Na tarde da última segunda-feira (24), eu cobri o evento “Mulheres com Bolsonaro”, liderado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro ao lado da ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos e senadora eleita pelo Distrito Federal, Damares Alves (Republicanos), na igreja evangélica Mais de Cristo, em Capoeiras, Florianópolis. Esta foi a primeira cobertura em que eu não senti segurança em me identificar enquanto jornalista do Portal Catarinas.

Antes de ir ao evento, improvisei uma troca de camiseta para evitar chamar atenção, porque a que eu estava vestida estampava “Lute como uma garota”, uma camiseta utilizada por muitas feministas, assim como eu. Isto foi suficiente para atrasar a minha chegada ao local, onde acompanhei os últimos momentos do evento no pátio da igreja. Devido à lotação, não era possível entrar. 

As pessoas começaram a sair da igreja e se concentraram nas saídas e nas grades colocadas para a segurança das/os convidadas/os. A euforia e a expectativa do público era ter algum contato com a primeira-dama. Enquanto aguardávamos ali, as mulheres puxavam gritos de “Bolsonaro 22” e “a nossa bandeira jamais será vermelha”. Uma referência à bandeira do movimento comunista. Os comentários davam o tom das narrativas que haviam sido reforçadas no evento. 

– Michelle é muito corajosa de estar aqui depois de ter sofrido o ataque – disse uma das eleitoras bolsonaristas. 

– “Ele ter escapado daquela facada foi para cumprir a sua missão divina” – respondeu outra. 

As primeiras personalidades públicas a saírem do espaço interno e acenarem para a multidão foram o candidato ao Governo do Estado de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), e sua vice, Marilisa Boehm (PL). Em seguida, apareceu a deputada estadual de Santa Catarina Ana Caroline Campagnolo (PL), o senador eleito Jorge Seif (PL) e o empresário Luciano Hang. Vestido de verde e amarelo, o proprietário da Havan correu para perto das grades e incitou as mulheres, que devolveram com gritos de “Luciano” em sua celebração. Por fim, Michelle Bolsonaro também saiu, gerando uma forte comoção ao meu redor. O público acompanhou o trajeto dos carros até a saída, e em seguida começou a dispersar.  

Eu aproveitei o momento para perguntar para algumas mulheres o que as motiva a seguir votando em Bolsonaro: um candidato que ataca os seus direitos. A estratégia era fazer uma aproximação das possíveis entrevistadas de maneira respeitosa e tranquila. Porém, em alguns momentos, encontrei resistências e indagações bem incômodas. Não fico feliz em admitir que menti em resposta à maioria das perguntas. Por medo de sofrer alguma agressão física, neguei boa parte do que sou. Por isso, as respostas que recebi estarão expostas sem identificação. 

Nenhuma das entrevistadas para o artigo soube apontar propostas do candidato Jair Bolsonaro. Foto: Ana Araujo/COM.MOB.

Conservadorismo e medo da esquerda são justificativas para voto em Bolsonaro

A primeira pessoa que abordei era uma senhora de 70 anos. Ela compareceu ao evento com filhas e netas, e aceitou falar comigo sem muitas resistências, após eu explicar ter um blog com textos sobre política. Moradora de Florianópolis, ela acredita que Jair Bolsonaro (PL) é o melhor para o país no momento. “Meu voto é pela nação, que a gente sabe que corre perigo. Estamos temerosas com o socialismo entrando”, declarou. A dona de casa celebrou que o candidato reacendeu o seu patriotismo. “Eu acho que ele é uma pessoa que transparece aquilo que ele é, uma pessoa que fala aquilo que ele pensa, que ele acredita. Eu me identifico com a verdade dele”, disse.

Para a dona de casa, a educação e a saúde são as áreas que merecem mais atenção do próximo Governo, porém ela não sabe bem quais as propostas do candidato. “Ele passa que não está dormente em relação à educação, ele está sendo atuante, está fazendo as coisas. Eu entendo, como brasileira, que é tudo muito devagar mesmo, porque a crise é mundial. Então as coisas vão mudando aos poucos”, finalizou. 

Para uma segunda entrevista, busquei conversar com uma mulher mais jovem. Uma moradora de São José, município da Grande Florianópolis, de 33 anos, aceitou conversar comigo. Ela escolheu o candidato do Partido Liberal porque é o que tem mais afinidade em relação aos ideais. “O diferencial dele é o conservadorismo, como ele trata as questões sobre o aborto, eu achei que a condução da política econômica que ele fez no Brasil foi boa”, explicou.

Entre as características que destaca no candidato estão a “honestidade, a capacidade de delegar e o conhecimento de causa”. Ela não soube apontar muitas propostas do plano de governo de Bolsonaro, mas acredita que ele deve investir para “fazer com que as pessoas produzam mais e tenham o retorno disso, não simplesmente ajudar por um programa social”. A entrevistada afirmou querer mais “investimento em empregos e melhorias nas condições dos empresários”. 

A terceira pessoa que eu entrevistei, foi a mais desafiadora. Ao me aproximar e pedir para conversar, ela questionou: 

– Moça, você é esquerdopata? Eu não falo com esquerdopata. 

– Não sou – respondi com medo de assumir o meu posicionamento político e negando a patologização que o termo tenta transmitir. 

Ao longo da conversa, ela também perguntou sobre a minha crença, religião, voto, idade e o local da minha formação, mas as minhas respostas foram o mais alinhadas possíveis com o que eu considerei que ela fosse aceitar. Para ela, eu me identifiquei como uma estudante de mestrado em comunicação.  

Aos 53 anos, ela contou ter vivido na Venezuela por mais de trinta anos e, a partir desta experiência, definiu o seu posicionamento nestas eleições.  “Eu voto em Bolsonaro porque eu sou da direita, eu nunca gostei da esquerda. Desse pecado eu não vou morrer”. Desde jovem, ela se identificava com o político conservador Enéas Carneiro, e sua experiência no país vizinho acabou reforçando a sua aversão aos espectros políticos mais progressistas. Moradora de Palhoça, ela destaca em Bolsonaro o bom caráter e a honestidade. “Eu amo o Bolsonaro. Ele fala palavrão? Sim, se for esquerda ou comunista você não pode tratar com carinho, tem que ser do jeito que ele é. Bolsonaro é a melhor pessoa do mundo”, elogiou.

Também acredita que o atual governo “investiu o suficiente” em políticas públicas. “Ele já investiu em tudo. É só a esquerda sair e o Brasil melhora. Todas as nossas instituições estão controladas pela esquerda. Eles querem acabar com o país. Se o Bolsonaro ganhar e tirar essa esquerda do poder, do legislativo, do STF, ele vai colocar pessoas de verdade, professores de verdade, nas universidades”, assegurou. 

Por fim, conversei com uma moradora de Florianópolis, que revelou ter apertado treze nas urnas nas últimas eleições presidenciais, “quando não sabia que Lula e Dilma eram de esquerda”. Ao lado de sua mãe, que concordava a cada palavra, ela afirmou votar em Bolsonaro pela “democracia”, “pela liberdade do cidadão de bem se proteger dentro da sua casa” e “pelas mulheres”. “Ele não é misógino, não é homofóbico. Várias mulheres estavam aqui nesse momento. Ele apoia a esposa dele nos lugares. Pela primeira vez na história, a esposa de um presidente fez o primeiro discurso antes dele. Bolsonaro deu a honra para a mulher. Isso vai ficar para a história”, garantiu.

Apesar de não responder quais propostas de políticas públicas de Bolsonaro considera relevante, opinou que o atual presidente está atuando bem. “O Bolsonaro iniciou o caminho das políticas públicas, porque estava muito defasado. Reclamam que não tem políticas públicas, mas tem sim. O Auxílio Emergencial é uma realidade, o Auxílio Brasil também. As pessoas em extrema pobreza não estão passando fome, é fake news”.

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  • Fernanda Pessoa

    Jornalista com experiência em coberturas multimídias de temas vinculados a direitos humanos e movimentos sociais, especi...

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