Campanha ‘Eu, você e o estado laico: O que tem a ver?’ acontece até 18 de junho com debates online e vídeo-manifesto inédito pela vida das meninas e mulheres.

Em um contexto marcado pela forte atuação dos conservadorismos religiosos na arena política, a defesa do Estado Laico se torna uma peça essencial. É buscando refletir sobre este cenário na atualidade e traçando caminhos de futuro, que a organização Católicas pelo Direito de Decidir (CDD) lança a campanha “Eu, você e o estado laico: O que tem a ver?”. 

A campanha tem um ciclo de eventos online que segue até 18 de junho. Além de debates entre lideranças religiosas de diversas vertentes, no lançamento será exibido um vídeo-manifesto exclusivo produzido pela organização que, com ele, reafirma seu compromisso com a garantia de direitos para meninas e mulheres.

O vídeo-manifesto que inaugura a campanha será exibido durante os debates. Ele retoma a história da menina capixaba que veio a público em agosto de 2020 e chocou o Brasil. Ela, uma criança, engravidou após ter sido violentada sexualmente dentro de casa. Na época foi violentada novamente por grupos fundamentalistas que tentaram impedir a interrupção da gravidez prevista em lei na porta do hospital e chamaram médicos de “assassinos”. 

“Crianças não são mães. Crianças podem brincar de ser mães, mas elas nunca deveriam ser mães. Seus corpos devem ser respeitados. De novo, eu preciso repetir: crianças não são e nunca deveriam ser mães (…). A defesa de um Estado Laico é a base fundamental para uma sociedade democrática. Estamos falando sobre existência”, diz o texto da animação, criada exclusivamente para a campanha realizada pela organização feminista. 

Esta realidade não é isolada. A cada hora, quatro meninas brasileiras de até 13 anos são estupradas, de acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública; a maioria dos crimes é cometido por um familiar. Em 2019, último dado disponível, mais de 66 mil estupros aconteceram no Brasil: 85,7% de meninas com menos de 13 anos. 

Autoridades e conservadores que defendem “vida desde a concepção” ignoram esta realidade de milhares de meninas, e se silenciam diante de um outro dado alarmante: o Brasil tem o maior índice de morte materna ocasionada pela covid-19 do mundo. Para a organização, defender o Estado Laico e os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres também é garantir uma maternidade digna e segura.

Para abrir a programação dos ciclos de debates, Alexya Salvador, professora e primeira reverenda trans da América Latina, e Hajj Mangolin, da coordenação nacional dos Comitês Islâmicos de Solidariedade (CIS), participam da mesa “O que significa defender o Estado Laico hoje?”, que será mediada por Letícia Rocha, de Católicas Pelo Direito de Decidir.

O segundo encontro, mediado por Isabel Felix, também integrante da organização, busca trazer novos olhares: a mesa “Diálogos de futuro: Estado Laico, Direitos e Religião” buscará refletir e articular novas possibilidades na relação entre direitos e religiões e contará com a participação de Edelson Soler, membro da Comissão Regional para o Diálogo com a Diversidade, órgão ligado à Região Sé da Arquidiocese de São Paulo, e de Franklin Felix, espírita, colunista da CartaCapital.

O encerramento é com a apresentação do grupo afro formado apenas por mulheres Ilú Obá De Min, o nome significa “mãos femininas que tocam tambor para Xangô”. Em show exclusivo, elas agregam ao evento a energia de celebração do sincretismo religioso e, em especial, da força abundante das mulheres.

A programação começou na segunda feira (14) com a mesa “O que significa defender o Estado laico hoje?” com os convidados Alexya Salvador, professora, ativista e reverenda da Igreja da Comunidade Metropolitana de São Paulo (ICM); e Hajj Mangolin, da coordenação nacional dos Comitês Islâmicos de Solidariedade (CIS); e mediação de Letícia Rocha, membro de Católicas pelo Direito de Decidir. Você pode conferir a programação logo abaixo.

Programação

Mesa 2: Diálogos de futuro: Estado Laico, Direitos e Religião

Data e horário: sexta-feira (18) às 19h

Convidados: Edelson Soler, membro da Comissão Regional para o Diálogo com a Diversidade, órgão ligado à Região Sé da Arquidiocese de São Paulo; e Franklin Felix, espírita, colunista do Diálogos da Fé na Carta Capital e Membro da Diretoria de Católicas pelo Direito de Decidir.

Mediação: Isabel Felix, membro de Católicas Pelo Direito de Decidir.

Transmissão será realizada pelo YouTube da organização

Encerramento: na sexta (18), para encerrar a semana de lançamento da campanha, após a mesa “Diálogos de Futuro: Estado Laico, Direitos e Religião”, será transmitida pelo YouTube uma apresentação exclusiva do bloco afro Ilú Obá de Min.

Sobre o Ilú Obá de Min: O grupo Ilú Obá De Min – Educação, Cultura e Arte Negra é uma associação paulistana, sem fins lucrativos, composto por mulheres que trabalham para difundir culturas de matriz africana e afro-brasileira. Fundado em 2004, o Bloco Afro Ilú Obá De Min é o projeto mais conhecido da instituição; uma bateria formada exclusivamente por mulheres enaltece a cultura afro-brasileira, além de destacar o protagonismo delas no mundo. 

Sobre Católicas pelo Direito de Decidir – Brasil

Católicas pelo Direito de Decidir é uma organização social brasileira fundada no Dia Internacional da Mulher de 1993. O grupo composto por católicas feministas há 26 anos luta pelos direitos sexuais e direitos reprodutivos das meninas e mulheres no Brasil; sempre apoiadas na prática da teologia feminista para promover mudanças sociais, especialmente nos padrões culturais e religiosos. Há outras Católicas pelo Direito de decidir na América Latina, Estados Unidos e Europa.

“Diante da influência histórica da religião na sociedade, percebeu a necessidade de refletir como as religiões se relacionam com outras formas de dominação como o patriarcado e o racismo, contribuindo para a construção de narrativas que tentam justificar e legitimar opressões e violências, principalmente em relação às mulheres”, conta a coordenadora-executiva da organização, Denise Mascarenha. “É necessário indagar sobre o que é posto como ‘natural’ ou incontestável, mesmo em instituições milenares, porque questionar é democrático: onde há dúvida, há liberdade.”

Confira também a segunda temporada do podcast CatoLaicas, que, ao longo de cinco episódios conduzidos por Letícia Rocha, mestre em ciências da religião e integrante da organização feminista, convidados e convidadas refletem sobre como o racismo se manifesta nas tradições e práticas religiosas no Brasil.

A Católicas Pelo Direito de Decidir estão nas redes sociais pelos links: Facebook, Instagram , Twitter, YouTube e Spotify.

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