Começa amanhã (22) e segue até sexta-feira (25), a Mostra Cine [Delas], na Fundação Cultural Badesc, em Florianópolis. A atividade inicia às 19h com exibição de filmes dirigidos por mulheres e debates com ativistas de áreas multidisciplinares. Os curtas e longas-metragens são em sua maioria filmes antigos e raros que abordaram temas contemporâneos ligados às temática de gênero e feminismos. As produções selecionadas trazem à tona questões de diversidade, equidade e protagonismo feminino, através da trajetória tanto das personagens quanto das próprias realizadoras.

A mostra busca discutir o lugar da mulher que realiza e pensa o cinema, narrativas que precisam ser provocadas, e a distribuição e o acesso a esses filmes independentes e marginais, também chamados de cinema de guerra. “Fizemos uma curadoria detalhada, pensando na narrativa como se tivéssemos fazendo o filme do filme. Escolhemos filmes independentes que abordam temas urgentes e políticos, pouco visibilizados porque feitos por mulheres foram considerados irrelevantes. Essas diretoras são muito invisíveis na história do cinema”, explica a idealizadora da mostra Maria Carmencita Job.

Maria Carmencita é pesquisadora de comportamento e atua no cinema como roteirista e diretora do núcleo Céu Filmes, organizado por uma equipe de mulheres que realizam projetos audiovisuais no sul do Brasil. Ativista que vê o cinema como ferramenta política e social, atua para subverter a lógica de distribuição de filmes, considerada por ela burocrática e elitista. “Existe uma grande dificuldade na distribuição de filmes que prejudica não só quem faz cinema como o próprio público. Alguns festivais, por exemplo, não são abertos ao público geral”, afirma.

Inclusão da prostituição no feminismo
Em suas pesquisas de campo no Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre, a estudiosa conheceu Vanessa, prostituta da Avenida Augusta que lhe trouxe uma nova ideia sobre contexto de amor e deu origem ao documentário “N de Vanessa”, que será exibido quarta-feira, na Sessão de Curtas Nacionais. “Pensei em fazer um documentário que despertasse um novo lugar de amor e uma reflexão mais empoderada sobre nossas relações de afeto” explica.

Maria adentrou num lugar que para ela é considerado a última escala do feminismo: a inclusão da prostituição. “O feminismo está acolhendo a transexualidade, mas apesar de todas as discussões sobre diversidade não incluiu a prostituição. Optar por uma profissão que traz prazer é algo que ainda é muito tabu. Na narrativa, o amor entra como baliza entre as mulheres, desconstruindo esse cenário. É sobre a inclusão máxima da prostituta dentro relações de amor”.

Filme traz a perspectiva de inclusão da prostituição no feminismo/Foto: divulgação
“N de Vanessa” traz a perspectiva de inclusão da prostituição no feminismo/Foto: divulgação

O filme faz parte do projeto multimídia “As Vanessas” que começou há cerca de quatro anos e se desdobra em livro, minissérie, documentário e curta-metragem. A campanha ficou conhecida pelos cartazes “Procuram-se Vanessas para falar de amor” colados em ruas de pelo menos cinco capitais brasileiras, entre elas Florianópolis, para buscar histórias e chamar atenção para o projeto.

SERVIÇO:
Cine [Delas] – Mostra de filmes feitos por mulheres + debates

Dia 22, terça-feira, 19h, Cine Instituto Goethe + Cine [Delas]

Os Anos de Chumbo
(Die bleierne Zeit) de Margarethe von Trotta. Alemanha Ocidental. 1981. 106 min. Drama. Com Jutta Lumpe, Barbara Sukowa e Rüdiger Vogler.

Duas irmãs lutam pelo direito das mulheres. Quando uma é presa, a outra se sente obrigada a ajudá-la, mesmo tendo pontos de vistas diferentes.

Debatedora: Paula Guimarães – jornalista e idealizadora do Portal Catarinas. Gerencia o portal e faz coberturas jornalísticas sobre gênero, feminismos e direitos das mulheres. Mediação: Maria Carmencita Job.

Dia 23, quarta-feira, 19h

Sessão de Curtas – Nacionais

Reverie
de Marina Cardozo. Brasil. 2015. 5 min. Drama. Livre. Com Suzana Witt.

Uma jovem deita na cama e, sem conseguir dormir, começa a pensar em uma festa de ano novo.

Tanto
de Nataly Callai. Brasil. 2009. 8 min. Drama. 14 anos. Com Mirella Granucci e Oto Henrique.
Luiza está lidando com o fim de um relacionamento.

Léo
de Mariani Ferreira. Brasil. 2015. 15 min. Drama. 14 anos. Com Marcello Crawshall, Henrique Gonçalves e Paula Souza

Rodrigo não aceita a homossexualidae do irmão caçula, por conta disso, provoca uma tragédia da qual os dois são as maiores vítimas.

Putta
de Lílian de Alcântara. Brasil, Paraguai e Uruguai. 2016. 28min. Documentário. 16 anos. Com Diva, Xayenne e Pantera.

O relato de três mulheres da fronteira Brasil, Paraguai e Argentina que trabalham no ambiente da prostituição. O filme atravessa as complexidades da vida delas, a transexualidade, a família e a maternidade nestes contextos.

“N”. De Vanessa
de Maria Carmencita Job. Brasil. 2015. 14 min. Documentário Reflexivo. 14 anos. Com “Nicole” (Larissa Fenty).

Os rituais da garota de programa “Nicole”, inaugurando um outro ponto de vista da prostituição. O filme quebra com o esquema imaginado sobre o universo da prostituição como doloroso e passivo; ampliando a escolha desta menina pela troca de prazeres.

Debatedoras: Maria Carmencita Job – analista cultural e pesquisadora do Laboratório de Comportamento – [Ox]igênio. Atua no cinema como roteirista e diretora do núcleo Céu Filmes, organizado por uma equipe de mulheres que realizam projetos audiovisuais no sul do Brasil. Nataly Callai – cineasta, escritora, dramaturga e curadora e co-fundadora da plataforma da arte PISCINA. Camila Larroca Ferrari -uruguaia, realizadora audiovisual e mestranda em Antropologia Social. Atua principalmente na direção de arte e interminável busca pelos “dares a ver” femininos e latino-americanos.Integrante do coletivo de realização Las Viralatas que produziu o documentário Putta. Mediação: Kelly Vieira Meira – Presidenta do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Florianópolis; consultora de projetos sociais do Portal Catarinas.

Dia 24, quinta-feira, 19h

O Mundo é Culpado
(Outrage) de Ida Lupino. EUA. 1950. 75 min. Noir. Sem classificação. Com Mala Powers, Tod Andrews e Robert Clarke.

Após ser estuprada, mulher tenta recomeçar a vida em outra cidade, mas a investida de outro homem acaba fazendo com que ela vá parar na prisão.

Debatedoras: Carla Abraão – fotógrafa de cinema e mestranda em História da Arte; Heloisa Machado – ANCINE. Mediação: Maria Carmencita Job.

Dia 25, sexta-feira, 19h

Sessão de Curtas – Clássicos

Suspense
De Lois Weber. EUA. 1913. 10 min. Suspense. Sem classificação. Com  Lois Weber, Val Paul e Douglas Gerrard.

Filme pioneiro na utilização de estratégias do suspense no cinema: mulher é aterrorizada por homem que invade sua casa.

Elsa la Rose
De Agnès Vardá. França. 1966. 20 min. Documentário. Sem classificação. Com Louis Aragon, Elsa Triolet e Michel Piccoli.

O olhar e o amor do poeta Louis Aragon sobre sua esposa, a escritora Elsa Triolet.

Aurelia Steiner (Melbourne)
de Marguerite Duras. França. 1979. 27 min. Ficção poética. Sem classificação. Com a voz de Marguerite Duras.

Uma carta endereçada a um antigo amor sobre imagens do rio Sena.

Tramas do Entardecer
(Meshes of the Afternoon) de Maya Deren e Alexander Hammid. EUA. 1943. 14 min. Experimental. Sem classificação. Com Maya Deren e Alexander Hammid.

Imagens de sonho contam sobre os sentimentos, medos e desejos de uma mulher.

Debatedora: Miriam Grossi – Doutora pela Universidade de Paris V – Sorbonne, coordenadora do núcleo de gênero no curso de Antropologia da UFSC. Mediação: Maria Carmencita Job.

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