Professora, Larissa Stephanie, 23 anos, é candidata ao cargo de vereadora em Joinville (SC) pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). É mulher branca, cisgênero e bissexual. Uma das co-fundadoras do Movimento Feminista da Diversidade de Joinville e da UNA LGBT Joinville, Larissa quer representar os movimentos feministas e LGBTQIA+ e a Zona Leste do município na câmara.
Larissa é a nona candidata a responder ao questionário proposto pelo Catarinas para divulgar as candidaturas comprometidas com a agenda política feminista, antirracista, LGBT inclusiva e anticapacitista no estado em Santa Catarina. As entrevistas são publicadas diariamente por ordem de chegada. Dado o volume de respostas recebidas, vamos publicar mais de uma entrevista em determinados dias.
O questionário foi dividido em cinco eixos temáticos, abordando questões centrais para a análise das candidaturas:
- Perfil
- Apoio e financiamento
- Propostas
- Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários
- Violência política e desinformação
Acompanhe a entrevista com Larissa
Perfil
Resuma sua trajetória de vida/militância e o que a motivou a disputar estas eleições.
Nasci e cresci na Zona Leste de Joinville, lá no Comasa. Estudei na Escola Municipal Navarro Lins onde percebi como a educação mudava vidas. Entrei na graduação de Administração e logo no início da faculdade comecei a participar do movimento estudantil, na União Catarinense das e dos Estudantes (UCE), onde atuei em diversas lutas contra os aumentos abusivos da faculdade e pela Renda Mínima na pandemia.
Fui uma das co-fundadoras do Movimento Feminista da Diversidade de Joinville, em 2019, e também da UNA LGBT Joinville.
Em 2022 assumi a tarefa de disputar uma vaga na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, sendo a candidata mais jovem daquele ano. Hoje atuo como professora em um instituto de cursos profissionalizantes e sou a única candidata LGBT+ na câmara de vereadores de Joinville.
Quais personalidades políticas são suas referências?
Dani Balbi, Manuela D’Avila, Olivia Santana, Erika Hilton, Orlando da Silva, Camila Jarans, Giovana Mondardo.
Apoio e financiamento
Você tem conseguido verba para a campanha? Quais?
Sim: Apoio e recursos do partido e doações diretas.
Você enfrenta desafios para arrecadar os recursos necessários para sua campanha? Se sim, quais são os principais?
Tenho dito dificuldade de colocar a campanha na rua. Visivelmente sou uma candidata de esquerda e LGBT, o que em 2022 já percebemos que nos tornava alvo de ataques. Além disso, em vários espaços sou descredibilizada por conta de ser jovem.
Qual é a importância do financiamento coletivo para a viabilidade de sua candidatura?
Hoje consegui um bom valor de fundo eleitoral, então o financiamento coletivo não é tão urgente, mas obviamente impulsionará muito.
Propostas
Quais são os principais temas a serem debatidos no município e suas propostas para cada um?
Temos um total de 36 propostas para 6 eixos: Mulheres, LGBTS, Juventude, Educação, Zona Leste e Direito à cidade. Colocarei só a principal proposta de cada um dos eixos:
Mulheres: lutar pela ampliação das Casas de Acolhimento para Mulheres Vítimas de Violência.
LGBTs: lutar pela criação de um Ambulatório Especializado no Processo Transexualizador, com equipe médica, psicológica e enfermaria para atendimento.
Juventude: alterar a legislação do Conselho Municipal de Juventude para que volte a ser um conselho deliberativo, ampliando a participação da sociedade civil organizada.
Educação: apresentar um projeto de lei, implementando educação sexual nas escolas, segundo a Base Nacional Comum Curricular (BNCC).
Zona leste: criar a linha universitária da Zona Leste para estudantes universitários e do ensino técnico.
Direito à cidade: criar subsedes da Casas de Cultura em todas as regiões de Joinville.
Quem forma sua base eleitoral? Quais são suas mensagens centrais? E seu slogan de campanha?
Jovens, mulheres, LGBTs, trabalhadoras e pessoas de esquerda ou que estejam abertas a ouvir e conhecer um pouco mais as nossas lutas. O nosso slogan é “Amar e Lutar por Joinville”.
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Tem propostas para promover a igualdade de gênero, LGBTQIA+ e racial no âmbito municipal? Se sim, quais?
Sim. Construir, junto com a sociedade civil, a Parada do Orgulho LGBTI+ de Joinville. Criar um selo de “espaço LGBT-seguro”, para estabelecimentos comerciais que cumprirem requisitos de atendimentos, empregabilidade e acolhimento de pessoas LGBTI+. Fiscalizar a adesão da Prefeitura Municipal de Joinville nas diretrizes e políticas da Saúde Integral LGBT do Ministério da Saúde.
Lutar pela criação de um Ambulatório Especializado no Processo Transexualizador, com equipe médica, psicológica e enfermaria para atendimento. Fortalecer as campanhas de distribuição de preservativos, lubrificantes, testagens e prevenção combinada de HIV/AIDS e outras ISTs. Cobrar que uma equipe do NASF atenda as travestis profissionais do sexo, durante a noite, na cidade
Criar legislação que normatize o cadastro do nome social para toda a Administração Pública direta, indireta, autárquica e fundacional municipal de Joinville. Propor legislação que penalize servidores que cometam atos de LGBTfobia. Lutar contra projetos de Lei de cunho LGBTfóbico, machista, capacitista e racista de autoria da Câmara de Vereadores de Joinville.
Criar a IV Conferência Municipal dos Direitos Humanos LGBTQIA+ e o Conselho Municipal dos Direitos Humanos e Políticas Públicas da População LGBTI+. Lutar por políticas de ingresso e permanência de pessoas transexuais e travestis nos cursos técnicos e de graduação de Joinville. Criar campanhas de mutirão de contratação de pessoas LGBTI+ no mercado de trabalho, em parceria com a Associação Empresarial de Joinville (ACIJ), CDL e empresas de Joinville.
Lutar pela criação de Casas de Acolhimentos para a População LGBTI+, especialmente crianças, adolescentes e idosos. Realizar a IV Conferência Municipal de Direitos Humanos e Políticas Públicas LGBTQIA+ de Joinville.
Você tem propostas relacionadas à política do cuidado? Se sim, quais?
Sim. Criar CMEIs, que funcione no período noturno, para mães estudantes e trabalhadoras. Instituir o “Madrugadão” com parada segura para mulheres. Exigir equipe técnica para o Apoio Educacional Especializado nas unidades escolares infantil e fundamental
Lutar pela criação de um Ambulatório Geriátrico de Joinville, com serviço médico, de enfermagem e psicológico. Propor um mapeamento de acessibilidade urbana para identificar calçadas danificadas e melhorias de acessibilidade nas vias públicas.
Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários
Como pretende enfrentar discursos reacionários que comprometem a equidade de gênero e racial, especialmente na educação?
Nossa campanha tem sido construída coletivamente, cada proposta foi discutida e conversada com diversas pessoas de diversas regiões da cidade, pois sabemos que teremos muita resistência no legislativo, mas é esse mesmo coletivo que construí as propostas que baterá de frente contra discursos reacionários. Não me calarei e quero que a população joinvilense também não, e se junte a nós em momentos de debate para também combater de frente.
Como avalia a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas municipais?
A política só é para todos se a população participa do processo de construção e decisões.
Sua plataforma propõe formas de ampliar a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas? Se sim, como?
Sim. Pretendemos criar um outro gabinete descentralizado na zona leste de Joinville, para nos aproximarmos da comunidade e demonstrar a disponibilidade e a vontade de construir junto com a população. Para além disso, pretendemos utilizar as redes sociais para sempre divulgar com transparência as discussões da Câmara e convidar a população a acompanhar.
Qual o papel das minorias políticas na transformação dos serviços de saúde e educação municipais?
Nós sabemos que a saúde e a educação são direitos, mas que também são negados principalmente para as minorias, por isso a importância de ocuparmos os espaços políticos para reivindicarmos nossos direitos.
Violência política e desinformação
Já sofreu ataques, incluindo intimidação, durante a sua trajetória devido à sua agenda política? Em caso positivo, pode compartilhar algum caso?
Sim. Já recebi diversos ataques pelas redes sociais de ameaças de agressão física, homens mandando fotos íntimas, homens trocando voto por sexo ou fotos minhas, e ataques verbais em panfletagens.
Nesta campanha, sofreu ataques nas redes sociais ou nas ruas? Se sim, quais?
Sim. Até o momento nas redes, xingamentos e desmoralização.
Sua candidatura tem sido alvo de desinformação? Se sim, como?
Não.
Tem ações específicas para combater a desinformação? Se sim, quais?
Não.