Em Pílulas de Discernimento, Joanna Burigo, mestra em Gênero Mídia e Cultura (LSE), conselheira editorial do Portal Catarinas e coordenadora Emancipa Mulher, traz pequenas notas informativas e analíticas sobre temas do cotidiano social e político que estão em debate nos fóruns das redes sociais.

Imagem do mal

O Bolsonaro-como-imagem é a soma da representação que ele mesmo faz de vários papéis. Um deles — um dos mais recorrentes, e que se apresentou na live de quinta-feira (8), em que ele disse, com todas as letras, “caguei para a CPI” — foi inventado pela comédia audiovisual durante a guerra fria. Esse personagem a que me refiro é o do autoritário bobalhão. Do que aparenta ser inofensivo por ser tão bobo, mas que a comédia sempre soube se tratar de grande ameaça. Essa repetição representativa é notoriamente interpretada pelos Monty Python em vários esquetes, os mais crassos pelo John Clease, os mais discretos pelo Michael Palin. Outro, e talvez o que seja a matriz destes personagens, é o Dr. Fantástico do Peter Sellers. Nos Trapalhões brasileiros da transição da ditadura para a abertura democrática, esse personagem era encarnado pelo Sargento Pincel. Eu me refiro ao Governo Bolsonaro como “III Reich do Sargento Pincel” porque sou do deboche, porque o humor é sempre uma forma de sublimar o horror. O Bolsonaro — e suspeito que isso um dia será entendido como parte intrínseca disso que se chamará de método Bannon — faz esse exato exercício, só que em marcha-à-ré. O discurso da pataquada é feito para sublimar o horror já na largada, o discurso já sai como a paródia que faríamos dele. Que tempos.

Bolsonarismo e recalque sexual

Nas tiradas sobre sexualidade a repugnância do clã Bolsonaro jorra sem pudores, e se muitas pessoas não enxergam que os recalques cisheterossexuais e desejos de dominação patriarcal deles sempre estiveram visíveis, e sempre foram significantes para revelar que tipo de sociedade a laia deles visa forjar, é porque ainda falta muito entendimento sobre patriarcado, gênero e feminismo.

Banalidade do mal

Tá em todas as mídias: 

“Creio que não deve haver dúvida razoável de que ela não foi afastada por crimes de responsabilidade ou corrupção, mas sim foi afastada por perda de sustentação política. Até porque afastá-la por corrupção depois do que se seguiu seria uma ironia da história“.

Do presidente do TSE e ministro do STF Luis Roberto Barroso sobre o impeachment de Dilma Rousseff.

Agora estamos aí, com o pior presidente da história do mundo mundial, na maior crise sanitária da nossa geração, e os que ajudaram a gente a chegar nesse estado de coisas (por conta de uma mistura de analfabetismo político com arrogância, e muita misoginia, racismo e classismo) estão de boas, postando foto das férias, da vacina, dos filhos…

Ressentimento

2020 e 2021 vêm sendo os anos do aprendizado sobre como transformar ressentimento em algo de bom.

Metáfora

Quando tudo o que sobrou do incêndio do Museu Nacional foi aquele  meteoro, a psicanalista Camila Kfouri notou que no Brasil já não havia mais metáfora. Pois venho oferecer uma para os tempos: estamos na lama, e a lama é feita de merda. Sigamos avante, que opção temos?

Culto

Vocês já devem ter se deparado com Bolsonaristas agradecendo Bolsonaro — assim, nominalmente — pela vacina.

Nós ficamos perplexos, porque a CPI acumula  evidências que o nosso presidente ativamente atrapalhou o combate ao Covid-19. 

Acontece que o presidente deles diz “caguei pra CPI”.

O Bolsonarismo parece culto. Os impulsos e pulsões são difíceis mesmo de entender. O frenesi é pelo compromisso firmado com um líder carismático. Não com a realidade.

Mitologias

Um exercício difícil e necessário: acomodar a ideia de que algumas pessoas ativamente preferem viver sob mitologias, ainda que inconscientemente.

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  • Joanna Burigo

    Joanna Burigo é natural de Criciúma, SC e autora de "Patriarcado Gênero Feminismo" (Editora Zouk, 2022). Formada pela PU...

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