O desfile técnico da escola de samba União da Ilha da Magia virou ato político nesta segunda (27). Na Praça Bento Silvério da Lagoa da Conceição, mesmo local onde na véspera um casal de homens foi agredido, dezenas de pessoas levantaram a bandeira do arco-íris, símbolo do movimento LGBT, em protesto à violência sofrida por Vítor e Leomir. No mesmo dia, outra denúncia de assédio e violência contra lésbicas chegou por meio das redes sociais.

A integrante da ONG Acontece, a ativista Carla Ayres, lembrou que Florianópolis vende a imagem de gay friendly, mas se omite nas políticas de proteção à população LGBT e também às mulheres, já que teria havido pelo menos um caso de assédio contra uma mulher na mesma noite. O casal que sofreu a agressão teria permanecido horas abrigado em um posto de gasolina aguardando a viatura policial, mas só conseguiu atendimento diretamente na 10ª Delegacia de Polícia da Capital.

Do palco da União da Ilha da Magia, na Lagoa da Conceição, após convite da Escola para manifestar-se em nome da comunidade LGBT, Carla Ayres conclamou todos os foliões e foliãs a combaterem e a denunciarem crimes de ódio, motivados pelo preconceito e cometidos quando o/a criminoso/a seleciona intencionalmente a sua vítima pelo fato dela pertencer a um certo grupo. “Eu peço a todos vocês que se presenciarem casos de violência contra a mulher, racismo, transfobia, homofobia, lesbofobia, que ajudem. As nossas vidas valem tanto quanto a de qualquer pessoa”, disse a ativista.
Segundo Vitor, a manifestação e a solidariedade do movimento ajuda a superar o trauma.
“Foi bonito, muitas pessoas foram se solidarizar e nos abraçar. Não foi fácil ir até lá de novo. por que é traumatizante. Mas não podemos deixar o medo nos vencer”.
Para Carla, o ato deve servir de alerta para as autoridades. “O poder público, segurança pública, turismo, precisam atentar para o fato de que a homofobia existe e é preciso ter meios de coibí-la”.

Outra denúncia de assédio e violência contra lésbicas foi relatada pela própria vítima no Facebook. A estudante V. conta que ela e as amigas foram perseguidas por um homem, identificado como Bruno Souza. “Ele nos chamou de ‘sapatão’ e ao tentar empurrar uma delas, eu estendi o meu braço direito em sua defesa. Foi quando ele desferiu um soco em meu rosto”, relatou.

Mais uma vez, houve dificuldades no atendimento policial. “Ligamos para a Polícia Militar, e mesmo após longos minutos de espera nenhuma viatura foi enviada. Não havia nenhum policial disponível da Delegacia da Polícia Civil, e nos deslocamos para o Hospital Celso Ramos, onde nos foi negado atestado de lesão corporal sem apresentar Boletim de Ocorrência. Mesmo com muito sangramento e com risco de fraturas faciais, retornamos à delegacia, e após mais minutos de espera fomos atendidas e o registro foi feito”, escreveu estudante.

Ao portal Catarinas, V. contou que já havia foi alvo de preconceito verbal e que vários de seus amigos gays e amigas lésbicas também já sofreram agressões. “Ano passado uma amiga muito próxima foi presa em manifestação e sofreu ameaças dos policiais com estupro corretivo, por ser lésbica e seguir os estereótipos sociais. No ano retrasado um amigo gay foi agredido no réveillon. Em 2016, um casal de amigos sofreu homofobia no Ticen”, listou a estudante, que contou que teve informação de que outros dois amigos também sofreram agressão neste carnaval.
Eu sempre tive insegurança e medo, mas é aquela coisa, a gente sempre acha que nunca vai acontecer com a gente” 
A Polícia Militar foi contatada por telefone e e-mail para se posicionar sobre o caso mas não respondeu até a tarde desta terça.

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