Não vou falar do mar de bombas que a policia jogou no povo que tentava ficar no gramado, vou falar em solidariedade! Sentimento que só tem quem se preocupa com o outro, quem viaja mais de 30 horas de ônibus pra lutar contra reformas, que às vezes nem lhes afetam diretamente! Esse sentimento moveu 200 mil pessoas até Brasília, que marcharam debaixo de um sol forte e quando “ousaram” se aproximar da “casa do povo”, foram recebidos com um arsenal de bombas que mais parecia um campo minado. Sim, o maior sentimento que eu vivenciei no dia 24 de maio em Brasília, foi solidariedade!
Quantas vezes fui socorrida por pessoas que nunca me viram, mas que eu, sem conseguir enxergar devido ao efeito da bomba de efeito moral, me guiaram no meio da multidão. Quantas vezes vi gente dividindo vinagre, leite magnésio, água, sem nem se conhecerem ou carregando bandeiras de diferentes grupos.
Eles tentaram nos cansar à exaustão, mas por mais desleal que fosse o campo de batalha, por muitas vezes me emocionei ao ver que nosso povo não desistia. Por vezes eu tentava compreender o que levava aquela gente simples, mulheres, homens, que só tinham suas próprias roupas para proteger seu rosto, ir tantas vezes pisar naquele campo minado. Sim, o gramado que fica em frente ao Congresso se tornou um campo minado. Pra onde a gente corria caía uma bomba. Era impossível de se aproximar do carro de som que estava em frente. Entendi que a ordem da polícia era não deixar que os manifestantes se aglomerassem nesse gramado.
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Sem entender muito qual era a nossa estratégia, por vezes eu pensei que era ficar resistindo até que todas as bombas acabassem, mas será que acabariam? Daí veio a notícia que o Temer liberou o uso das Forças Armadas. Juro que achei que fosse exagero de quem falava num dos caminhões, era incompreensível aquilo, eu pensava. Exército? Pra nós que mal conseguiamos correr? Mas entendi que era verdade, quando começamos a recuar. Em marcha, com rostos brancos por causa do uso de leite magnésio, depois de três horas enfrentando aquela cena de guerra, o nosso povo marchou de braços erguidos. A polícia nos acompanhou até onde estavam os ônibus no estádio Mané Garrincha, helicópteros só pararam de sobrevoar a área, quando o último ônibus saiu de Brasília. De coração apertado, com nó na garganta, eu ainda não acreditava no que tinha visto e vivido.
Eu vi que juntos e juntas a gente tem uma força enorme e que assustamos quem tem medo de povo! Sai de Brasília com esperança! Não me interessa o que ta saindo na imprensa, me interessa o que eu vivi e presenciei.
Não me espanta a imprensa nos criminalizar da forma que fez, imagine se os meios de comunicação que tanto querem reformas que retiram direitos e que patrocinaram o golpe no país, se eles mostrariam a vivência linda que foi aquela tarde de quarta-feira?! Jamais, eles não deixariam escapar a narrativa e o povo descobrir a força que tem.
Não tenho dúvida, que escrevemos um novo capítulo na história do país. Um capítulo que ninguém poderá apagar. Dia 24 de maio de 2017, dia em que o covarde do Temer mostrou o seu grande medo do povo. Dia que as gentes desse país provaram a resistência contra um governo corrupto e usurpador. O cenário ta mudando, o povo ta virando esse jogo!
Sílvia Medeiros é jornalista do Portal Catarinas.