Uma série de protestos intensifica a resistência popular pela saída de Michel Temer (PMDB) da presidência da república desde a quarta-feira (17), um ano depois que o ex-vice assumiu o cargo interinamente. Há uma semana da votação da reforma da previdência na Câmara Federal, o Brasil assiste a outro escândalo político, protagonizado pelo presidente que se nega a renunciar, inflamando a mobilização social.
Assegurados por delação premiada, executivos da empresa JBS entregaram à Polícia Federal gravações em que, supostamente, Temer sugere pagamento de propina pelo silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha (PMDB). Nas denúncias, Aécio Neves (PSDB) também teria pedido R$ 2 milhões para pagar sua defesa na operação Lava Jato. Os fatos foram noticiados pelo portal de notícias O Globo, no início da noite do dia 17.
Diante do cenário, parlamentares do bloco de oposição entraram com pedido de impeachment de Temer no Congresso Nacional. Imediatamente, movimentos sociais de diversas matizes foram para as ruas reivindicar a saída de Temer do planalto e a retirada de pautas do Congresso, como as reformas trabalhista e da previdência. Esta última, prevista para ir a votação no próximo dia 24.
A tarde do dia 18 foi de expectativa sobre o pronunciamento de Temer. Em cadeia nacional, ele falou sobre a forma “clandestina” em que as gravações foram realizadas e que ainda não conhecia o seu conteúdo. Defendeu a agenda das reformas e afirmou que não renunciará ao cargo.
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Em Florianópolis, a primeira demonstração de resistência reuniu cerca de cinco mil pessoas – segundo os organizadores – no fim de tarde desta quarta-feira (18), em um ato convocado em menos de 24 horas pelas centrais sindicais e pelo Fórum em Defesa dos Direitos. Após concentração em frente ao Terminal Central, a marcha seguiu pelas Avenida Paulo Fontes e Jorge Luz Fontes. Ainda no início da manifestação, um grupo de manifestantes mudou de trajeto, rumo às pontes que ligam a ilha ao continente. Houve repressão policial e prisões. Em seguida, o grupo voltou a se concentrar com a massa de manifestantes e a caminhada seguiu pela Avenida Mauro Ramos até a Beiramar Norte.
A organização do ato vai avaliar nessa sexta-feira (19) a atividade e já pretende chamar um novo ato para este domingo (21), com hora e local de concentração ainda a definir.
A América Latina como projeto internacional
A crise política brasileira e de outros países da América Latina é incentivada pelos Estados Unidos, em um esforço para fragilizar as economias sul-americanas e consolidar a dependência destes países. A observação é da jornalista e coordenadora de comunicação do Instituto de Estudos Latino-americano, Elaine Tavares. “Assim como na Argentina e na Venezuela, está acontecendo a destruição total da nossa economia, da nossa capacidade produtora, a partir da crise política que foi gerada com o golpe (no governo brasileiro). Há um grande movimento orquestrado. Nós, que já passamos por ditaduras quando o comunismo ameaçava os Estados Unidos e toda a América Latina, vivemos agora este outro momento”, avalia.
Para cientista social e militante do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), Rita Coitinho, o abalo no governo Temer acontece porque o peemedebista deixou de ser útil ao projeto da burguesia brasileira, que tem como meta imediata a implantação das reformas. A cientista social vê, na greve geral do dia 28 de março, um dos eventos motivadores deste abalo. “Este golpe é pelas reformas. Pela retirada de direitos trabalhistas e previdenciários. Temer não demonstrou a força que eles queriam. Depois da greve, o governo começou a vacilar e empurrar a reforma da previdência. O Senado tá fazendo chantagem e eles perceberam que não teriam votos suficientes pra aprovar as reformas trabalhista e da previdência. Então, é necessário que ele ou garanta as reforças ou que caia e venha outro”, afirma.
A decisão de Temer por não deixar o cargo mostra que as forças políticas que dão sustentação ao seu governo e ao projeto que ele representa estão precisando de tempo para se organizar, segundo Elaine Tavares. Na opinião da jornalista, esta oportunidade precisa ser aproveitada pelos movimentos de resistência. “Precisamos abrir mão das nossas pequenices e implementar uma luta conjunta e unificada”, afirma.