“Um corpo preto em movimento é sim um ato político!”, Ana Paula Evangelista

No Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha e Dia de Tereza de Benguela no Brasil, ocorre a I Marcha Virtual Tereza de Benguela. Durante todo o sábado (25), na página oficial do Facebook da Marcha, mulheres pretas serão protagonistas de ações envolvendo música, dança, poesias, entre outras manifestações. No período da tarde (14h), ocorre live contando a história de Tereza de Benguela. Às 17h, o espaço será ocupado por mulheres envolvidas na Marcha das Mulheres Negras de São Paulo. A Marcha faz parte da programação do Julho das Pretas.

Imagem: cartaz de divulgação

“A ideia da l Marcha Virtual é mostrar a produção cultural que acontece nas periferias a partir da referência de Tereza, que é a nossa grande homenageada neste mês de julho. Criamos canais no Facebook e Instagram e a partir destas redes estamos em busca de ressignificar esses espaços com tudo aquilo que nos foi deixado de herança por nossos ancestrais. Afinal de contas, nossos passos vêm de longe”, explica Ana Paula Evangelista, pedagoga, ativista e uma das organizadoras da I Marcha Virtual Tereza de Benguela.

De acordo com Liliane Santos, idealizadora da I Marcha Virtual Tereza de Benguela, a escolha de utilizar expressões artísticas e culturais para fazer o enfrentamento antirracista vem do desejo de enaltecer a mulher preta – num contexto no qual constantemente o corpo e a vida da população preta são constantemente expostos midiaticamente em cenas de violência e de vulnerabilidade.

“As questões culturais vêm com o intuito de dar leveza para as ações. A população preta viveu e ainda vive numa situação de extrema vulnerabilidade social, somos os que mais morrem por coronavírus, os que têm menos acesso à cultura, saneamento básico, saúde, lazer e mesmo com todos os nossos direitos negados pelo Estado ainda encontramos forças para produzir. E é este o nosso intuito, trazer à tona essas produções e ocupar as redes”, afirma Ana Paula Evangelista.

Liliane Santos é idealizadora da I Marcha Virtual Tereza de Benguela/Foto: arquivo pessoal

Com a pandemia e o isolamento social, um dos desafios foi organização de um evento não presencial. “Nossa maior dificuldade da marcha virtual é o acesso à tecnologia e as ferramentas. Não só ter internet, mas organizar as lives via Zoom, Facebook, transmitir a Marcha. O acesso a mídia não é democrático e há uma desqualificação digital que a pessoa negra tem que também queremos evidenciar, por isso não temos agenda ativa na mídia. Nossas programações saem, muitas vezes, 24 horas antes”, conta Liliane Santos.

Taty Américo, suplente no Setorial de Cultura Negra de Florianópolis e uma das organizadoras de Santa Catarina, expõe que outro desafio foi a organização coletiva. “Por conta do momento que estamos vivendo, o coletivo como todo não se sobressaiu, o que pegou mais foi o individual. Mulheres negras individuais em suas atividades profissionais que abraçaram o convite de construir a Marcha e se dispuseram a participar: a Jussara Abayomi, da Batalha das Minas, a Nana Martins, escritora, a Claudia Prado, enfermeira que falou muito sobre saúde da população negra, a Carina, professora, a Giana Abbot, da dança, entre outras”, narra.

Participe das Marcha e acompanhe as ações através dos perfis: Marcha Tereza de Benguela, Marcha Negra Oficial e I Marcha Virtual Tereza de Benguela .

Acompanhe também através das hashtags:  #somosmuitas #somosplurais #nossospassosvemdelonge

JULHO DAS PRETAS

 

Como parte do Julho das Pretas, o perfil do Facebook da I Marcha Virtual Tereza de Benguela promoveu ao longo de todo o mês debates e ações sobre a população negra. A ocupação das redes é uma estratégia frente a impossibilidade de ocupar as ruas durante a pandemia de Covid-19. “O Julho das Pretas acontece o mês todo. A importância dessa ação é visibilizar, dar voz e vez pra mulher negra, ela falando dos seus problemas, das suas angústias, mas também da sua riqueza, da sua beleza, de tudo que tem de bom na nossa cultura. E de tudo que a gente pode contribuir para uma sociedade mais igualitária. A gente não está em alguns espaços, mas não quer dizer que a gente não conheça e não tenha condições de ocupar, a gente denuncia também o racismo a todo momento”, diz Taty Américo.

Embora no dia da Marcha, apenas mulheres estejam à frente, durante o mês homens tão colaboraram com as manifestações. “Nossas ações se baseiam no julho Negro, pois nossas propostas também acolhem ações realizadas por homens negros. Compreendemos que não há possibilidade de falar de periferia sem incluí-los nestas discussões, haja vista que o genocídio da população preta está diretamente ligado a eles, então, as ações e propostas também devem abarcá-los e chamá-los para o diálogo”, explica Ana Paula Evangelista.

 

Tereza de Benguela

Tereza de Benguela, ou “Rainha Tereza”, é símbolo da resistência negra durante o período do Brasil Colonial. Nascida no século XVIII, ela comandou o Quilombo do Piolho ou Quariterê, nos arredores de Vila Bela da Santíssima Trindade, no Mato Grosso. Comandada por Tereza de Benguela, a comunidade cresceu resistindo por quase duas décadas.  A Lei nº 12.987/2014, foi sancionado pela presidenta Dilma Rousseff, como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra.

“Líder de um quilombo, ela é uma figura esquecida. Ela assumiu o comando do quilombo e se você imaginar uma mulher negra tomando conta de um quilombo, você consegue imaginar hoje mulheres negras na frente de qualquer outra batalha. É uma mulher negra importante para ser resgatada”, conclui Taty Américo. 

 

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  • Inara Fonseca

    Jornalista, pesquisadora e educadora. Doutora (2019) e mestra (2012) em Estudos de Cultura, pela Universidade Federal de...

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