Série em podcast narra a história de Alyne Pimentel, vítima de negligência médica
O terceiro e último episódio do podcast “Caso Alyne Pimentel: 20 anos”, lançado em 4 de abril, tem como foco os avanços e retrocessos relacionados à justiça reprodutiva no Brasil, após a condenação do Estado brasileiro pelo Comitê da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, o Comitê Cedaw. O podcast está disponível nas plataformas digitais, como Spotify.
Vinte anos após a morte de Alyne Pimentel e de seu bebê, vítimas de negligência médica, o cenário relacionado à mortalidade materna no Brasil segue sendo preocupante. No ano da morte de Alyne, 2002, dados do Ministério da Saúde apontam que a taxa de mortalidade materna no Brasil era de 68,9 óbitos maternos por 100 mil nascidos vivos. Em 2018, o número passou para 59,1 óbitos a cada 100 mil nascidos vivos.
Outro estudo, lançado pela Fundação Abrinq, indica que em 2020, no auge da pandemia da Covid-19, foi registrado o maior aumento no número de mortalidade materna dos últimos 10 anos. Foram 67,9 mortes a cada 100 mil nascidos vivos. Em 2019, o número era de 55,3 mortes nessas situações, segundo a Fundação.
No episódio do podcast é possível conhecer também a história de Rafaela Cristina Souza dos Santos, de 15 anos, que ficou cinco horas na maternidade aguardando atendimento médico. A jovem morreu logo após a cesariana tardia. Também, a história de Juliana Delabary, de 16 anos, que, apesar de relatar sentir muitas dores, recebeu alta logo após o parto e não resistiu a uma má formação congênita, morrendo três dias depois. São duas histórias que ilustram o cenário da falta de acesso aos direitos reprodutivos e da vida plena no Brasil.
Em entrevista ao podcast, Emanuelle Góes, enfermeira e doutora em saúde pública, aponta que segundo a Organição Mundial da Saúde (OMS), 90% das mortes maternas são evitáveis. “Para que o Brasil de fato alcance o que é solicitado no Objetivo para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) na meta de redução da morte materna, precisamos fazer mudanças na atenção, no cuidado, e com a lente de enfrentamento ao racismo e à violência obstétrica”, coloca.
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O podcast também demonstra como em Belford Roxo, cidade em que Alyne vivia e faleceu, a situação também não mudou, através do relato de Débora Silva, moradora da cidade, professora e idealizadora do projeto Sensor do Meio.
“Primeiro nós não temos uma maternidade no município, nós temos convênios, que tem as cotas de atendimento. Então, a maioria das mulheres precisa sair da cidade. Se não me engano, apenas 40% das mulheres de Belford Roxo conseguem atendimento aqui”, fala em um trecho do relato.
Também participam do terceiro e último episódio do podcast, Lucia Xavier, ativista de Direitos Humanos das Mulheres Negras e coordenadora da ONG Criola, Juliana Cesário Alvim, professora de direitos humanos da UFMG, Anielle Franco, diretora do Instituto Marielle Franco e Sandra Valongueiro, médica e pesquisadora da pós-graduação de saúde coletiva da UFPE.
Série Caso Alyne Pimentel: 20 anos
A história de Alyne da Silva Pimentel Teixeira, uma mulher jovem, negra, moradora de Belford Roxo (Rio de Janeiro), vítima de negligência médica, é contada em uma série de três episódios, disponibilizados semanalmente nas plataformas digitais.
O primeiro episódio narra a saga de Alyne Pimentel, grávida de seis meses, em busca de atendimento médico, até a sua morte em 16 de novembro de 2002, às 19 horas, 5 dias após sua primeira ida ao hospital com dores e náuseas.
O segundo episódio trata sobre o processo que denunciou o Estado brasileiro ao Comitê da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher, o Comitê CEDAW e resultou na primeira condenação internacional do Brasil.
Ficha técnica
O podcast “Caso Alyne Pimentel: 20 anos” é uma realização do Portal Catarinas, Coletivo Feminista de Sexualidade e Saúde (CFSS), Coletivo Margarida Alves (CMA), com o apoio do Cladem Brasil (Comitê Latino-americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher). A produção é parte de uma estratégia nacional por justiça reprodutiva formada por 15 organizações.
Produção e coordenação: Paula Guimarães.
Pesquisa: Letícia Vella.
Transcrições: Cassilda Teixeira.
Entrevistas: Viviane Nascimento.
Roteiro e locução: Anna Carla Ferreira.
Edição: Douglas Vieira da Criar Brasil.
Apoio: Rubia Abs da Cruz.