“Cuidado: esta série aborda temas polêmicos como homossexualidade, assédio e empoderamento de mulheres”, diz o enunciado da websérie “Super”, realizada de forma independente por estudantes e recém-formadas da UFSC. Com lançamento previsto para o primeiro semestre do próximo ano, a microssérie trata da trajetória de quatro jovens mulheres que se descobrem com superpoderes e passam a aprender juntas a lidar com essas habilidades especiais. A primeira temporada com sete episódios recebeu recentemente duas indicações no Rio WebFest, festival internacional de webséries, para Melhor Roteiro de Ação, Ficção, Suspense ou Terror e Melhor Atriz de Ação Ficção, Suspense ou Terror com a estreante Giulia Pamina. A entrega do prêmio ocorre no início de dezembro.

A indicação é um estímulo para que a série tenha continuidade, como afirma entusiasmada a diretora e roteirista Lara Koer, estudante de Cinema. Para ela, o empoderamento feminino, que é o pano de fundo da história, teve forte peso para a indicação. “Alguém viu potencial para que a gente continue. Foi uma honra ser indicada ao lado de séries muito boas, com orçamento e qualidade. Queremos transformar em algo maior para alcançar mais mulheres e contribuir para o processo de empoderamento e sororidade”, diz.

É uma produção feminista feita por, sobre e para mulheres. Os superpoderes das personagens são uma analogia ao despertar da consciência feminista e seus questionamentos: como lidar com o empoderamento e contribuir para que outras mulheres também consigam ter essa visão ampliada para além da cultura machista em que vivem? O vínculo forte entre elas pode ativar ainda mais o potencial de seus poderes em alusão à sororidade, que é o sentimento de união e empatia entre mulheres e não julgamento prévio sobre elas.

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Protagonista pode se teletransportar, mas ainda não sabe ao certo como lidar com o superpoder/Foto: divulgação

A ficção é voltada para um público jovem de 13 e 15 anos, mas é bem provável que todas as mulheres se identifiquem. “A série brinca com a ideia de uma menina que descobre um superpoder inusitado e conhece jovens mulheres com outros poderes. Estamos acostumadas a ver esse tipo de narrativa protagonizada por homens. É uma história sobre jovens mulheres que precisam lidar com seus poderes e responsabilidades que eles trazem, assim como aliados e forças contrárias”, explica Lara.

O poder de fazer do cinema um ambiente feminista
A diretora lembra que o mundo audiovisual é majoritariamente ocupado por homens, assim como outros espaços, e diz que a série vem para questionar essa hegemonia masculina na sociedade. A ideia nasceu em um Trabalho de Conclusão de Curso que tinha como ponto de partida abordar uma temática feminista, tendo mulheres como protagonistas na produção de cinema. A amizade que se fortalece na série também aconteceu fora da tela em um processo de construção colaborativo pautado pela tolerância, respeito e liberdade, características comuns ao feminismo.

Lara também se descobriu uma mulher de superpoderes assim como suas personagens. Sua tomada de consciência como feminista aconteceu durante a faculdade, logo depois de quase desistir do curso por não ver mais sentido em fazer cinema. Foi quando o movimento começou a tomar corpo novamente no Brasil em suas primaveras feministas, fortalecido principalmente pelas conexões nas redes sociais. “O feminismo traz um processo rico e acolhedor. Passei a perceber que aquilo tudo fazia muito sentido. Quando me identifiquei como mulher e lésbica, entendi que precisava ocupar o cinema e fazer desse lugar um ambiente feminista”, revela.

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Uma série para despertar nas mulheres o empoderamento e a sororidade/Foto: divulgação

O empoderamento da cineasta e de outras tantas mulheres que se descobriram nessa nova onda feminista é um caminho sem volta. “É um processo sem fim. Fico assustada e penso: será que posso mesmo? E quanto mais segurança temos, mais precisamos provar”, diz ela sobre a forma que a sociedade percebe as mulheres e como elas precisam provar a todo momento que são capazes.

“Super” tem direção de fotografia de Caroline Mariga, direção de arte de Maria Fernanda Bin e produção de Viviane Mayumi. Na trilha sonora, uma música criada especialmente para a série pela jornalista Manuela Tecchio, conhecida pela composição “A louca” que viralizou na Internet pela sátira que faz dos estereótipos machistas.

 

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  • Paula Guimarães

    Paula Guimarães é jornalista e cofundadora do Portal Catarinas. Escreve sobre direitos humanos das meninas e mulheres. É...

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