Marina Wirna, 32 anos, é candidata a vereadora de Blumenau (SC) pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol). Mulher branca, cisgênero e heterossexual, sua militância ganhou força em 2019, após sofrer uma tentativa de feminicídio por parte do pai do seu filho. Atualmente, Marina integra o Coletivo Segurando as Pontas, o Instituto Mães do Amor e participa da Marcha da Maconha. Como diarista, luta pela valorização do trabalho doméstico e pela ocupação de espaços de poder por mulheres. A candidata defende a valorização de quem cuida, reconhecendo a importância de enfrentar as desigualdades sociais para garantir o acesso à vida digna.
Marina é a vigésima terceira candidata a responder ao questionário proposto pelo Catarinas para divulgar as candidaturas comprometidas com a agenda política feminista, antirracista, LGBT inclusiva e anticapacitista em Santa Catarina. As entrevistas são publicadas diariamente por ordem de chegada. Dado o volume de respostas recebidas, vamos publicar mais de uma entrevista em determinados dias.
O questionário foi dividido em cinco eixos temáticos, abordando questões centrais para a análise das candidaturas:
- Perfil
- Apoio e financiamento
- Propostas
- Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários
- Violência política e desinformação
Acompanhe a entrevista com Marina
Perfil
Resuma sua trajetória de vida/militância e o que a motivou a disputar estas eleições.
Desde a primeira infância eu vivencio bem de perto a violência doméstica, cometida por parte do meu então padrasto contra a minha mãe. Desde a adolescência eu já questionava a estrutura patriarcal, sem saber o que era feminismo. Fui ter contato com o conceito do feminismo em 2015.
Foi em 2019 que a militante em mim aflorou, após sofrer tentativa de feminicídio por parte do pai do meu filho, em dezembro de 2018. Quando passei por todo o processo de denunciar, sofrer negligência por parte de quem deveria estar trabalhando para a minha proteção, ser desestimulada a expor a violência que vivi e ainda sofrer um processo judicial e perder a guarda do meu filho para o genitor dele (após ele tentar me matar). Eu percebi então que existia algo de errado na rede de acolhimento e políticas públicas na questão violência de gênero.
Em 2020 trabalhei na campanha de uma mulher que admiro muito, aqui em Blumenau, pelo Psol, que eu conheci participando do Instituto Feminista Nísia Floresta. Desde então tenho participado de formações feministas do Partido Socialismo e Liberdade, além de seminários e conferências em diversas áreas dos direitos humanos e movimentos sociais.
Em 2021 surgiu o Coletivo Segurando as Pontas, rede antiproibicionista de acolhimento e apoio de “mãeconheiras”, do qual faço parte desde sua fundação e hoje conta com quase 500 mães do Brasil e do mundo. Foi a partir dessa rede que encontrei espaço seguro para debater prostituição, trabalho doméstico, a moral imposta sobre os corpos femininos, nosso poder desejante, maternidade compulsória e não-monogamia.
Atuo também no Instituto Mães do Amor em defesa da diversidade, fazendo o enfrentamento contra a LGTBfobia no estado de SC e promovendo o debate sobre a diversidade dos nossos corpos e desejos. Também componho a Marcha da Maconha em Blumenau.
Hoje trabalho como diarista, no âmbito doméstico das casas blumenauenses. Sou feminista, antiproibicionista, anticapacitista, antirracista e antifascista.
Decidi disputar as eleições de 2024 por perceber que se nós, mulheres, mães, autônomas, responsáveis por toda a carga doméstica e conscientes das necessidades urgentes que precisam ser atendidas, precisamos ocupar os espaços de poder. Precisamos de pessoas com empatia e olhar cuidadoso para o futuro da nossa sociedade.
É necessário proteger e cuidar de quem cuida e tratar as desigualdades sociais para que todas as pessoas possam ter acesso à vida digna, moradia, segurança, saneamento básico, comida no prato, qualificação, tempo de qualidade e rede de apoio.
Quais personalidades políticas são suas referências?
Marielle Franco, Erika Hilton, Manuela D´Ávila, Sofia Manzano, Camasão, Rosane Magaly Martins, Dilma Rousseff, Marina Silva, Sônia Guajajara, Tânia Ramos e Giovana Mondardo.
Apoio e financiamento
Você tem conseguido verba para a campanha? Quais?
Apoio e recursos do partido.
Você enfrenta desafios para arrecadar os recursos necessários para sua campanha? Se sim, quais são os principais?
Sim. Ser uma candidatura socialista que atua em defesa das pessoas e não do capital.
Qual é a importância do financiamento coletivo para a viabilidade de sua candidatura?
Ajudaria a expandir o alcance de pessoas na campanha eleitoral, para que elas possam me conhecer e saber que sou uma opção legítima no campo da esquerda.
Propostas
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Quais são os principais temas a serem debatidos no município e suas propostas para cada um?
Segurança, transporte público, saneamento básico, atenção psicossocial, acesso à saúde, educação, lixo zero, moradia digna e sustento para toda a população.
O Plano de Governo Psol 50 conta com propostas para uma Blumenau mais diversa e inclusiva, que vai desde a tarifa zero no transporte público até a audição e revisão das concessões de autarquias. O incentivo de cooperativas de reciclagem de lixo na cidade, formalização dos catadores de lixo na rua, gerando emprego e renda. Hortas comunitárias e compostagens nos bairros.
Cozinhas e lavanderias comunitárias. Políticas de acesso à moradia digna para as pessoas em vulnerabilidade social e também trabalho multidisciplinar, que possam ser integrados, entre a rede de assistência social, Sistema Único de Saúde (SUS) e secretarias.
Exigir que a Delegacia Da Mulher, Criança, Adolescente e Idoso atenda 24 horas por dia e 7 dias por semana e também implementar uma delegacia de crimes de ódio. Mas também pretendo trabalhar para evitar que a violência aconteça, com campanhas de conscientização social de que violência é crime. Seja ela perpetuada contra mulheres, pessoas transgêneras, não-bináries, negras, indígenas, migrantes, imigrantes jovens ou idosas, não será admitida na cidade de Blumenau.
Instalação de UPAs na cidade e também atendimento de contraturno para as crianças que estão meio período na escola, enquanto suas principais cuidadoras precisam trabalhar turnos inteiros, todos os dias.
A proposta é fazer políticas públicas mais inclusivas e torná-las mais acessíveis para a população, pensando no bem-estar e qualidade de vida da trabalhadora, do trabalhador, seja no âmbito doméstico ou empregatício, para que todas as pessoas possam circular pela cidade, acessar os serviços públicos e gratuitamente.
Quem forma sua base eleitoral? Quais são suas mensagens centrais? E seu slogan de campanha?
As mulheres. Minha mensagem central é erradicar a violência contra a mulher, visibilizar o trabalho doméstico, a emancipação das mulheres e das pessoas LGBTQIAPN+.
Tem propostas para promover a igualdade de gênero, LGBTQIA+ e racial no âmbito municipal? Se sim, quais?
Sim. Criar conselho municipal da diversidade; fomentar artes e culturas diversas, como o carnaval nordestino, batalha de rima, cultura hip hop; criar o Museu dos Povos Originários do Vale do Itajaí; qualificar a população para acessar as leis de incentivo a cultura; instituir delegacia de crimes de ódio na cidade; apoiar e realizar conferências municipais e mesorregionais de direitos humanos.
Você tem propostas relacionadas à política do cuidado? Se sim, quais?
Sim. Escola Pública em período integral; contraturno; casas de repouso e rede de cuidado e proteção aos idosos; instalação de UPAs, hortas, restaurantes e lavanderias comunitárias; fortalecimento da rede de atenção psicossocial e criação de políticas públicas mais humanistas, voltadas para a recuperação da dignidade humana.
Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários
Como pretende enfrentar discursos reacionários que comprometem a equidade de gênero e racial, especialmente na educação?
Criando cotas de acesso e ingresso nas instituições educandárias; campanhas de conscientização e letramento da população; institucionalização de rodas de conversas e grupos terapêuticos segmentados, que atendam a todas as necessidades subjetivas da população.
Como avalia a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas municipais?
Essencialmente importante a presença da sociedade civil no debate e construção de políticas públicas que os contemplem. Através dos conselhos municipais e movimentos sociais podemos ter esse diálogo mais acessível com a população.
Sua plataforma propõe formas de ampliar a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas? Se sim, como?
Sim. Através do incentivo aos movimentos sociais; conselhos municipais com representatividade civil; audiências públicas abertas à comunidade e descentralização da política, incentivando o bom funcionamento das associações de moradores dos bairros.
Qual o papel das minorias políticas na transformação dos serviços de saúde e educação municipais?
Pessoas são diferentes nas suas subjetividades e necessidades e elas precisam ter acesso aos atendimentos especializados. Também é preciso ter acesso à educação especial e de qualidade. As minorias políticas demonstram as necessidades peculiares de tornar Blumenau uma cidade mais diversa e inclusiva.
Violência política e desinformação
Já sofreu ataques, incluindo intimidação, durante a sua trajetória devido à sua agenda política? Em caso positivo, pode compartilhar algum caso?
Não.
Nesta campanha, sofreu ataques nas redes sociais ou nas ruas? Se sim, quais?
Não.
Sua candidatura tem sido alvo de desinformação? Se sim, como?
Não.
Tem ações específicas para combater a desinformação? Se sim, quais?
Buscar ser o mais coerente e paciente possível no letramento e educação social. Seguir estudando, participando de debates e de conferências e elaborando em conjunto com as pessoas quais as necessidades de cada pessoa.