Por Daniela Muller.

A memória de Marielle Franco e sua representatividade política – interrompida há quase um ano – revelam a necessidade de uma mudança no sistema político e na sociedade, que zela por homens brancos heterossexuais e se refletiu no assassinato de uma das poucas mulheres negras e lésbicas que chegaram a ocupar um cargo político no País.

Marielle Franco nasceu na Favela da Maré no Rio de Janeiro e lançou sua candidatura nas eleições de 2016, sendo a quinta vereadora mais votada do Rio de Janeiro. Nas eleições de 2018, as mulheres negras LGBT+ representaram apenas 0,1% das candidaturas totais para os cargos disputados.

A vereadora do PSOL teve sua trajetória política marcada pela luta em defesa dos Direitos Humanos, com grande ênfase na militância feminista, no ativismo negro e na defesa dos direitos da população LGBTI+. Em fevereiro de 2018, durante a intervenção federal no Rio de Janeiro, Marielle assumiu a Relatoria da Comissão da Câmara de Vereadores do Rio, criada para fiscalizar as ações policiais.

Ela denunciava frequentemente a violência policial nas operações nas favelas- principalmente na Favela de Acari.Um mês após assumir a relatoria, Marielle foi executada. Nove meses  se passaram e o crime continua sendo investigado, sem a identificação dos autores.

Ao mapear e cruzar dados sobre o perfil de candidatas e candidatos na política brasileira foi possível analisar quantitativamente a representatividade de Marielle e seu legado de luta para a construção de espaços decisórios que não sejam ocupados majoritariamente por homens brancos e heterossexuais.

Nas Eleições 2018, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) divulgou o perfil das candidaturas, com informações sobre gênero, raça, escolaridade e afins. Os dados apontam que o percentual de mulheres corresponde a 30% das candidaturas e de pessoas negras, 46% – o que mostra a subrepresentatividade feminina e negra dentro do sistema político.

No entanto, as informações oficiais do TSE, não abordam questões referentes à identidade de gênero (cisgênero – que se identifica com o gênero que lhe foi atribuído ao nascimento – ou transgênero) e orientação sexual (heterossexual, homossexual, bissexual, etc) dos candidatos, o que impossibilita a avaliação da representatividade LGBTI+ na política atual.

Diante da ausência desses dados, a Aliança Nacional LGBTI+, organização não-governamental que pesquisa questões de gênero e sexualidade, forneceu, na última eleição, uma listagem dos candidatos que se autodeclararam LGBTI+ (autodeclaração espontânea, portanto, sujeita a subnotificação).

A lista divide os candidatos entre “aliados” e “LGBTI+”, mas não detalha sua raça e gênero. Esses dados (gênero e raça) separados dos dados da população LGBTI+, impossibilitam uma análise sobre a interseccionalidade* e como ela interfere na representação política e social.

O cruzamento dessas informações é essencial para se discutir como a questões de gênero, raça e orientação sexual/identidade de gênero, estão interligadas e interferem no preconceito e na exclusão política. Tendo em vista essa lacuna, foi realizado o cruzamento desses dados, avaliando a raça e o gênero dos LGBTI+ que se candidataram nas eleições 2018. O infográfico foi construído a partir desse cruzamento, buscando responder: “quantas mulheres, negras e lésbicas disputaram um cargo na política brasileira em 2018?”

Infográfico sobre a interseccionalidade a partir de dados das eleições 2018

* O texto e o infográfico foram originalmente produzidos como trabalho final para a disciplina de Jornalismo e Gênero, do curso de Jornalismo da UFSC

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