A afirmação que leva o título desse artigo pode parecer surpreendente. Mas, a título de dúvida, reafirmamos. Para espantar mais ainda, deixamos no ar: mulheres com deficiência podem ter uma vida sexual mais ativa que muitas pessoas sem quaisquer limitações físicas ou intelectuais. Homens com deficiência também encaram questionamentos e quebram estereótipos sobre virilidade e masculinidade. Porém, ainda, as mulheres levam o maior fardo da diferença.
Há não muito tempo, desde que tive idade o bastante para responder questionamentos a respeito da minha sexualidade, tive que lidar com algumas perguntas, do tipo: “como é na hora do sexo?” ou “a deficiência atrapalha na cama?”. A curiosidade faz parte de uma cultura muito maior de mistificação sobre as deficiências. No entanto, a crença de que a vida sexual de uma mulher seria prejudicada pela sua deficiência desmascara um preconceito de séculos.
Ao ter uma deficiência, a mulher recebe uma sentença inquebrável. Ela torna-se uma eterna criança, sem margens para as possibilidades viscerais que a vida oferece. Não há sábado à noite, bebedeira com as amigas ou manhãs clássicas de ressaca. Quiçá, há sexo. Para a mulher com deficiência, resta a rotina com a família, tratamentos médicos e raras oportunidades de afazeres.
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Além de todo o preconceito, que limita e repete ciclos que em nada contribuem para uma sociedade melhor, existe o paradigma de que uma deficiência estaciona completamente o tesão de uma pessoa. Há quem diga o contrário. A limitação física pode até ser um impedimento, mas não é tudo e não correspondem às reações de todo o corpo de um indivíduo.
Na sexualidade, há muito para explorar. Corpos cheios de caminhos e possibilidades, que não deixam espaço para o preconceito. Mulheres com deficiência podem até não ter os corpos comuns, mas são completos da sua maneira. Ainda, possuem desejos e vontades, com a mesma necessidade de expressar a sua sexualidade que outros indivíduos.
Ser mulher com deficiência é, especialmente se for congênita, ter seu corpo manipulado desde muito cedo por médicos, fisioterapeutas, cuidadores e familiares. Antes mesmo de aprender sobre consentimento e limites. Mas, no que condiz à sexualidade, não há qualquer comprometimento profissional ou familiar.
Ser mulher com deficiência é ter sua vida sexual invadida por curiosos que acham que mulher com limitações físicas ou intelectuais não tem direitos básicos como relacionamentos e matrimônio, pois não transa ou não tem condições de cuidar dos seus filhos. É preciso dialogar para superar este pensamento.
Todo ser humano é capaz de receber e dar prazer ao outro. Corpos são corpos, independente da embalagem. Basta ter coragem para desembalar, sem receios.