Flávia Albuquerque: misoginia não é transtorno mental
Psicóloga destaca a necessidade de parar de patologizar a misoginia e a confrontá-la como um problema político e social.
Nesta semana, compartilhamos a reflexão da psicóloga Flávia Albuquerque sobre a minissérie da Netflix, Adolescência, que trata da história do personagem adolescente de Jamie Miller, acusado de assassinar uma garota adolescente de sua escola. Confira a reflexão:
“Precisamos parar de buscar justificativas em transtornos mentais e começar a encarar a misoginia como aquilo que ela é: um comportamento sustentado por um sistema que a incentiva e a absolve.”
Graduada em Psicologia com ênfase em Processos Psicossociais pela Universidade Federal de Minas Gerais, é Mestre em Psicologia e Educação pela mesma instituição. Atua como psicoterapeuta e mantém a página @despatologiza no Instagram, com discussões sobre saúde mental a partir de um viés crítico e desmedicalizante. Tem como lema a necessidade de “politizar o sofrimento, despatologizar a vida”.
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“O sofrimento não é homogêneo, dada a nossa materialidade desigual. Nos distinguimos em função do gênero, da raça, da orientação sexual, da classe social, da sociedade em que estamos inseridos. Logo, sofrer é histórico, é cultural. Sofrer é inerentemente um ato político”, defende.
Na mesma linha, defende que despatologizar a vida, ou seja, descaracterizar algo como doença, é entender que os fenômenos psíquicos são também culturais e históricos. “É mudando as estruturas que também produziremos bem-estar mental”, argumenta.
Ao refletir sobre a minissérie Adolescência e análises que leu sobre a história nas redes sociais, Flávia destaca que a misoginia não é um transtorno mental, mas resultado da cultura patriarcal.
“Quando fazemos leituras psiquiátricas sobre o ódio e a violência masculina contra mulheres, automaticamente acabamos desresponsabilizando, primeiro, a pessoa que cometeu o ato, e segundo, a própria família e a sociedade que fornece as estruturas para esse tipo de comportamento”, analisa.
Por isso, ela defende que a mudança começa quando a sociedade parar de patologizar o ódio e confrontá-lo como um problema político e social.