e spray de pimenta”, conta a vítima. 

Tiro de borracha atingiu a perna de André/ Foto: Paula Guimarães
Manifestante foi atingido na perna por tiro de borracha/ Foto: Catarinas

Com a estratégia de encurralamento nas ruas transversais à Mauro Ramos pela PM, parte dos manifestantes foi dispersada. Encurraladas junto com manifestantes, jornalistas da equipe Catarinas também precisaram correr sob ameaça de gás lacrimogêneo, spray de pimenta e balas de borracha.

Alguns manifestantes responderam com pedras e queimaram sacos de lixo pelas ruas próximas. Após meia hora do confronto, quem passava pela rua ainda sentia ardor nos olhos provocado pelos resquícios das bombas de gás lacrimogênio e sprays de pimenta da polícia.

Ato foi marcado pela truculência policial/Foto: Clarissa Peixoto
Truculência policial marca o ato/Foto: Catarinas

Depois da dispersão, os/as manifestantes se reuniram novamente na Praça dos Bombeiros, de onde tentaram chegar à Praça XV. Antes, porém, ocorreu o bloqueio pelo choque. Já sem faixas, arrancadas pela polícia, as pessoas caminharam pela rua lateral à catedral guiadas por um cordão humano. “Eles nos tocavam pro Ticen feito gado. Já tinha muita gente no Ticen quando chegamos. Quando saí de lá a PM se aproximava do terminal. Não sei se houve mais confronto”, relata a ciberativista e DJ Alexandra Peixoto.

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As mulheres estavam na linha de frente/ Foto: Catarinas

Para Alexandra, a tendência é que o movimento se amplie com a adesão de mais pessoas. “A violência chama mais gente pra rua, principalmente porque violento mesmo é o golpe e violenta é a PM que para preservar o sossego da burguesia da Beira-Mar nos impede de exercer nosso direito constitucionalmente garantido de livre manifestação”, afirma.

Algumas pessoas que passavam nas ruas ou assistiam dos prédios interagiram em apoio à PM ou aos manifestantes. O policiais que faziam a barreira na Mauro Ramos receberem aplausos no retorno à Praça dos Bombeiros. Em um dos momentos emblemáticos, ocorreu discussão com uma senhora que da janela do apartamento xingou quem participava do ato. Os xingamentos receberam como resposta um grito de guerra em alusão às manifestações pró-impeachment marcadas pelo “bate panela”: “Mas que piada, bate panela, mas quem lava é a empregada.”

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Ocorreram pichações por toda parte/ Foto: Catarinas

A militante social Andressa Versa conta que ficou emocionada ao ver a dimensão que a manifestação tomou nesse segundo ato, porém lamenta o emprego de uma violência desproporcional por parte da polícia. “Foi muito lindo ver tanta gente reunida e o apoio das pessoas por onde passávamos. Mas também foi muito tenso, principalmente quando tentamos entrar na avenida Mauro Ramos para acessar a Beira-Mar. Fomos recebidos pela PM com bombas e tiros só porque tentamos avançar pela avenida. Foi horrível, muitas pessoas se machucaram. Mesmo na hora do retorno para casa, a cavalaria tentava nos encurralar em cada esquina da rua Felipe Schmidt”, relembra Andressa.

Não encontramos nenhuma fonte da PM, hoje, para falar sobre as denúncias de violência.

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