Atenta a cada movimento, Pietra de apenas nove meses acompanha a mãe, Penélope Fonseca, na peça “E se eu fosse um camarão”, apresentada pelo Teatro Comunitário do Canto. Ela se diverte com as brincadeiras e fica introspectiva nos momentos mais sérios, como se estivesse entendendo a conexão entre as cenas embaladas por paródias de músicas populares. Com três meses, a bebê já participava no colo da mãe, mas está presente na peça desde antes de nascer. “Comecei a participar quando estava grávida, com a ideia de trazer a arte para aquele momento da minha vida. Ela ama e interage cada vez mais. Está crescendo dentro desse grupo cujos valores eu acredito. Cresce politizada”, conta a mãe, atriz e jornalista.

A peça apresentada no “Floripa, Cidade Utópica”, realizado no último sábado (24), no Centro de Cultura e Eventos da UFSC, integra moradores do Canto da Lagoa que usam do humor e da sensibilidade para falar de uma comunidade que se mobiliza contra a especulação imobiliária, a degradação ambiental e o crescimento desordenado, problemas tão comuns à Ilha de Santa Catarina. “Essa é uma história de fantasia na qual a ganância perdia”, cantam na última cena. O final feliz é resultado de um conjunto de esforços coletivos no qual o Floripa Cidade Utópica se inspira ao reunir quase 40 iniciativas transformadoras num só evento. Segundo o jornalista Jacques Mick, um dos idealizadores do encontro, Florianópolis é uma cidade com forte articulação social, como também aponta um estudo de Lígia Lüchmann, no livro “Associativismo e democracia. Um estudo em Florianópolis”, lançado no evento.

Foto: Tamires Veira
Floripa Utópica é inspirado em eventos que já acontecem em outros países/Foto: Tamires Veira

A ideia, inspirada em iniciativas semelhantes que já ocorrem em outros países, foi uma oportunidade para coletivos se conhecerem e formarem uma rede com novas conexões e possibilidades. “Aproveitamos o calendário eleitoral para reunir os coletivos de forma que interagissem, contassem a mais gente o que fazem e apresentassem reivindicações aos candidatos”, explica Mick. Todos os candidatos à Prefeitura foram convidados pela Reitoria: apenas Elson Pereira (PSOL) compareceu. Houve, contudo, um bom número de candidatos à Câmara, de vários partidos.

Na roda de conversa mediada por integrantes do Coletivo Jornalismo sem Machismo (CJM), representantes de vários grupos trocaram experiências sobre as formas, muitas vezes veladas, de violências direcionadas a mulheres, comunidade LBGT e negrxs no espaço acadêmico e na sociedade como um todo. O coletivo Pira do curso de Psicologia da UFSC também participou da discussão com a pauta da luta antimanicomial. “Tivemos a oportunidade de conhecer pessoas e fazer conexão com diversas iniciativas. A partir do mapeamento dos coletivos e desse primeiro contato podemos pensar em novas ações”, diz Manuela dos Santos do CJM que também integrou a organização do evento.

Foto: Tamires Vieira
A desigualdade de gênero foi destaque nas discussões/Foto: Tamires Vieira

A designer Manu Cunha Soares expôs seu livro “Outras Meninas”, uma publicação viabilizada coletivamente que traz histórias e ilustrações de mulheres. “Fiquei surpresa em saber que muitas pessoas já conheciam o livro. Nos últimos dois anos o crescimento do feminismo foi vertiginoso e isso reflete na visibilidade de projetos como esse. Ainda bem!”, comentou ela.

Manu Cunha expôs seu livro financiado coletivamente/Foto: Tamires Vieira
Manu Cunha expôs seu livro financiado coletivamente/Foto: Tamires Vieira

Ana Morais, artista do Nacasa – Coletivo Artístico, participou do encontro com exposições de suas obras. “Nove artistas que dividem o espaço na casa atuam em cursos e oficinas. Sentimos que fazemos a diferença na área cultural”, conta ela que também é residente no Nacasa. Sobre o encontro, ficou surpresa com a diversidade de coletivos na cidade: “são muitas pessoas agindo e fazendo a cidade acontecer, vou levar essas vivências para a vida.”

Ana Morais tem nas mulheres grande inspiração/Foto: Tamires Vieira

Ana Morais tem nas mulheres grande inspiração/Foto: Tamires Vieira

O que planejamento urbano tem a ver com o feminismo? Tudo, como acredita Mariana Godói do Coletivo Urbanas, um grupo de mulheres feministas do curso de Arquitetura da UFSC que surgiu há menos de um ano para lutar contra o machismo no curso e na profissão. “Buscamos nesse encontro conhecer outros coletivos e por meio da interação ter ações mais firmes dentro e fora da universidade. Saímos daqui com muitas ideias do que as pessoas estão fazendo para mudar a cidade”, afirma.

Alguns coletivos formalizaram uma carta compromisso para que os candidatos à Prefeitura se comprometam com as ações propostas no documento. O evento, que contou também com apresentações musicais de Felipe Nunes, Felixfônica e show de Jean Mafra e Luís Canela, integra o projeto de pesquisa Laboratório da Utopia (Luto) desenvolvido por Jacques Mick junto com Noa Cykman, aluna do mestrado em Sociologia Política da UFSC.

Coletivos que participaram do encontro
PRODUÇÃO:
Revolução dos baldinhos
Brotei – Permacultura
Plantepramim
Desdobrando arte
Compras coletivas ecossolidárias
GAAI – Grupo de Artesãos e Artistas Independentes do Sul da Ilha
Armário Coletivo

ORGANIZAÇÃO SOCIAL:
Nacasa – Coletivo Artístico
ADEH – Associação em Defesa dos Direitos Humanos
Coletivo Jornalismo sem Machismo
Coletivo Catarina de Advocacia Popular
Coletivo Pira (Produção Integrada de Resistência Antimanicomial)
Coletivo Negro 4P
Coletivo Urbanas

INFORMAÇÃO:
Maruim
Catarinas
Desacato
Ganesha Digital
Eu também sou filho da terra

ESPAÇO URBANO E MEIO AMBIENTE:
Mosal – Saneamento descentralizado
Floripa + Acessível
Ocupa OBarco
NeAmb
Movimento Ponta do Coral
Greenpeace Florianópolis
Centro Sapiens

MOBILIDADE:
Orbis Ciclo Entregas
Caminhada Jane Jacobs Floripa
Bicicleta na Escola
Sinalização Cidadã
ViaCiclo – Associação dos Ciclousuários da Grande Florianópolis

EDUCAÇÃO e TECNOLOGIA:
Casa Vermelha
Tarrafa Hacker Space
Navegar
Jocum Floripa
Code for Floripa
Projeto Integrar

 

 

 

 

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  • Paula Guimarães

    Jornalista e co-fundadora do Portal Catarinas. Formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, pós-graduada...

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