Prof. Iza Alicerce, de 34 anos, é candidata ao cargo de vereadora em Florianópolis (SC) pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). Mulher branca, cisgênero e heterossexual, Izabele representa o Coletivo Alicerce Santa Catarina, que luta contra todas as formas de exploração e opressão, e busca um Brasil que atenda aos interesses da classe trabalhadora, da juventude e das pessoas empobrecidas. Sua candidatura surge do desejo de ampliar as vozes da coletividade, com foco na justiça social, inclusão e na defesa de uma cidade com dignidade para todas as pessoas.
Izabele é a vigésima segunda candidata a responder ao questionário proposto pelo Catarinas para divulgar as candidaturas comprometidas com a agenda política feminista, antirracista, LGBT inclusiva e anticapacitista em Santa Catarina. As entrevistas são publicadas diariamente por ordem de chegada. Dado o volume de respostas recebidas, vamos publicar mais de uma entrevista em determinados dias.
O questionário foi dividido em cinco eixos temáticos, abordando questões centrais para a análise das candidaturas:
- Perfil
- Apoio e financiamento
- Propostas
- Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários
- Violência política e desinformação
Acompanhe a entrevista com Izabele
Perfil
Resuma sua trajetória de vida/militância e o que a motivou a disputar estas eleições.
Minha trajetória na militância começou na juventude. Entrar em uma universidade pública, como a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em um curso de educação, como o de Letras, me deu a oportunidade de conhecer e participar da luta por uma educação pública e de qualidade junto com o movimento estudantil. Isso me proporcionou também participar das lutas da cidade, como do movimento passe livre, das revoltas de junho de 2013 e do movimento feminista.
Ao me tornar professora do município de Florianópolis, em tempos de governo Bolsonaro, eu comecei a militar na base do sindicato de municipários da cidade, o Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Florianópolis (SINTRASEM). Já afastada do movimento estudantil, me aproximei do movimento sindical.
No ano de 2020 senti a necessidade, ou a urgência, de organizar a minha revolta. Foi quando entrei para o Coletivo Alicerce. E é pela coletividade do Alicerce que hoje eu estou candidata à vereança na cidade. As eleições burguesas não vão resolver os nossos problemas, mas disputá-las é fundamental.
Entendemos a importância do processo das eleições como mais um momento para estarmos nas ruas e disputarmos a consciência do povo que batalha e constrói a cidade. Nossa campanha é uma campanha feita a muitas mãos, na disputa de uma cidade com direitos e dignidade para todes.
Quais personalidades políticas são suas referências?
Tem muita gente importante que contribuiu e/ou segue contribuindo para a compreensão da nossa realidade para que a gente possa intervir nela e transformá-la. Desde intelectuais como Rosa Luxemburgo e Lélia Gonzalez, como as escritoras Carolina Maria de Jesus, Conceição Evaristo e o poeta Sérgio Vaz.
Se for citar aqui todas as referências, com certeza esquecerei de muitas. E, para além das lutadoras/es que já citei, com certeza a nossa inspiração e convicção de que só a luta muda a vida está no nosso cotidiano, na organização do povo que batalha contra a barbárie e o sufoco de cada dia, desde a empregada doméstica ao professor precarizado, do terceirizado ao trabalhador do serviço público, dos motoboys aos trabalhadores da cultura.
Apoio e financiamento
Você tem conseguido verba para a campanha? Quais?
Sim. Apoio e recursos do partido e financiamento colaborativo.
Você enfrenta desafios para arrecadar os recursos necessários para sua campanha? Se sim, quais são os principais?
Sim. Os critérios de distribuição do fundo partidário para os partidos é um obstáculo para todes. Principalmente para um partido como o PSOL, que deve prezar pela sua independência política e financeira. Além disso, nossa campanha é financiada colaborativamente por trabalhadores/as, que contribuem porque acreditam na nossa política.
Qual é a importância do financiamento coletivo para a viabilidade de sua candidatura?
O financiamento coletivo é uma forma de garantir nossa autonomia e independência política e financeira. Além de proporcionar que, a partir da nossa coletividade, a gente chegue a mais lugares e territórios da cidade com nossos materiais e a nossa política.
Propostas
Quais são os principais temas a serem debatidos no município e suas propostas para cada um?
Nós, enquanto Coletivo Alicerce, definimos alguns eixos para a nossa campanha que é a Campanha do Povo que Batalha. Os eixos são cidade, direitos e trabalho. A partir deles e do nosso acúmulo nós definimos temas para a elaboração dos nossos panfletos.
Por isso, nosso programa pode ser encontrado nos nossos panfletos. Ao todo são seis panfletos com os temas mais centrais como o de mulheres, mobilidade urbana e tarifa zero, serviço público, juventude, educação, todos relacionados aos problemas que enfrentamos cotidianamente na nossa cidade, e um último sobre o alto custo de vida para as/os trabalhadores que vivem em Floripa.
Há muitos temas que se interseccionam a partir dos eixos principais e dos temas abordados nos nossos materiais. A nossa principal luta é pela disputa do direito à cidade para todes que batalham. Uma cidade com direitos e dignidade para as/os trabalhadores/as. Afinal, que cidade queremos? Uma cidade que não esteja à venda e que não seja organizada pelos os de cima, daqueles que sempre tiveram seus direitos garantidos por um estado neoliberal, mas sim, uma cidade para o povo.
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Mesmo definindo alguns temas principais, nós sabemos que um mandato no legislativo tem suas limitações dentro da democracia burguesa. Toda e qualquer ação de um mandado combativo deve estar sempre relacionado à luta dos movimentos sociais, impulsionando as iniciativas da classe trabalhadora e denunciando o nosso sufoco diário. Não tem atalho e nem salvador/a, só a luta do povo trabalhador.
Quem forma sua base eleitoral? Quais são suas mensagens centrais? E seu slogan de campanha?
Nossa base eleitoral é o povo que batalha e constrói a cidade, ou seja, todas as pessoas que conseguirmos alcançar através da campanha de rua e da produção de conteúdo, moradoras/es de Florianópolis que se identificam com as denúncias dos problemas da cidade e que querem participar da disputa por uma cidade voltada aos interesses da classe trabalhadora.
Nosso slogan de campanha reflete nossas sínteses e os acúmulos da nossa política enquanto Coletivo Alicerce que estão nas nossas principais palavras de ordem: Por uma cidade com direitos e dignidade. Chega de sufoco! Nossos direitos já!
Tem propostas para promover a igualdade de gênero, LGBTQIA+ e racial no âmbito municipal? Se sim, quais?
Sim. Algumas das nossas propostas, além de estar sempre junto aos movimentos sociais, construindo os espaços e atuando junto às comunidades e territórios, são a garantia de atendimentos especializados em saúde e assistência, incluindo políticas dignas para a população trans, garantindo a permanência e a qualidade da política de hormonização, por exemplo.
Estar sempre no combate à violência de Estado nas periferias, à perseguição aos espaços de lazer e cultura do povo que batalha, intrinsecamente relacionado com a cultura preta na nossa cidade (batalhas, blocos de rua, carnaval). Além de garantir a implementação da política de cotas para a ocupação dos cargos públicos.
Você tem propostas relacionadas à política do cuidado? Se sim, quais?
Sim. Entendemos que ser contra a privatização e a terceirização da saúde, educação e assistência social é fundamental para garantir não só condições dignas de trabalho, mas atendimento de qualidade para todes. Como, por exemplo, garantir equipes completas de saúde da família nos postos de saúde, retomar e dar dignidade às trabalhadoras agentes comunitárias de saúde.
É preciso garantir vagas nas creches e demais unidades escolares, assim como realizar os chamamentos de concurso público para que as equipes nas unidades possam fazer um trabalho com qualidade e continuidade nas escolas.
Na assistência social, da mesma forma, faltam profissionais para executar os serviços e viabilizar os direitos das camadas da população de Florianópolis que estão em maior vulnerabilidade socioeconômica. E quando terceirizados, sabemos que os serviços pioram ainda mais, tanto para quem trabalha quanto para quem acessa, reduzindo territórios e atendimentos.
Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários
Como pretende enfrentar discursos reacionários que comprometem a equidade de gênero e racial, especialmente na educação?
Nosso combate a essas políticas está na disputa da consciência do nosso povo. É preciso estar sempre ocupando os espaços públicos, como tribuno do povo, sempre comprometida com a verdade e com as lutas do povo. Um mandato comprometido com as/os trabalhadores/as, precisa denunciar e combater a desinformação, a violência e o conservadorismo, sempre.
Como avalia a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas municipais?
Acreditamos que as políticas públicas municipais precisam atender aos interesses do povo. Afinal de contas, são nossos direitos e devem ser pautados para possibilitar a construção de caminhos que nos façam superar o sufoco e a falta de dignidade com que vivemos em Florianópolis.
Para isso, acreditamos que a participação não se dá apenas através do voto e da representatividade das figuras eleitas para a Câmara de Vereadores. A tribuna e os mandatos institucionais devem estar à serviço dos movimentos sociais e do povo que batalha, contribuindo com as denúncias e com o fortalecimento das iniciativas organizadas pela população em seus bairros.
Sua plataforma propõe formas de ampliar a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas? Se sim, como?
Sim. Um mandato comprometido com o povo deve estar alicerçado nas lutas da cidade, participando diretamente e sendo porta voz das demandas do povo. É preciso estar nos territórios e convidar o povo a participar ativamente do processo de construção dos nossos direitos. Não tem fórmula mágica: é preciso construir com os trabalhadores o caminho da luta!
Qual o papel das minorias políticas na transformação dos serviços de saúde e educação municipais?
Em sua grande maioria os serviços de saúde e educação já são constituídos por mulheres, por exemplo, nesse sentido nós devemos ser as protagonistas na elaboração de políticas para as duas áreas.
Para isso, nós precisamos dar voz às trabalhadoras, escutar as demandas de melhorias dos serviços de saúde e educação, tanto para quem trabalha quanto para quem acessa. O povo que batalha é diverso em sua composição, e essa diversidade precisa ser acolhida e valorizada na qualificação dos serviços públicos.
Violência política e desinformação
Já sofreu ataques, incluindo intimidação, durante a sua trajetória devido à sua agenda política? Em caso positivo, pode compartilhar algum caso?
Sim. Nos últimos anos a perseguição e intimidação política vem se intensificando contra aquelas/es que ousam lutar por seus direitos. Ataques diretos à organização da classe trabalhadora.
Os ataques mais recentes aconteceram nas últimas greves dos municipários. A postura da gestão municipal, tanto do governo Gean Loureiro, quanto do Topázio e seus aliados, é intimidar a categoria ameaçando e criminalizando a nossa luta.
Nesta campanha, sofreu ataques nas redes sociais ou nas ruas? Se sim, quais?
Sim. A nossa experiência de rua nas últimas campanhas tem sido de muita receptividade, mas também de muitos ataques da base bolsonarista. Principalmente por termos uma militância de rua majoritariamente composta por mulheres. Xingamentos e panfletos rasgados são alguns exemplos das agressões que sofremos.
Sua candidatura tem sido alvo de desinformação? Se sim, como?
Não.
Tem ações específicas para combater a desinformação? Se sim, quais?
Sim. Estar na rua, dialogando diretamente, apresentando a candidatura em diferentes espaços de debate e diálogo, produzindo nosso conteúdo de campanha (materiais e publicações) de forma independente junto dos militantes do Coletivo Alicerce.