Por Gisele Witte

Através de um levantamento feito em 2014, o Brasil registrou um caso de estupro a cada 11 minutos. Os números são do 9º Anuário Brasileiro da Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).Em outra pesquisa realizada no ano passado pelo Datafolha, a pedido do mesmo órgão, em 84 municípios brasileiros com mais de 100 mil pessoas, revelou-se que 67% da população tem medo de ser vítima de agressão sexual. O percentual sobe para 90% entre mulheres. O FBSP também afirma que a subnotificação ainda esconde a maioria dos casos atrás do silêncio, da vergonha, do medo, da ameaça, da impunidade e da descrença.

O crime de estupro é aquele que apresenta a maior taxa de subnotificação do mundo, muitas vezes motivada pela desconfiança na palavra da vítima.

Recentemente o site de notícias PlayGround divulgou em sua página no Facebook um depoimento visceral de uma comissária de bordo da empresa Interjet, no qual ela, em prantos, narra como seu superior hierárquico e capitão a estuprou em uma das escalas da linha áerea.

Tocada e envolvida por razão pessoais, compartilhei o vídeo na minha página pessoal. Fiz questão de anotar com todas as letras que a primeira “arma” do machismo é sempre taxar a mulher de louca quando ela finalmente toma forças para denunciar as violências pelas quais passou. Reprisei o óbvio e disse que os crimes sexuais raramente são feitos na presença de testemunhas ou câmeras, logo a palavra da vítima é essencial.

Alegar insanidade mental para duvidar da palavra da vítima é a primeira cláusula de defesa do estuprador. Nossa sociedade ensina e foi ensinada que a mulher é sempre manipuladora, interesseira, descompensada e louca. É um ser fútil e ardiloso, capaz de acusar falsamente um “homem de bem” para conseguir o que quer. Eu morro de medo dos “homens de bem”. Contra eles nenhuma prova jamais será o suficiente.

Desapontada, mas não surpresa, recebi o seguinte comentário no post: “OK, mas, apenas por suposição e exercício mental…se ela estiver mentindo. (não estou dizendo que está, é possível e provável que tenha ocorrido). Mas se, acaso ela esteja mentindo, o que também pode ocorrer, certo? Como fica a vida do cara neste caso?”.

Não preciso nem dizer que o comentário foi feito por homem, branco, hétero, temente a Deus e devoto da “meritocracia”, não é mesmo? Em pouquíssimas palavras, ele conseguiu corroborar tudo que tentei denunciar na minha publicação: a mulher é desacreditada e relegada sempre que expõe um “homem de bem” por alguma violência (especialmente sexual) que ele tenha cometido. O primeiro instinto dos homens é duvidar, e não acreditar. O primeiro movimento do machista é questionar a fonte, e não lhe dar o devido espaço de fala.

O ato pode até parecer pequeno perto de tantos outros machismos que vivenciamos diariamente, mas é a prova irrefutável que nós, mulheres, não podemos nos calar em hipótese alguma. Não vamos tolerar qualquer gradação de machismo, seja micro ou seja macro.

Não nos calaremos! Somos a revolução!

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