Apresentações culturais e participação de representantes de movimentos sociais marcam o evento de lançamento que ocorre nas redes do Levante nacional e da ação em SC, neste sábado (24), às 16h.

“Ele sempre bateu nela. Eu dizia para ela vir morar comigo, mas ele dizia que se ela viesse, ele me mataria também”, revelou Maria Arlete Tenfen, mãe de Ariane Tenfen Mendes, 21 anos, assassinada pelo ex-companheiro Altair Gonçalves, de 35 anos, em Águas Frias, oeste catarinense. Ela é uma das 57 catarinenses mortas em 2020. Índices tão altos colocam a região entre os estados mais feminicidas do Brasil durante a pandemia

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Frente suprapartidária que nasce para se posicionar diante dessa violência fatal, denunciando a omissão do Estado e exigindo a proteção da vida das mulheres cis e trans, o Levante Feminista contra o Feminicídio continua em ação nacional, com a campanha Nem Pense em Me Matar, e em fase de lançamentos regionais.

Em Santa Catarina, mulheres de diversas frentes de movimentos sociais vão participar da transmissão online que marca o lançamento da campanha, neste sábado (24), às 16h. O evento vai ser transmitido nas páginas do levante em SC e da Campanha Nacional.

Imagem: cartazes de divulgação

Apoiada na ideia “Quem Mata uma mulher mata a humanidade!”, a campanha nacional foi lançada em 25 de março em uma live com participação de brasileiras das cinco regiões que destacaram trechos do manifesto, que já conquistou 60 mil assinaturas. É um grito de advertência aos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário para que sejam tomadas medidas que interrompam a matança de mulheres no país.

“É uma campanha construída com muito amor e necessidade profunda de defendermos umas às outras, neste cenário de fascismo que é uma estrutura machista e racista”, afirmou Marcia Tiburi durante o lançamento.

Durante o evento nacional ocorreu a exibição do clipe “Corpo Meu”, samba composto por Cris Pereira e interpretado pela sambista Fabiana Cozza especialmente para a campanha. Nasceu dessa canção a mensagem afirmativa do movimento. “Queremos difundir e ser parte da campanha do Brasil. É fundamental denunciar o aumento do feminicídio que acontece no país, mas também o aumento das violências racistas, machistas e racistas denunciadas como genocídio”, afirmou Verônica Gago do Ni Una Menos da Argentina, convidada para o evento.

A composição das convidadas para o evento de lançamento em Santa Catarina levou em conta a busca por maior representatividade das mulheres que vivem o estado, principalmente aquelas cujas lutas demandam maior visibilidade, como explica Cirene Candido, uma das organizadoras da ação em SC.

“Nós trabalhamos com o critério de representatividade para o lançamento e isso deve seguir durante toda a ação. Ainda estamos fazendo o levantamento para que haja manifestação de todos os povos indígenas catarinenses, de quilombolas, mulheres trans e outras especificidades. É o lançamento, mas as mulheres já assumiram o compromisso de que a ação se estenda em uma programação maior, construída pelos movimentos sociais, seguindo a linha do levante nacional”, informa a ativista.

Além de mulheres que travam a luta em território catarinense, também haverá a presença de Vilma Reis – socióloga, integrante do Mulheres Negras e doutoranda em Estudos Étnicos e Africanos no PosAfro-UFBA – e de Marcia Tiburi – professora de filosofia, escritora e artista visual.

Participam ainda da transmissão ao vivo a deputada Luciane Carminatti (PT), a mulher mais votada da história da Alesc; Rosely de Fátima Oliveira, enfermeira aposentada, quilombola de invernado dos Negros, integrante do Coletivo Mulheres Negras Petistas; Mariana Franco, conselheira Nacional no Ministério dos Direitos Humanos, integrante da União Brasileira de Mulheres (UBM) e da União Nacional LGBT; Justina Cima, do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC-SC); Daniela Cardoso de Oliveira, psicóloga, pesquisadora e ativista pela inclusão das pessoas com deficiência; Ellen Caroline Pereira, assistente social, integrante do Coletivo de Negras e Negros do Judiciário/SC, e Jozileia Kaingang, mulher indígena Kaingang, covereadora pela Coletiva Bem Viver Floripa.

Duo eu e ela, composto por Noemi Carvalho, cantora e compositora, e Cris Mello, percussionista e compositor, estão na programação do lançamento/Foto: divulgação

Outras participações com a proposta de apresentação artístico-cultural ocorrem por meio de envio de gravações em vídeo, como é o caso de Dona Nadir, mulher pescadora da praia de Ganchos, de Governador Celso Ramos; do Duo eu e ela, composto por Noemi Carvalho, cantora e compositora, e Cris Mello, percussionista e compositor; a cantora e compositora Juliana D Passos e a banda neotropicália Orquidália. Juliana D Passos e o Duo eu e ela têm em comum a expressão que recorre à força da ancestralidade para denunciar o racismo e outras formas de opressão social.

Somente durante a pandemia em 2020 (março a dezembro), 49 mulheres foram vítimas de feminicídio em Santa Catarina, de acordo com o monitoramento “Um vírus e duas guerras”, realizado pelo Portal Catarinas junto às mídias Amazônia Real, AzMina, #Colabora, Eco Nordeste, Marco Zero Conteúdo e Ponte. De 1 janeiro a 31 de março, 8 mulheres morreram por feminicídio no estado, de acordo com o Boletim Mensal de Indicadores da Segurança Pública de Santa Catarina.

O Levante Feminista contra o Feminicídio

A articulação para criar o Levante Feminista Contra o Feminicídio foi iniciada por Vilma Reis, socióloga, referência dos movimentos negros no país e integrante da Coalizão Negra Por Direitos, Marcia Tiburi, filósofa, escritora e artista, e Tania Palma, pesquisadora e assistente social. A frente, que rapidamente ganhou corpo, é formada por cerca de 200 feministas. Entre elas, estão mulheres negras, indígenas, quilombolas, ribeirinhas, das águas, das florestas, das favelas antiproibicionistas, dos movimentos LBTQIA+ e de outros segmentos das organizações populares e da sociedade civil.

No Manifesto, escrito de forma coletiva, a frente pontua de forma contundente que a existência de uma “cultura de ódio” direcionada às mulheres brasileiras precisa chegar ao fim, e que a prática do crime de feminicídio “nunca esteve tão ostensiva e extremista” quanto agora, no governo de Jair Bolsonaro. O documento afirma que atitudes misóginas transformaram-se em comportamento aceito e legitimado pela sociedade, contaminando o Executivo, o Legislativo e o Judiciário.

Também denuncia a negligência e inoperância do Estado Brasileiro no enfrentamento à violência contra as mulheres e traça o perfil dos matadores: “são homens que não admitem a autonomia, a igualdade e a liberdade das mulheres. São machistas, violentos que querem a redomesticação e o afastamento das mulheres da vida pública…”; “usam a violência física, psicológica, moral, sexual e patrimonial contra mulheres e seus filhos até o extremo, que é o ato do feminicídio”.

Lançamento campanha #NemPenseEmMeMatar SC
Data: 24 de abril
Horário: 16h (horário de Brasília)
Transmissão: Página do Facebook do Levante Feminista SC

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