“O que você quer ser quando crescer?” a pergunta feita por uma professora tem rondado a cabeça de Oyá, uma menina de seis anos que usa tererês coloridos na ponta dos cabelos trançados. Nessa busca, em meio a dúvidas e descobertas, elementos da história e cultura afro-brasileira despertam valores como pertencimento e ancestralidade. O brilho nos olhos de Oyá, pela ilustração de Íris Palo, traduz o protagonismo de uma personagem negra que se destaca na literatura infantil. Mesmo tão pequena, tem um grande desafio: compartilhar sua história para que outras crianças negras se sintam representadas. Ela habita “O Mundo de Oyá”, livro infantil da arte-educadora Giselle Marques, que será lançado no próximo dia 31, às 18h, no Seminário Internacional Fazendo Gênero, em Florianópolis.

“Gente grande é engraçada, pergunta mas não quer saber a resposta”, reflete Oyá durante seus momentos de inquietação. Criada pelos avós em um universo afetuoso, ela é uma criança com sonhos que não cabem nos estereótipos vinculados à sua etnia. “A ideia surgiu a partir da invisibilidade cotidiana que nossas crianças negras sofrem principalmente nos espaços educacionais. A falta de representatividade no universo infantil ainda é impactante quando comparado às obras na literatura com protagonistas majoritariamente de pele clara. Deixa-se explícito o não lugar de crianças de outras origens étnicas, bem como suas histórias e cultura”, explica Giselle sobre a motivação da obra.

A influência de mulheres como a avó e as professoras na construção do imaginário da menina tem origem em memórias da autora. “Elas trazem essa referência feminina tão marcante na vida de cada um de nós e pouco valorizada. A obra é dedicada às referências femininas na minha vida: a avó Fausta, a mãe Marlei e a tia Marlete”.

A ideia é estimular a implementação da Lei 11.645/08, que estabelece o ensino da história e cultura afro-brasileira e africana nas escolas públicas e particulares, do ensino fundamental ao médio. A experiência de quase 20 anos como arte-educadora motivou Giselle na criação de uma obra que apresentasse características de livro paradidático. Ela sugere que a publicação seja utilizada na educação infantil de formas criativas com o auxílio do fantoche da personagem, que também será lançado no evento. A contação de histórias é uma das maneiras para despertar nas crianças o desejo de descobrir o mundo de Oyá.

“Oyá vê o mundo através dos olhos da nossa criança interna, para ela não há problema em ouvir ‘aquela voz que fica dentro da cabeça da gente e ninguém escuta’. Não tem medo de passar por situações conflitantes para achar a resposta que tanto procura”, diz sobre o espírito livre da menina.

O projeto tem financiamento do Sindprevs/SC (Sindicato dos Trabalhadores em Saúde e Previdência do Serviço Público Federal no Estado de Santa Catarina), por meio do seu núcleo de gênero e raça. A pesquisa e ilustração receberam apoio do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros (NEAB/UDESC). Parte da tiragem de mil exemplares será destinada à doação para comunidades contempladas no projeto.

Giselle também atua como atriz em monólogos que protestam contra os lugares subalternos reservados às mulheres negras na sociedade brasileira. Entre os espetáculos teatrais está o “Mulata tipo exportação”.

Serviço
Lançamento de “O Mundo de Oya”
Quando: 31 de julho, segunda-feira, às 18h
Onde: Tenda Mundos de Mulheres, em frente à reitoria de Ufsc
Quanto: R$ 25 no lançamento e R$ 30 após.

 

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  • Paula Guimarães

    Paula Guimarães é jornalista e cofundadora do Portal Catarinas. Escreve sobre direitos humanos das meninas e mulheres. É...

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