O Centro Feminista de Estudos e Assessoria – CFEMEA inaugurou em 2015 um ciclo de trabalho orientado à sustentabilidade do ativismo feminista e das mulheres. Essa orientação está sendo seguida em duas linhas de ação: o desenvolvimento da dimensão política do autocuidado e do cuidado entre ativistas e militantes; e a formação política feminista.
Desde então, o CFEMEA vem promovendo cursos, debates, encontros, formações e rodas de autocuidado e cuidado entre mulheres ativistas, trazendo elementos dos grupos de autorreflexão que inauguraram a onda feminista dos anos 60; da Terapia Comunitária Integrativa (criada nos anos 1980), da metodologia da Roda de Mulheres (desenvolvida pela Arcana, em 2004), e da práxis educativa feminista, que tem como referência a pedagogia de Paulo Freire. O diálogo entre as mulheres, sujeitas de suas próprias vidas, é um elemento central desta metodologia, geradora de processos reflexivos e de autoconscientização, voltados para uma ação transformadora da realidade.
Partimos de uma das ideias basilares do feminismo: o pessoal é político, para aprofundar o debate e experimentar outras possibilidades de radicalizar o nosso fazer político contracultural e contra-hegemônico, organizar e mobilizar as lutas. Acreditamos que o diálogo e a troca de experiências entre as mulheres ativistas geram processos reflexivos, de autoconscientização e autotransformação, assim como a articulação e ampliação de redes movimentistas, indispensáveis ao fortalecimento de ações transformadoras da realidade.
A ordem patriarcal e racista exige de nós mulheres que sejamos cuidadoras, por dever, imposição ou coerção. Para o sistema capitalista, o individualismo é um valor caro e a reciprocidade, um valor desconhecido. A ordem é cada um@ por si. O cuidado não é recíproco e o autocuidado se tornou mercadoria, vendida para quem pode pagar o preço e está disposta a consumir o que as clínicas de estética, salões de beleza, empresas de lazer e turismo, SPA’s, as grandes empresas do ramo farmacêutico e médico-hospitalar, as terapias alternativas e convencionais vendem.
Cuidar de si mesma, cuidarmos umas das outras, deixarmo-nos ser cuidadas, retribuir o cuidado recebido; compartilhar as nossas emoções, os nossos achados na luta feminista e antirracista, as nossas dores e os caminhos para curá-las; valorizar o nosso saber, nossas experiências e as nossas capacidades é algo fora da ordem, subversivo. Diz respeito a nossa luta por autonomia pessoal e de garantia da nossa auto-organização. Se sustenta em princípios éticos e políticos que nos são caríssimos, como a horizontalidade, a solidariedade e a reciprocidade.
Do nosso trabalho vivencial e reflexivo sobre esse amálgama, criamos a metodologia do autocuidado e cuidado entre ativistas, assunto abordado neste vídeo. Aqui, compartilhamos registros e reflexões propiciadas pelo Encontro de Autocuidado, Cuidado entre Ativistas e Formação na Técnica de Redução de Estresse realizada em Pernambuco, em dezembro de 2016.
Para conhecer melhor a metodologia do Autocuidado e Cuidado entre ativistas, acesse nossas duas publicações, disponíveis na plataforma virtual do CFEMEA.
Cuidado entre Ativistas: Tecendo Redes para a Resistência Feminista