Nesta terça-feira (13), a Câmara Municipal de Florianópolis (SC) votou a favor da abertura do processo por infração ético-disciplinar contra o vereador Marcos Leandro da Silva (PSC), o Marquinhos. A denúncia, com pedido de cassação do parlamentar, foi apresentada pela vereadora Carla Ayres (PT) em razão do assédio sofrido por ela na última semana, quando o vereador a abraçou e beijou à força. A decisão contou com vinte votos a favor e um contrário, do vereador Maikon Costa (PL), que tumultuou a sessão com diversas questões de ordem.  

A denúncia foi entregue à mesa diretora da Casa na quinta-feira (8). No texto, lido pelo primeiro secretário, Adriano Flor (Republicanos), a vereadora relatou as cenas amplamente difundidas na semana anterior, inclusive aqui no Catarinas, onde o parlamentar a puxou pelo braço e, quando ela tentou se soltar, ele levantou, a agarrou por trás e tentou beijá-la contra sua vontade. A parlamentar denunciou a ocorrência do crime de importunação sexual e de violência política contra a mulher.  

“A Câmara Municipal deu uma resposta à sociedade, diante da repercussão e da gravidade do ocorrido. Não podemos mais tolerar que a violência contra as mulheres seja um instrumento de exclusão nos espaços de poder e decisão. O Brasil está acompanhando de perto os desdobramentos desse caso e a sociedade de Florianópolis não aceitará a impunidade”, disse em nota Carla Ayres após a votação. A parlamentar fez questão de lembrar que o Código de Ética e Decoro Parlamentar foi aprovado em abril deste ano. “Essa já é uma decisão histórica, afinal, será a primeira vez que um vereador da nossa cidade será investigado por base na nova lei”, comentou.  

Da galeria pública do plenário, dezenas de pessoas acompanharam a leitura da denúncia e a votação em solidariedade à vereadora. Durante a sessão foram lidas notas de repúdio ao episódio enviadas pelo movimento Humaniza SC, pelo Conselho Municipal dos Direitos da Mulher (Comdim) e pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e da Promoção da Igualdade de Gênero da própria Câmara. 

Anteriormente à votação, foi constituído o Conselho de Ética da Câmara Municipal, formado por cinco membros e três suplentes, a partir das indicações dos líderes dos partidos. O órgão terá um prazo de cinco dias após o recebimento da denúncia para iniciar a investigação e notificar o parlamentar Marquinhos, que tem direito a enviar uma defesa escrita em até dez dias. Segundo o presidente da Câmara, Roberto Katumi Oda (PSD), a Comissão deve seguir o calendário da Casa Legislativa, que entra em recesso a partir do dia 21 de dezembro.   

Além da denúncia apresentada no legislativo, a vereadora Carla Ayres também registrou um Boletim de Ocorrência na Polícia Civil pelos crimes de importunação sexual e violência política de gênero. A Procuradoria Regional da República, por meio do GT Violência Política de Gênero, por sua vez, entrou com uma representação junto à Procuradoria Regional Eleitoral em Santa Catarina, pelo crime de violência política de gênero.

Parlamentar será investigado na Câmara de Florianópolis por assédio à vereadora
Os vereadores Carla Ayres (PT) e Marquinhos (PSC) não participaram da votação, mas estiveram presentes na sessão. Foto: Reprodução.

Marquinhos foi acusado por assédio moral enquanto diretor geral da Floram

Em uma ação trabalhista, promovida pela trabalhadora Renata Ouriques, o então diretor geral da Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis (Floram), Marcos Leandro Gonçalves da Silva, foi acusado de “perseguir” a funcionária. A autora, que trabalhava de forma terceirizada na Floram, ingressou com a ação em fevereiro de 2019 contra a empresa Orbenk Administração e Serviços Ltda e contra a entidade pública vinculada ao poder municipal. 

No processo, a funcionária relata que no final de 2018, o Marquinhos começou a realizar cobranças de horários e serviços que não havia antes. “Acredita-se que tais atos eram uma represália por ter a autora reclamado com outras pessoas sobre os assédios sexuais que sofreu dentro da Floram, por outros integrantes”, conta na peça inicial da ação. Em um dos casos citados pela autora, o então diretor geral adentrou na sala em que ela trabalhava, começou a gritar com a mesma e proferir ameaças de demissão, dizendo que os dias dela estavam contados. 

No decorrer do processo, algumas testemunhas corroboraram com a versão da funcionária, como é o caso do ex-superintendente Álvaro Augusto Colle Casagrande.  No seu depoimento, Casagrande afirmou que Silva não tinha perfil para gestão de RH e direção geral, sendo que com relação à funcionária, ele começou a persegui-la sob o fundamento de que não cumpria o horário, o que não era realidade. O ex-superintendente ainda disse ter presenciado Silva berrando com a funcionária no corredor da Floram.

O servidor público, Antônio Carlos Simas, confirmou que o antigo diretor geral perseguia a autora, além disso afirmou ter presenciado Silva gritar com a funcionária no corredor. Em seu depoimento, Simas reconheceu ter sido perseguido, assim como outros funcionários, que foram ameaçados de demissão. Apesar de ter sido citado no processo, Marcos não é réu nesta ação a qual tivemos acesso. A Fundação Municipal do Meio Ambiente de Florianópolis, foi condenada na primeira instância, porém recorreu da decisão e  foi excluída da ação no segundo grau, cabendo a condenação por assédio moral somente à empresa terceirizada.

Assista ao vídeo completo da sessão ordinária desta terça-feira (13).

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  • Fernanda Pessoa

    Jornalista com experiência em coberturas multimídias de temas vinculados a direitos humanos e movimentos sociais, especi...

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