Integrante da Frente Única pela Política do Cuidado, Anne Caroline Jerônimo, 42 anos, é candidata ao cargo de vereadora em Biguaçu (SC) pelo Partido Socialismo e Liberdade (Psol). É mulher branca, cisgênero e heterossexual. Anne apoiou mulheres em situação de vulnerabilidade durante a pandemia de Covid-19 e é integrante do Coletivo “MãEstudantes” da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Anne é a décima primeira candidata a responder ao questionário proposto pelo Catarinas para divulgar as candidaturas comprometidas com a agenda política feminista, antirracista, LGBT inclusiva e anticapacitista no estado em Santa Catarina. As entrevistas são publicadas diariamente por ordem de chegada. Dado o volume de respostas recebidas, vamos publicar mais de uma entrevista em determinados dias.
O questionário foi dividido em cinco eixos temáticos, abordando questões centrais para a análise das candidaturas:
- Perfil
- Apoio e financiamento
- Propostas
- Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários
- Violência política e desinformação
Acompanhe a entrevista com Anne
Perfil
Resuma sua trajetória de vida/militância e o que a motivou a disputar estas eleições.
Fui conselheira municipal de saúde e dos direitos da pessoa idosa, militei no movimento “ele não” e fui diretora sindical por dois mandatos. Também militei em um grupo de trabalho organizado pelo 8M durante a pandemia de Covid-19 para mulheres em situação de vulnerabilidade.
Estou no coletivo “MãEstudantes” da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). As motivações são muitas: mudar o cenário municipal conservador, levar as pautas de lutas para dialogar com a população, ocupando esse espaço no período de política institucional e, para além dele, organizar uma representatividade que faça a diferença e debata a luta das mulheres da classe trabalhadora, que é atacada constantemente pela retirada de direitos.
Quais personalidades políticas são suas referências?
Primeiro lugar minha mãe, uma mulher de luta que hoje não está mais entre nós, mas foi a minha maior inspiração de resistência. A Marielle Franco, a deputada Luiza Erundina, Erika Hilton, entre outras.
Apoio e financiamento
Você tem conseguido verba para a campanha? Quais?
Sim: apoio e recursos do partido.
Você enfrenta desafios para arrecadar os recursos necessários para sua campanha? Se sim, quais são os principais?
Sim. A verba do fundo partidário é muito pouca para dar conta de toda a campanha, isso tem sido minha maior dificuldade e gerando muitas frustrações.
Qual é a importância do financiamento coletivo para a viabilidade de sua candidatura?
Essencial para se manter na luta, pois tudo se resume no dinheiro.
Propostas
Quais são os principais temas a serem debatidos no município e suas propostas para cada um?
Política do cuidado, quem cuida de quem cuida, organizar esse debate entre poder público e população, fomentando o assunto para as políticas públicas como propostas que contemplem as pessoas responsáveis pelo cuidado que majoritariamente são as mulheres.
Quem forma sua base eleitoral? Quais são suas mensagens centrais? E seu slogan de campanha?
Coletivo Frente única pela política do cuidado. O slogan é “quem cuida de quem cuida?”.
Tem propostas para promover a igualdade de gênero, LGBTQIA+ e racial no âmbito municipal? Se sim, quais?
Sim. Educação popular pelo direito a educação transformadora pública popular e antirracista.
Você tem propostas relacionadas à política do cuidado? Se sim, quais?
Sim. Política do cuidado e suporte integral à maternidade e aos cuidadores. O PL 2762/24 cria a política de cuidados para garantir o direito ao cuidado e promover a responsabilidade social e de gênero na prestação desses serviços levando em conta raça, classe e gênero.
Leia mais
Moradia digna para todos, lutar pela criação e ampliação de programas de moradias populares contemplando principalmente as mães solos. Para mulheres em situação de violência doméstica, criar garantias de empregabilidade, constituição de renda e prioridade nas vagas integrais nos núcleos de educação infantil.
Criação de restaurante popular e lavanderias públicas. Espaços de acessibilidade nos equipamentos. Espaços recreativos para crianças nos equipamentos públicos, com acompanhamento de monitores capacitados e concursados.
Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários
Como pretende enfrentar discursos reacionários que comprometem a equidade de gênero e racial, especialmente na educação?
Cumprimento da lei 13.935/2019, com foco nos debates antirracista e na valorização da cultura afrobrasileira, cumprimento da Lei de Inclusão 13.146/2015 e revisão e inclusão curricular das leis 10.639/03 e 11.645/08, além de promover o ensino de direitos humanos.
Como avalia a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas municipais?
Muito pouco fomento de participação popular / controle da gestão nos conselhos de direitos/ falta de comprometimento do poder público no controle social.
Sua plataforma propõe formas de ampliar a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas? Se sim, como?
Sim. Criação de coletivo de mães que atuem em centros comunitários, unidades de saúde e escolas defendendo a população territorial, e fortalecer os conselhos municipais de direito.
Qual o papel das minorias políticas na transformação dos serviços de saúde e educação municipais?
As minorias políticas desempenham um papel crucial na transformação dos serviços de saúde e educação municipais, principalmente ao promover a inclusão de perspectivas que muitas vezes são negligenciadas nas políticas públicas. Esse papel se manifesta de várias maneiras:
Representatividade e advocacia: minorias políticas, ao ocuparem espaços institucionais como conselhos de saúde, educação e direitos sociais, garantem que as demandas de grupos historicamente marginalizados, como mulheres, negros, LGBTQIA+, pessoas com deficiência e outras, sejam ouvidas. Essa representação ajuda a criar políticas públicas mais justas e inclusivas.
Crítica e pressão social: a atuação dessas minorias desafia as estruturas tradicionais de poder que perpetuam a exclusão e a desigualdade. Movimentos sociais organizados por minorias políticas, como coletivos feministas, antirracistas ou de mães estudantes, pressionam por mudanças nas prioridades orçamentárias e na implementação de políticas de saúde e educação que sejam mais acessíveis e equitativas.
Promoção da interseccionalidade nas políticas públicas: minorias políticas trazem uma visão interseccional para o planejamento e implementação de políticas públicas. Isso significa que, ao pensar em saúde e educação, essas políticas passam a considerar a sobreposição de várias formas de opressão, como gênero, raça, classe e orientação sexual. Isso resulta em serviços mais adequados às necessidades diversas da população.
Participação em conselhos e fóruns de controle social: a presença de minorias políticas em conselhos municipais de saúde e educação, como no Sistema único de Saúde (SUS), garante o controle social, fundamental para que as políticas públicas sejam direcionadas para o combate às desigualdades. Elas defendem a universalidade e integralidade dos serviços e fiscalizam a aplicação de recursos e o cumprimento dos direitos.
Inovação nas práticas e na gestão pública: grupos minoritários podem introduzir novas formas de gestão e atendimento que desafiam práticas convencionais e, muitas vezes, excludentes. Um exemplo é a criação de políticas específicas de acolhimento para populações vulneráveis, como o cuidado especializado para mulheres vítimas de violência ou a criação de espaços educacionais mais inclusivos para estudantes, mães ou pessoas com deficiência.
No conjunto, o papel das minorias políticas é essencial para assegurar que os serviços de saúde e educação municipais sejam mais inclusivos, acessíveis e sensíveis às demandas diversas da população, contribuindo assim para a justiça social e a equidade no acesso a esses direitos.
Violência política e desinformação
Já sofreu ataques, incluindo intimidação, durante a sua trajetória devido à sua agenda política? Em caso positivo, pode compartilhar algum caso?
Não.
Nesta campanha, sofreu ataques nas redes sociais ou nas ruas? Se sim, quais?
Não.
Sua candidatura tem sido alvo de desinformação? Se sim, como?
Não.
Tem ações específicas para combater a desinformação? Se sim, quais?
Não.